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Brasil

Mais de 4 mil empresas prometem não demitir durante crise do coronavírus

Ainda que o abaixo-assinado, publicado há dez dias, não tenha valor jurídico, apenas simbólico, a expectativa dos organizadores é salvar até 2 milhões de empregos

Redação Jornal de Brasília

14/04/2020 8h03

Mais de 4 mil empresários assinaram até esta segunda-feira, 13, um manifesto em que se comprometem a não cortar funcionários por ao menos dois meses, apesar dos reflexos da pandemia da covid-19 na economia. Ainda que o abaixo-assinado, publicado há dez dias, não tenha valor jurídico, apenas simbólico, a expectativa dos organizadores é salvar até 2 milhões de empregos.

Criado no último dia 3, por iniciativa da Ânima Educação, o site naodemita.com conta com assinaturas de empresas de grande porte, como as varejistas Magazine Luiza e GPA (das redes Pão de Açúcar e Extra), os bancos Santander e Itaú Unibanco e fabricantes de cosméticos, como Natura e Boticário.

Os empresários tentam estimular empresas de todos os portes a fazer parte do movimento, em que se comprometem a não cortar pessoal ao menos por dois meses. Quando a ideia surgiu, 40 empresas se interessaram por lançar a iniciativa.

O documento tem valor simbólico, não jurídico. “Mas é como uma corrente positiva. A empresa se compromete a manter os funcionários. Quem assinar e descumprir, corre o risco de ser exposto nas redes sociais pelos próprios funcionários. Mas a intenção de todos é positiva”, conta o presidente do conselho da Ânima Educação, Daniel Castanho, que lançou o projeto.

“Escrevi um manifesto, mas o número de empresas que se interessaram foi tão além das expectativas, que acabou virando um movimento”, conta Castanho. “A ideia era provocar outras empresas. A responsabilidade do empresário agora é fazer com que o impacto na economia seja o menor possível.”

No início do mês, o Santander divulgou estudo prevendo que o pior momento da crise econômica provocada pelo novo coronavírus deve acontecer no fim do segundo trimestre.

O banco é um dos que assinam o manifesto. “Em 23 de março anunciamos nosso compromisso público de não demitir funcionários durante o período crítico da pandemia. Na semana anterior, já havíamos divulgado a decisão de antecipar todo o 13.º de nossos funcionários para pagamento em 30 de abril”, conta Vanessa Lobato, vice-presidente de Recursos Humanos do banco no Brasil.

O movimento também ocorre na contramão de empresários como Junior Durski, dono da rede de restaurantes Madero, que divulgou logo no início das medidas de isolamento social que cortaria mais de 600 funcionários por causa da perda de faturamento causada pela pandemia da covid-19.

O executivo da Ânima, que tem mais de 8 mil colaboradores, lembra que, além do compromisso social, as empresas que aderirem ao “Não Demita” devem ser recompensadas pelo consumidor quando a crise passar e que a relação com os funcionários também será melhor.

Empresa muda para não demitir
A crise causada pela pandemia terá impacto profundo na atividade econômica do País. Um relatório divulgado no último domingo pelo Banco Mundial apontava que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil deve cair 5% este ano, o pior resultado em 120 anos.

O cenário adia projetos e faz com que as empresas brasileiras lancem mão do caixa para evitar o corte de funcionários.

Segundo Castanho, da Ânima, é preciso reforçar que as medidas de isolamento social, recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) são importantes, mas que a crise será superada e as empresas devem rever a estrutura de custos, ver as medidas anunciadas pelo governo que podem auxiliar e abrir mão dos resultados deste trimestre, para evitar demitir.

“Da mesma forma que é impossível ter um isolamento de 100% e vários serviços precisam continuar, nem todo mundo vai poder deixar de demitir. Mas quem pode manter empregos deve honrar tanto o compromisso que tem com as pessoas que trabalham na sua empresa quanto o que já havia sido acordado com fornecedores, para não ter demissão indireta.”

No caso da calçadista Bibi Calçados, as últimas semanas têm sido de faturamento quase zero. Ainda assim, a empresa reviu custos de produção, abriu mão de projetos que havia desenhado no início do ano e assinou o manifesto para não demitir seus mais de 1,2 mil funcionários durante a pandemia.

“A partir desta semana, parte dos funcionários em férias coletivas vão ter jornada reduzida e uma parte, contrato de trabalho suspenso. Estamos usando esse reforço, previsto pelo governo agora, e prorrogação de impostos também. A intenção é evitar ao máximo demitir”, diz Andrea Kohlrausch, presidente da fabricante gaúcha.

Com 900 funcionários, a Cultura Inglesa adotou o trabalho remoto e as licenças remuneradas durante a quarentena. “Adequamos nosso modelo de ensino ao cenário atual, mudando as aulas presenciais para o formato ao vivo pela internet, sem alterar horários e nem professores”, conta Marcos Noll Barboza, presidente da escola.

Estadão Conteúdo

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