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Brasil

Informações falsas alimentam o pânico a respeito do novo coronavírus

“Vi uma informação que aconselhava o uso de secador para desinfectar o rosto e as mãos. Ou beber água quente a 60 graus para não ficar doente”, diz médica

Redação Jornal de Brasília

30/01/2020 10h45

Uma enxurrada de informações falsas sobre a epidemia de pneumonia viral que afeta a China se propaga nas redes sociais a alimenta o pânico da população, como o vídeo de uma pessoa comendo um morcego ou balanços equivocados de vítimas fatais.

Em Hong Kong, Phoebe, uma médica de 40 anos, afirma estar consternada com as mensagens recebidas nos últimos dias no grupo formado por sua família no Whatsapp.

“Vi uma informação que aconselhava o uso de secador para desinfectar o rosto e as mãos. Ou beber água quente a 60 graus para não ficar doente”, conta à AFP a profissional da área da saúde, que prefere não revelar o sobrenome.

Como médica, ela sabe naturalmente que nenhum destes procedimentos é eficaz e que podem inclusive ser perigosos, o que a levou a alertar os parentes.

Mas quantas mensagens deste tipo são espalhadas atualmente na internet ou em aplicativos de mensagem?

Desde o anúncio, no início de janeiro, do surgimento do novo coronavírus na cidade chinesa de Wuhan, as falsas informações invadiram a rede.

Cristina Tardáguila, do Poynter Institute, afirma que mais de 50 organizações que realizam “fact-checking” em 3 países registraram “três ondas” de informações falsas.

“Uma sobre as origens do vírus, outra sobre uma falsa patente de medicamentos e uma terceira sobre a forma de prevenir ou curar”, explica à AFP.

– Estereótipos racistas –

Os jornalistas responsáveis pelo “fact-check” na AFP detectaram várias informações falsas.

Uma delas, que circulou no Sri Lanka, afirmava que os 11 milhões de habitantes de Wuhan iriam morrer.

Outra alegava que vários produtos alimentícios e localidades australianas seriam contaminados pelo novo coronavírus ou que uma solução salina permite evitar o contágio.

Algumas informações alimentam preconceitos sobre hábitos alimentares ou propagam estereótipos racistas.

Um vídeo, que viralizou, mostra uma mulher comendo um morcego com hashi.

As imagens, reproduzidas por alguns tabloides ocidentais, pretendem demonstrar que o apetite de alguns chineses por animais exóticos está na origem da crise.

O vídeo, na realidade, foi feito em 2016 no arquipélago de Palau por um blogueiro.

Embora a tradição culinária chinesa utilize vários ingredientes ignorados ou desprezados em outros países, e a venda de animais em mercados seja considerada preocupante, o morcego não é consumido com muita frequência.

Na Austrália, que tem uma importante comunidade chinesa, as informações falsas se multiplicam.

Na segunda-feira, um deputado de Brisbane advertiu seus eleitores contra um comunicado de imprensa falso no qual supostamente o ministério da Saúde alertaria a população contra os riscos de frequentar bairros com forte concentração de pessoas de origem chinesa.

“Ter falsas informações divulgadas por cretinos racistas cria um sentimento de medo e incerteza”, disse o deputado à AFP.

– Balanços fantasiosos –

Na internet, os sites de extrema-direita se apoderaram da epidemia.

Uma das primeiras informações falsas divulgadas foi a existência de uma vacina contra o novo coronavírus que teria sido patenteada em 2015.

Na verdade, a patente era sobre um coronavírus detectado entre aves.

Hal Turner, apresentador de uma rádio de extrema-direita acusada de apoiar supremacistas brancos, publicou um artigo na internet em que afirmava que 112.000 pessoas já morreram na China e que 2,8 milhões foram colocadas em quarentena.

As manchetes dos sites sensacionalistas e a histórica desconfiança a respeito do governo chinês facilitam a propagação de boatos, afirma o sociólogo neozelandês Robert Bartholomew.

“Para muitas pessoas, as principais fontes de informação são as redes ou mídias sociais conhecidos por veicular informações não verificadas”, completa.

Para as autoridades da área da saúde, o fluxo incessante de falsas informações complica o trabalho.

“Em Taiwan, as pessoas começam a ligar para os hospitais ou agências governamentais com muitas perguntas, o que mobiliza preciosos recursos humanos”, afirma Kevin Hsueh, diretor do hospital Cardinal Tien em Taipé.

Agence France-Presse

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