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Brasil

Indústria automotiva: elétrico não é novidade no DF

Primeiro carro convertido para andar com bateria no Brasil foi homologado em Brasília

Redação Jornal de Brasília

09/11/2020 6h00

Cezar Camilo
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Em 2008, o coronel da reserva Elifas Gurgel viajou à Carolina do Norte, nos Estados Unidos, para participar de um curso de transformação de veículos. Foi o único brasileiro em um grupo de nove pessoas. Todos com a intenção de aprender como converter um carro movido à combustão de combustível fóssil em um veículo alimentado por energia elétrica.

Elifas voltou ao Brasil decidido a converter seu próprio automóvel. Importou peças para a empreitada e escolheu o modelo de automóvel mais adaptável às alterações mecânicas que pretendia realizar. Em 2009, com a ajuda de dois amigos e uma bateria de lítio fosfato com 180 ampere por hora, Elifas completou a montagem do seu primeiro veículo elétrico.

“A minha ideia era que isso pudesse se tornar um negócio”, comenta Elifas Gurgel em entrevista ao Jornal de Brasília. “Eu mexo com eletrônica desde muito cedo, eu construí meu primeiro rádio com 7 anos de idade”, disse.

“No Brasil, não há registro mais antigo que o meu: carro homologado pelo Departamento Nacional de Trânsito, com documentação emitida como veículo elétrico transformado”, comenta Gurgel.

Segundo o reservista de 66 anos, oriundo da artilharia da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), o preço das baterias ainda é muito alto. Um dos principais motivos que dificultam a difusão dos veículos à base de eletricidade no Brasil.

Situação melhorou

Mas, para o presidente da Associação Brasileira dos Veículos Elétricos Inovadores (ABRAVEi), Rogério Markiewicz, a situação melhorou nos últimos anos. No domingo (1), a associação realizou no Parque Tecnológico de São José dos Campos (SP), o 2º Encontro de Mobilidade Elétrica ABRAVEi, que reuniu 63 carros vindos de vários pontos do país e promoveu mais de 300 test drives. “Há três anos, tínhamos somente uma marca que vendia carros movidos a bateria no Brasil. Hoje, são 12 montadoras que fornecem veículos elétricos aos consumidores brasileiros”, disse Markiewicz ao JBr.

Porém, as vendas continuam baixas. A estimativa da associação aponta que a frota de carros movidos somente à eletricidade equivale a 0,01% do contingente de veículos com queima somente de gasolina.

Em todo o Brasil, são mais 957 mil automóveis alimentados eletricamente, comparados a 47 milhões de carros com combustão fóssil.

“Estamos engatinhando”, definiu o presidente da Abravei. “O lado bom é que podemos começar certo, é um trabalho de formiguinha”, completou.

Políticas públicas

Para o arquiteto Rogério Markiewicz, o fomento da indústria de carros elétricos é uma questão de políticas públicas.

“Mobilidade elétrica também é metrô, ônibus, caminhões de entrega e de coleta de lixo, motoristas de aplicativos, é questão também de saúde pública”, disse Rogério.

Economia a médio prazo e outras facilidades

O motorista Thiago Garcia, de São Paulo, optou por um carro elétrico para exercer sua atividade. Ele explicou ao Jornal de Brasília que uma das principais vantagens é que, por ser elétrico, o veículo escapa das restrições do rodízio que é apenas para automóveis poluentes. “Os horários de rush são os melhores para trabalhar, de 7h às 10h e das 17h até as 20h”, disse Thiago. Outra característica que pesou na escolha do motorista foi o valor da manutenção. Thiago avalia a economia monetária e também no tempo gasto para eventuais consertos do veículo. “A partir de então, começou a fazer cada vez mais sentido”, observou o condutor.

Em 2019, ele encomendou o carro escolhido na concessionária selecionada. Desde o dia 24 de outubro do ano passado até outubro de 2020, Thiago andou 18 mil quilômetros – considerando o fluxo menor devido à pandemia da covid-19. “Eu tive uma economia de R$ 7 mil reais em combustível se eu comparasse a um veículo similar”, disse Thiago.

Sem tranco

Os clientes do motorista elogiam o carro. Dificilmente percebem que se trata de um carro elétrico. “Quando eu entro no assunto, eles ficam completamente interessados. Depois de algum tempo, quando notam a falta de trancos na troca de marcha, a direção mais macia, eles comentam algo”, observou o piloto.

Um carregador ligado em uma tomada com voltagem em 220, para um veículo elétrico com bateria de 40 quilowatts, como é o caso do carro do Thiago, demora 20 horas para carregar totalmente.

“Geralmente quando a pessoa vai abastecer o carro, ela enche o tanque. O carro elétrico não funciona assim, dificilmente alguém vai precisar fazer uma carga de 100%”, comenta o motorista paulista.Para Thiago, a mudança parece ter vindo definitivamente para ficar.

Saiba Mais

O vice-presidente da Associação Brasileira dos Veículos Elétricos Inovadores (ABRAVEi), Rodrigo de Almeida, costuma viajar de São Paulo a Brasília com o seu veículo totalmente a base de eletricidade – pouco mais de mil quilômetros entre as duas cidades. “Meus pais moram em São Paulo, minha filha em Brasília, é um grande desafio sim, mas eu faço 533 quilômetros com uma carga só”, disse ele.

O presidente da Abravei, Rogério Markiewicz, analisa que Brasília está virando protagonista na mobilidade elétrica. O arquiteto cita um decreto válido para o Distrito Federal que serviu de exemplo a outras capitais.

“Segundo o código de obras de 2018, é obrigatório ter uma vaga reservada para carros elétricos dentro de um complexo de 200 lotes estacionários, a reserva deve ser equipada com carregadores rápidos”, disse Rogério Markiewicz.

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