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Brasil

Fundo Nordea exclui investimento na JBS e avalia ligação de empresas com desmate

As negociações envolviam o risco de desmatamento na cadeia de suprimentos, governança corporativa e medidas contra corrupção, além de saúde e segurança dos funcionários em relação à Covid-19, disse Eric Pedersen

Redação Jornal de Brasília

29/07/2020 17h15

Foto: Agência Brasil

Ana Carolina Amaral e Ana Estela de Sousa Pinto
São Paulo, SP e Bruxelas, Bélgica

“Você não pode apenas possuir ações de uma empresa sem saber como eles fazem negócios. Isso está ficando fora de moda”, disse à reportagem Eric Pedersen, diretor de investimentos responsáveis da Nordea Asset Management.

A gestora de investimentos escandinava excluiu investimentos na empresa brasileira JBS de todos os seus fundos neste mês. A decisão foi tomada pelo Comitê de Investimentos Responsáveis.

As negociações envolviam o risco de desmatamento na cadeia de suprimentos, governança corporativa e medidas contra corrupção, além de saúde e segurança dos funcionários em relação à Covid-19, disse Eric Pedersen, diretor de investimentos responsáveis da Nordea.

“Após um período de negociações com a empresa, não sentimos que estávamos vendo a resposta que procurávamos. Não vimos interesse em dialogar e a falta de controle sobre a Covid-19 [entre funcionários da JBS] alcançou um ponto extremo”, explicou.

Em nota, a JBS respondeu que “não comenta decisões de investidores, mas lamenta não ter sido recentemente procurada pelo referido fundo”. A empresa também afirmou que segue rigorosa política de controle de compra matéria-prima e que implantou robusto protocolo para segurança dos colaboradores em relação à Covid-19.

O executivo disse que os fundos especificamente focados em ESG (ambiente, ação social e governança, na sigla em inglês) já evitavam empresas “com esse tipo de exposição”, mas a empresa resolver excluir a JBS também dos outros investimentos “para que a base de clientes mais ampla possa permanecer confortável com o nível de risco de sustentabilidade em seus investimentos”.

“Também estamos avaliando outras empresas ligadas a desmatamento na Amazônia, como a Cargill. Em outras regiões, também estamos cortando investimentos em carvão, por conta do risco climático”, afirmou.

Os fundos voltados especificamente a empresas com ESG reconhecidas são hoje 30% dos 220 bilhões de euros (cerca de R$ 1,3 trilhão) aplicados pela Nordea, e a tendência é que essa participação aumente, segundo Pedersen.

“Este movimento não é só nosso. É um movimento de muitos outros investidores. Nós vamos ter que avaliar melhor, em mais detalhes, cada empresa em que investimos”, explica Pedersen.

A gestora foi uma das que enviaram em junho carta a embaixadas brasileiras pedindo providências contra o desmatamento e ameaças a terras indígenas. O fundo também participou de reunião com o vice-presidente Hamilton Mourão no início de julho.

As ações da Nordea sobre a dívida soberana brasileira seguem em quarentena desde o último agosto, quando a crise das queimadas na Amazônia gerou ameaças de bloqueios econômicos na Europa.

“Continuamos em quarentena em relação aos fundos da dívida soberana brasileira. Não vamos comprar mais, mas ainda não decidimos vender e banir o investimento. Começamos um processo de diálogo com o governo e isso vai depender de como a situação evolui”, afirma Pedersen, que preferiu não adiantar quais condições vão determinar a decisão sobre o futuro desse investimento, mas reforçou que o monitoramento sobre o desmate da Amazônia foi uma das condições apresentadas a Mourão.

As informações são da FolhaPress

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