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Brasil

Fiocruz diz que pandemia no interior alcança a dos centros urbanos e pode aumentar com festas

Com isso, a pandemia de Covid-19 passa a apresentar curvas de crescimento similares no interior e nos centros urbanos, incluindo as capitais, do país

Redação Jornal de Brasília

09/12/2020 18h28

An analyst at Fiocruz laboratory, a public health research institute, in Rio de Janeiro holds a sample of mucus to be tested for COVID-19, on March 11, 2020. – The World Health Organisation (WHO) declared the Coronavirus a pandemic with 118,000 cases in about 120 countries, and 4000 deaths. (Photo by CARL DE SOUZA / AFP)

Ana Bottallo

A Fiocruz afirmou nesta terça-feira (8) que o processo de interiorização da pandemia de Covid-19 se completou e fez um alerta para a chamada sincronização de duas epidemias: a das regiões metropolitanas e a do interior.

Com isso, a pandemia de Covid-19 passa a apresentar curvas de crescimento similares no interior e nos centros urbanos, incluindo as capitais, do país.

A preocupação é ainda maior considerando os riscos de aglomerações nas festas de fim de ano, o que pode ocasionar um aumento de casos, principalmente nas populações mais vulneráveis, como os idosos ou portadores de comorbidades, e deve pressionar ainda mais as UTIs, tanto das capitais quanto do interior.

Os dados foram coletados do sistema Sivep-Gripe, do Ministério da Saúde, que reúne notificações de internações e óbitos por SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave), com a última atualização do dia 18 de novembro.

Segundo o levantamento da Fiocruz, a Covid-19 teve evoluções diferentes no país. No Norte, Nordeste e Sudeste, a evolução do coronavírus se deu das capitais em direção ao interior, como já demonstrado em um estudo publicado no final de julho na revista Science.

Já nas regiões Centro-Oeste e Sul, a curva de crescimento de casos e óbitos, tanto das regiões metropolitanas quanto do interior, não diferiram muito desde o início da pandemia.

O problema é a falta de leitos de UTI no interior, o que faz com que muitos pacientes tenham que se deslocar para as capitais para conseguir atendimento hospitalar. Nos primeiros meses, com a epidemia bem acelerada nas capitais, houve um pico de casos e óbitos.

Agora, como a doença já se espalhou praticamente por todos os municípios do país, com a sincronização das duas curvas e sem os hospitais de campanha e leitos adicionais criados para a Covid-19, a situação pode ser ainda mais grave.

Para Diego Xavier, pesquisador do Laboratório de Informação em Saúde da Fiocruz e um dos autores da nota, o comportamento observado no início da pandemia, com a ocupação de quase 100% dos leitos de UTI nas principais capitais, é um cenário provável se não forem tomadas as medidas de distanciamento e proteção adequadas agora.

“A verificação do aumento de casos no início de dezembro está relacionada a uma maior mobilidade das pessoas no período das eleições, mesmo com uma parcela significativa de abstenção, possivelmente dos idosos e grupos de risco. O que estamos chamando a atenção é que, no Natal, são esses idosos e esses grupos de risco que se cuidaram até agora que vão se expor ao se encontrar com os familiares”, afirma.

A implicação das festas de fim de ano é que os municípios dependem, praticamente, da mesma rede de atenção. “O interior não tem muitos leitos de UTI. Ele precisa das regiões metropolitanas para atender aos casos graves. Um aumento mesmo que pequeno, mas sincronizado em vários municípios ao mesmo tempo, vai pressionar essa rede.”

“Se no início da pandemia existia essa diferenciação espacial e temporal, agora que a doença já atinge todos os municípios do país provavelmente ocorrerá um aumento concomitante de casos e óbitos, o que conflagra a grave dependência da população aos leitos disponíveis simultaneamente para as regiões metropolitanas e o interior”, diz a nota.

No país, apenas 117 dos 5.570 municípios estão em regiões metropolitanas, onde vive um terço de toda a população. Enquanto as grandes cidades começavam a ter um respiro no sistema de saúde devido à desaceleração da pandemia, as UTIs devem voltar a ser pressionadas, pois muitos pacientes vêm do interior para se internar nas capitais.

Até 31 de maio, cerca de 67% dos óbitos de Covid-19 no país foram registrados em regiões metropolitanas. A partir de junho, no entanto, teve início um processo de interiorização da pandemia, ao passo que já em julho as duas curvas, do interior e região metropolitana, se aproximaram, com tendência de queda no número de óbitos.

No final de outubro, as regiões metropolitanas respondiam por 33% dos óbitos, invertendo o padrão observado no início da pandemia. Por outro lado, nos municípios do interior, que abrigam dois terços da população, a escassez de leitos e a distância dos grandes centros foram fatores que impactaram o sistema de saúde, possivelmente levando a um número expressivo de mortes fora de leitos hospitalares.

Uma das regiões mais impactadas foi a Norte, onde o número de mortes fora de UTIs foi bem maior do que dentro delas (56% contra 34%). Segundo dados do Painel Covid-19, do Ministério da Saúde, até terça-feira (8) o país acumula 6.674.999 casos e 178.159 óbitos, sendo 3.757.932 casos no interior e 2.917.607 nas regiões metropolitanas. Do total de óbitos, 74.373 foram registrados no interior e 103.786 nas regiões metropolitanas.

Xavier explica ainda que não se trata apenas do aumento de casos graves. “O caso grave e óbito é o ponto final. Ele decorre de primeiro um aumento de casos leves e assintomáticos, devido a maior mobilidade das pessoas contaminadas, até chegar, cerca de duas semanas depois, à notificação no Sivep-Gripe. Agora o que temos é isso: uma situação onde não temos mais leitos extras, hospitais de campanha, com as equipes médicas extremamente exaustas, a população também cansada e se expondo mais, e as festas de final de ano.”

A nota da Fiocruz faz um apelo: a redução do fluxo de pessoas entre municípios e o distanciamento social são as ferramentas mais eficazes para evitar que se repita o cenário crítico pelo qual o país já passou. Nesse sentido, se posiciona contra as festas de final de ano com aglomerações.

“Esse tem sido um ano extremamente difícil para todos e as festas de fim de ano podem, ao invés de trazer algum conforto emocional, tornar ainda mais difícil o fim desse ano e o início de 2021. Nesse sentido, não é recomendável festas com aglomerações de pessoas; caso ocorram, devem conter um número mínimo de pessoas e o auto-isolamento deve ser realizado tanto antes quanto depois do retorno de viagens. Os cuidados quanto aos deslocamentos devem ser redobrados, já que com a ocupação dos leitos para tratamento de Covid-19, outros agravos de saúde podem não dispor de atendimento em UTIs”, finaliza.

As informações são da Folhapress

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