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Brasil

Estudante diz ter sofrido racismo por usar máscara de proteção contra coronavírus

Carlos Paulo Falcão chegou a tentar registrar o ocorrido como injúria racial, mas a denúncia foi cancelada pela Polícia Civil

Redação Jornal de Brasília

10/04/2020 8h01

Um estudante negro de 21 anos diz ter sido abordado com gritos na tarde de quarta (8), numa unidade das Lojas Americanas de São Gonçalo, cidade da região metropolitana do Rio, por estar vestindo capuz e máscara de proteção por causa da pandemia de coronavírus.

Aluno do curso de relações internacionais da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Carlos Paulo Falcão chegou a tentar registrar o ocorrido como injúria racial, mas a denúncia foi cancelada pela delegacia de polícia.

O estudante conta que foi até a loja para fazer compras usando moletom com capuz, uma durag (bandana) e uma máscara para se proteger contra o contágio da Covid-19. Um vigilante o abordou, dizendo que era proibido o uso de capuz no estabelecimento. Após perguntar qual lei proibia a utilização da peça, outro segurança entrou no local e, segundo Falcão, gritou para que tirasse o capuz. “Eu acho que essa abordagem seria diferente se eu fosse um cliente branco”, afirma o estudante.

De acordo com a lei estadual nº 6.717, de 2014, a utilização de qualquer tipo de cobertura que oculte a face é proibida em estabelecimentos comerciais. O texto diz que bonés, capuzes e gorros não se enquadram na proibição, desde que não escondam o rosto.

Após sair da loja constrangido, o jovem fez um registro de ocorrência, mas um e-mail enviado pelo 72º Departamento de Polícia, algumas horas depois, informou que o registro havia sido cancelado, com a justificativa de que “não é fato policial”.

Esclarecimentos

Procurada pela reportagem, a Polícia Civil do Rio disse que aguardava informações da unidade para esclarecer o motivo do cancelamento da ocorrência.

Em nota, a Lojas Americanas afirma que a conduta foi baseada nessa lei estadual nº 6.717, de 2014. “A gerência da loja informou que o rapaz estava com máscara protetora do coronavírus e um casaco com capuz, ou seja, com o rosto e a cabeça coberta. O segurança da loja solicitou, na entrada da loja, que ele retirasse o capuz com base na lei 6.717/14, ele se recusou e entrou na loja. O segurança do shopping onde está localizada a loja 5228, em Alcântara, RJ, entrou na unidade e pediu, novamente, que ele retirasse o capuz ou saísse da loja. A companhia não pratica e coíbe qualquer tipo de discriminação contra etnias dentro de suas lojas”, diz o comunicado.

Falcão, que relatou o caso em seu perfil em uma rede social, diz acreditar que a situação se deveu mais à máscara do que ao capuz.

“Em tempos de coronavírus, a máscara para preto é um problema sério. Os seguranças querem ver a cara da gente, para onde estamos indo e o que estamos comprando”, afirma.

 

Folhapress

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