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Brasil

‘Estou pegando minha dor e ajudando outras pessoas’, diz advogada agredida por piloto

Arquivo Geral

18/01/2019 19h06

Reprodução

Ana Lúcia Ferreira
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Há cerca de um mês, o rosto da advogada Luciana Sinzimbra, 26 anos, de Anápolis (GO), se tornou conhecido internacionalmente. O motivo da repercussão foi a agressão sofrida pelo ex-namorado, o piloto Victor Augusto do Amaral Junqueira, dois anos mais novo. Todo o registro da violência ocorrida na madrugada do dia 15 de dezembro de 2018, no apartamento onde a jovem mora em Goiânia, foi filmada e viralizou na internet.

Na última segunda-feira (14), Luciana voltou a trabalhar no escritório onde atua como advogada na capital goiana. Dias antes de retomar a rotina, a jovem, ainda em casa, conversou com o Jornal de Brasília e relembrou os momentos que fizeram com que ela entrasse para a estatística de violência doméstica no Brasil. Para a advogada, esse é um problema cultural que ainda precisa ser bastante discutido.

“A violência doméstica é uma violência principalmente psicológica. E a pessoa, a mulher, ao mesmo tempo em que ela quer que o agressor seja punido, ela tem sentimento por ele. Então, é muito difícil ela processar tudo isso no prazo de um dia, que é o prazo mais rápido para ela fazer o registro de uma ocorrência. É complicadíssimo”,  afirmou a advogada.

Luciana foi agredida pelo ex-companheiro com socos e tapas, em cima de uma cama. O motivo da covardia ainda não está claro para a jovem. Tudo teve início após uma discussão, motivada por ciúmes, depois de uma confraternização entre amigos. Segundo Luciana, o suporte recebido por amigos e familiares foi essencial para a decisão de denunciar o caso.

“É um dia muito pesado para a pessoa. Ir ao IML é muito desgastante para a mulher. Porque ela já passa por todo o relato do acontecido e ainda precisa atravessar a cidade para ir ao Instituto e receber um laudo… A mulher fica muito desamparada, isso eu vi claramente. Só passando para entender o que de verdade se passa”, desabafou.

Namoro 

Luciana e Victor ficaram juntos por 3 anos. O namoro passou por alguns términos, mas segundo a advogada, durante todo o período, não houve registro de agressão física.

“Nosso namoro em si teve muitos momentos muitos bons. Não era um namoro totalmente abusivo, de não me deixar sair com minhas amigas, de ter amizade com homem, de não deixar postar foto, de reclamar de roupa. Nunca teve isso. Mas ele era ciumento e nós tivemos diversas discussões por ciúmes”, disse.

Recomeço

Luciana conta que precisou aprender a lidar com tudo o que aconteceu em um curto prazo de tempo. A jovem, que teve as imagens da agressão sofrida compartilhadas sem o seu consentimento, revelou, em entrevista, que a atitude do colega responsável pelo vazamento fez com que o sofrimento aumentasse.

“Eu tive que aprender a lidar em uma semana. Decidi ficar quieta. Só que comecei a ver pessoas veiculando notícias falsas, gente dizendo que eu gostava de apanhar, que estava com ele há três anos apanhando, que eu estava protegendo ele. Tudo isso foi me magoando muito e, se eu não me posicionasse, as pessoas iriam falar o que bem entendessem. Então, além de vítima, eu estava sendo julgada”, lamentou.

Ao mesmo tempo que recebeu críticas, a advogada revelou que também foi procurada por muitas mulheres que passaram por situação semelhante. Hoje, mais fortalecida, Luciana decidiu tomar a frente da situação e pretende iniciar um projeto para trabalhar a causa.

“Isso tem que ser falado, isso tem que ser mostrado e trabalhado mesmo. Vou dar minha cara à tapa e isso tudo se transformará em algo bom. E foi isso que eu fiz. Liberei meu Instagram e estou lá tentando ajudar”.

Sinzimbra enfatiza que as pessoas precisam compreender que falta de respeito já é uma abertura para a violência, e que infelizmente a questão ainda é vista com olhares “pouco humanizados”.

“É cultural. Nós vivemos em um machismo exacerbado. Essa cultura de que a mulher é um objeto, ela é uma posse ou é reduzida “àquilo”, tem que acabar. Quando você xinga a sua mulher, diminui a sua mulher ou não sabe elogiá-la, você começa a colocar defeito nela, isso é uma violência psicológica. Os homens não conseguem aprender porque estão inseridos na nossa cultura e é algo que precisa ser trabalhado. E é o que estou tentando fazer. Estou pegando a minha dor e fazendo uma forma nova de lidar com ela. Pegando a minha dor e ajudando outras pessoas porque essas pessoas vão ajudar a me curar”, completa.

O outro lado

Procurado pela reportagem, o advogado de Victor Junqueira disse que só vai se manifestar no processo judicial.

Relembre o caso

Victor Junqueira, filho do ex-prefeito de Anápolis, Eurípedes Junqueira, foi filmado agredindo a ex-namorada, Luciana Sinzimbra. As imagens começaram a circular nas redes sociais no dia 24 de dezembro de 2018 e causou revolta nos internautas. A violência ocorreu na madrugada do dia 15.

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No vídeo, o piloto de 24 anos aparece desferindo socos e tapas contra a advogada, de 26. Ele não aceitava o fim da relação. “Você acha justo chegar e me bater?”, pergunta Luciana. “Super injusto, saca? Mas pelo menos acabou”, rebate Victor antes de iniciar a agressão.

A advogada registrou boletim de ocorrência e o caso é investigado pela Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam). O agressor apagou o perfil em todas as redes sociais e não chegou a ser preso. Para a polícia, a medida não se faz necessária, uma vez que não houve flagrante e não há elementos para representar por uma prisão preventiva.

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