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Brasil

Discriminada por desembargadora, professora com Down diz que falta muito para inclusão

Arquivo Geral

25/03/2018 12h04

Foto: Myke Sena

Jéssica Antunes
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“É preciso ser guerreira”, garante Débora Seabra, primeira professora com síndrome de Down do Brasil. Ela participa da 4ª CaminhaDown que, neste domingo (25), reúne 1,3 mil pessoas, segundo os organizadores, no Parque da Cidade Sarah Kubitschek. Com ares de celebridade, a docente que recentemente foi alvo de comentários discriminatórios da desembargadora Marília Castro Neves, do Rio de Janeiro, teve pessoas disputando por foto, abraço e palavras de afirmação. Para Débora, há muito caminho pela frente para enfrentar o preconceito.

Trocar cinco minutos de palavras com a professora é um desafio. Cercada por admiradores, ela teve dificuldade até de discursar no palco do evento organizado por associações que tratam da síndrome. “Temos que comemorar as conquistas das pessoas com down. E já foram muitas: direito a estudar em escola regular, direito de trabalhar, namorar, casar e formar uma família, de participar da sociedade. Mas ainda temos muito caminho pela frente para fazer inclusão com I maiúsculo”, disse a mulher de 36 anos.

A professora foi alvo de comentários discriminatórios da desembargadora Marília Castro Neves, do Rio de Janeiro, na semana passada. Em uma postagem feita na internet, ela questionou o que professores com síndrome de Down podem ensinar a alguém. A resposta de Débora também veio por meio das redes sociais. Em uma carta escrita a mão, disse que ensina muitas coisas às crianças: “a principal é que elas sejam educadas, tenham respeito pelas outras, aceitem as diferenças de cada uma, ajudem a quem precisa mais”.

Debora se formou pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e atua como professora auxiliar há 13 anos em uma escola particular em Natal, capital do Rio Grande do Norte. Em 2015, ela foi considerada uma das três personalidades de destaque na educação do país e recebeu o Prêmio Darcy Ribeiro de Educação, menção honrosa concedida anualmente pela Comissão de Educação da Câmara dos Deputados do Distrito Federal (CLDF).

Margarida Seabra, mãe da professora, também discursou. “Tenho muito orgulho dela porque faz sua própria defesa. Ao longo da vida sofreu muito preconceito, mas virou o jogo e no último ano da escola foi eleita rainha do São João”, comemora. Para ela, a fala da desembargadora não feriu apenas Débora. “Discriminou a síndrome. Foi agressão a todos”, acredita.

CaminhaDown

É a quarta vez que a CaminhaDown toma o Distrito Federal com objetivo de dar visibilidade às pessoas que nasceram com a trissomia. O evento conta com a participação dos grupos Tumba La Catumba e Batunkenjé, que se apresentam com instrumentos musicais e palhaçaria, além da dupla Léo e Lupa, que conduzem uma vivência musical, com ciranda e percussão.

Também há pintura de rosto, brinquedoteca para as crianças pequenas e feira de troca de brinquedos e livros infantis. Tudo de graça. Presidente da Associação DFDown, uma das entidades responsáveis pela caminhada, Cléo Bohn aponta a importância da inclusão das crianças no ambiente escolar. “Um estudo da Universidade de Harvard em parceria com o Instituto Alana mostra que alunos que convivem desde a fase escolar com diferenças e diversidade se tornam profissionais mais preparados na fase adulta”, explica.

Funcionária pública de 48 anos, Juliana Soares Santos tem um filho de 13 anos com Down e é uma das organizadoras do evento. De acordo com ela, tem melhorado o discurso da sociedade em relação à síndrome, mas políticas públicas ainda são necessárias. “Há muito preconceito muito mais por parte dos adultos que das crianças. A grande questão da inclusão é aceitação de todos. Temos também que mudar espaços físicos para que todos possam ter acesso. Acessibilidade não é só colocar rampas”, afirma.

Na Educação, conforme a lei, todas as instituições públicas e privadas devem realizar inclusão de estudantes. “Acontece, como aconteceu comigo, de deixar a criança largada. Na escola pública o sistema de acolhimento é melhor, mas às vezes ainda muito engessado”, considera Juliana.

Júlio Gregório, secretário de Educação, compareceu ao evento. Ao Jornal de Brasília ele disse que “todas as crianças com deficiência merecem atenção no âmbito escolar”. “Nós temos evoluindo, ainda que com capacidade abaixo do desejado”, analisa. Para ele, a participação da família, sobretudo nessas situações, é fundamental. Hoje, diz, há alunos com a síndrome trabalhando em bibliotecas.

Também fazem parte da organização a Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down, o Instituto Ápice Down, a Rede Solidária de Apoio Inclusivo (RESAI), a Associação de Pais, Amigos e Pessoas com Deficiência, e o Diário da Inclusão.

Cromossomo 21

O Dia Internacional da Síndrome de Down é celebrado em 21 de março. Isso porque a Síndrome de Down é uma alteração genética no cromossomo 21, que deve ser formado por um par, mas no caso das pessoas com a síndrome aparece com três exemplares e, portanto, não se trata de uma doença.

A data é comemorada ao redor do mundo desde 2006, quando foi oficializada pelas Nações Unidas com o objetivo de dar e visibilidade, promover a inclusão e a igualdade. Neste ano, o tema é a contribuição das pessoas com a trissomia para a sociedade e o atendimento à saúde, determinante nas vidas dessas pessoas. No ano passado, a CaminhaDown reuniu mais de 700 pessoas.

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