Criado no laboratório de vírus respiratórios e do sarampo da Fiocruz, um novo protocolo de sequenciamento do material genético do Sars-Cov-2 permite alcançar resultados mais precisos e mais rapidamente. Por meio do processo de sequenciamento de genoma é possível rastrear o percurso do contágio do vírus, possibilitando a identificação da origem da contaminação.
O protocolo foi concluído na segunda-feira pela pesquisadora Paola Cristina Resende, e começou a ser desenvolvido enquanto realizava estudos na University College London, na Inglaterra.
Diferentemente dos métodos já existentes, que utilizam fragmentos curtos do material genético do coronavírus, o método desenvolvido na Fiocruz utiliza fragmentos longos. A utilização desses fragmentos longos apresenta menor sujeição a falhas, de acordo com a pesquisadora. “A vantagem desse protocolo é que ele permite sequenciar em um tempo de execução mais curto e a gente consegue visualizar a análise em tempo real”, explica Paola.
Os resultados desse método ficam prontos de 24h a 48h após a extração, mas o pesquisador consegue acompanhar o sequenciamento desde cedo, analisando o quanto antes partes do genoma do vírus.
As informações obtidas com o sequenciamento permitem acompanhar a evolução do vírus ao longo do tempo e, assim, rastrear a origem do contágio. Com isso, as autoridades de saúde conseguem tomar medidas mais eficientes para conter a disseminação do covid-19. “Podemos saber como está sendo a reprodução do vírus no país. Podemos saber como que, em uma cidade em que não havia surto, passou-se a ter. Conseguimos saber também quando é que começa a transmissão comunitária em uma determinada área”, explica Paola.
O sequenciamento também influencia na tomada de decisões em locais onde o vírus já tenha sido eliminado, afirma a pesquisadora. “Em situações em que conseguimos eliminar o vírus em uma determinada localidade e começam a reaparecer alguns casos, podemos identificar que tipo de caso é aquele para saber se ele é importado ou não, e que tipos de ações podem ser tomadas para conter o seu fluxo”.
O novo protocolo já trouxe resultados reveladores ainda durante o seu desenvolvimento. As pesquisas realizadas no processo que levou à sua criação permitiram identificar semelhanças das cepas do vírus no Brasil com as identificadas na América do Norte, Oceania e Europa, indicando que o vírus entrou no país por múltiplos locais.
Saiba Mais
Em nota enviada ao Ministério Público, a Fiocruz afirma que agora não é o momento certo para flexibilizar o isolamento social no Rio. Começou ontem o plano de reabertura apresentado pelo prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), enquanto o governador Wilson Witzel (PSC) ainda discute como será feita a retomada.
A nota técnica foi formulada a pedido do MP, que acompanha as ações de enfrentamento à covid-19. No texto da Fiocruz, os especialistas destacam que a capital e outros municípios da região metropolitana ainda apresentam dados acima do esperado e com tendência de alta. Neste cenário, dizem, flexibilizar as medidas de distanciamento em municípios com situação mais crítica coloca em risco não só eles próprios, “mas também o seu entorno, tanto pela facilitação da difusão do vírus em direção de interior, quanto pela produção de uma demanda extra de serviços de saúde, que recairão sobre as grandes cidades”.