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Brasil

Cidades esperam avanços tecnológicos e descentralização da Justiça após virarem metrópoles

O país ganhou três novas metrópoles e viu outras 32 cidades receberem o título de capitais regionais em 12 estados, segundo o estudo

Redação Jornal de Brasília

09/07/2020 13h23

Marcelo Toledo
Ribeirão Preto, SP

Após o IBGE publicar um estudo que aponta novas metrópoles no país, prefeituras das cidades com a nova classificação já esperam aumento de investimentos em setores como saneamento, além de avanço tecnológico e até mesmo a descentralização da Justiça.

O país ganhou três novas metrópoles e viu outras 32 cidades receberem o título de capitais regionais em 12 estados, segundo o estudo Regic (Regiões de Influência das Cidades), feito pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e que mostrou o avanço na rede urbana brasileira entre 2008 e 2018.

As novas metrópoles são Campinas -primeira não capital-, Florianópolis e Vitória. Elas se somam a São Paulo, que ocupa o topo da hierarquia como grande metrópole nacional, Rio e Brasília, consideradas metrópoles nacionais, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Salvador, Manaus, Belém, Fortaleza, Recife e Goiânia.

O estudo é importante para a definição de políticas de acesso a serviços públicos e, para o setor privado, para planejar, por exemplo, a localização de filiais de empresas ou criar uma regionalização de vendas conforme as zonas de influência de cada cidade, disse o geógrafo Marcelo Mota, coordenador da pesquisa.

“A realidade evoluiu e o IBGE captou isso. Metrópole é uma cidade que tem capacidade de articulação muito grande no território. Todas as atividades de empresas, órgãos públicos, ONGs, indivíduos, associações, enfim, toda a constelação de entes que existe numa cidade e tem ligação de longa distância com outras.”

Foram analisados gestão do território, comércio e serviços, instituições financeiras, ensino superior, saúde, informação, cultura e esporte, transporte, atividades agropecuárias e ligações internacionais para se chegar ao resultado do estudo.

Campinas foi alçada à condição, conforme o IBGE, devido ao seu dinamismo empresarial e ao porte demográfico, por influenciar uma rede com mais de 4 milhões de habitantes.

A classificação como metrópole fará com que a prefeitura envie ao TJ (Tribunal de Justiça) um pedido para ser instalado na cidade um braço do tribunal de segunda instância. “Só temos segunda instância em São Paulo. Seria natural essa descentralização e seria natural começar por Campinas”, afirmou o prefeito Jonas Donizette (PSB).

De acordo com ele, a cidade pode se beneficiar também com programas de habitação e saneamento do governo federal. “A gente passa a fazer parte do rol de cidades consideradas para isso. Muitos dos programas começam pelas metrópoles.”

Já em Florianópolis, a projeção que a prefeitura faz é a de que novas oportunidades de investimentos surgirão com a elevação de categoria, especialmente na área tecnológica.

“Florianópolis é uma das menores capitais do país, mas nos últimos anos vem se sobressaindo em virtude de sua qualidade de vida”, disse o secretário de Turismo, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico, Juliano Richter Pires.

Segundo ele, a pandemia evidenciou essa característica, por atrair paulistas e habitantes de centros maiores para a capital catarinense.

“O home office mostrou que é possível associar qualidade de vida com qualidade profissional, e temos um aeroporto entre os melhores do país. É muito fácil trazer a família para morar aqui e vez ou outra ir a São Paulo para o que for preciso.”

O setor tecnológico, que em 2019 viu o ISS (Imposto Sobre Serviços) superar pela primeira vez a arrecadação do turismo, é uma aposta para o desenvolvimento da capital. “O volume de empresas de tecnologia traz qualificação muito forte às pessoas que vêm morar aqui.”

Segundo Mota, para órgãos públicos o estudo auxilia ainda na decisão sobre onde abrir agências ou, se for o caso, onde fechar.

As novas metrópoles já surgem subindo posições no ranking. Vitória, por exemplo, está à frente de metrópoles mais antigas, como Goiânia, Belém e Manaus, em centralidade de gestão de território, enquanto Campinas supera Manaus.

Além das divisas São Paulo tem uma rede de influência que concentrava 49 milhões de habitantes em 2018 e mais de R$ 2 trilhões anuais de PIB (Produto Interno Bruto), o equivalente a 23,6% da população e 33,3% da renda total do país, conforme o estudo do IBGE.

Ou seja, a influência direta de São Paulo ultrapassa o próprio estado, atingindo Mato Grosso do Sul, parte do norte do Paraná e parte do sul de Minas Gerais e do Triângulo Mineiro –onde divide influência com Belo Horizonte.

O estudo mostrou ainda como se dá a rede que interliga o país. Para as agora 15 metrópoles convergem 97 capitais regionais, 352 centros sub-regionais, 398 centros de zona e 4.037 centros locais. Das 15 metrópoles, 5 estão no Sudeste. Já os centros de zona e locais são em maior quantidade no Nordeste.

Campo As capitais regionais são definidas como centros urbanos que têm alta concentração de atividades de gestão, mas com alcance menor que as metrópoles.

O estudo mostrou avanço de Mato Grosso nesse ponto. O estado só tinha Cuiabá como capital regional e agora passou a ter também Rondonópolis e Sinop na lista.

Em Goiás, Anápolis também foi elevada à categoria de capital regional, enquanto em Rondônia Cacoal e Ji-Paraná subiram de classificação. Em comum, são regiões ligadas à dinâmica do agronegócio.

O secretário de Desenvolvimento Econômico de Mato Grosso, César Miranda, disse que o estudo do IBGE consolida Rondonópolis como a mais importante cidade do interior do estado e que a soja e o gado bovino foram os principais pontos que geraram o avanço da cidade, seguidos por cana, milho e algodão.

Ainda conforme ele, a cidade é um grande centro logístico, devido à confluência de duas rodovias federais, e é um polo de assistência técnica para a produção agropecuária.

Por Rondonópolis passa boa parte da produção de soja do Centro-Oeste, escoada pelo terminal ferroviário, mas isso não é suficiente para o prefeito José Carlos Junqueira de Araújo (SD).

“Rondonópolis perde muito com isso, porque o governo federal criou a Lei Kandir, no governo FHC, que não tributa a soja para exportação. E a soja garante o superavit da balança comercial para o país. O Brasil ganha, e nós perdemos. As commodities não são interessantes para nós. O correto é agregar valor à produção, é industrializar.”

A cidade tem duas grandes indústrias de óleo de soja. “Mato Grosso continua como o Brasil 500 anos atrás, resolvendo problema da monocultura da produção. Lá atrás era a cana, hoje é a soja”, disse.

Ele afirmou, porém, que a cidade foi forçada a se se desenvolver devido à sua localização e que isso a elevou de categoria. “Eu não tenho o privilégio de cidades de São Paulo que ficam próximas umas das outras. A estrutura que tenho talvez seja maior que muitas cidades grandes de São Paulo, pois tenho de cuidar das pessoas estando 220 quilômetros distante da capital. Se eu não cuidar, ninguém vai cuidar. Se não tivesse a estrutura que tem, como socorreria a região? É necessidade.”

De maneira geral, as cidades progrediram ou se mantiveram estacionadas na classificação, mas 3% dos municípios brasileiros foram rebaixados de categoria.

É o caso de Campina Grande (PB), que segue como capital regional, mas agora na classificação C (antes era B).

“Muitos municípios que buscavam serviços em Campina Grande passaram a ter Patos como referência. Com isso, ela perdeu área de influência”, disse o geógrafo do IBGE.

As informações são da FolhaPress

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