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Brasil

Ao contrário do que disse Russomanno, não há relação entre falta de banho e resistência ao coronavírus

Especialistas afirmam, no entanto, que a declaração do candidato apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não tem nenhum embasamento científico

Redação Jornal de Brasília

14/10/2020 16h27

Carolina Moraes
São Paulo, SP

Em reunião nesta terça-feira (13) na Associação Comercial de São Paulo, o deputado federal Celso Russomanno (Republicanos) sugeriu que a falta de banho deixa pessoas em situação de rua mais resistentes à Covid-19.

“Talvez eles sejam mais resistentes que a gente porque eles convivem o tempo todo nas ruas, não têm como tomar banho todo o dia”, disse o candidato à Prefeitura de São Paulo.

Especialistas afirmam, no entanto, que a declaração do candidato apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não tem nenhum embasamento científico e que a higiene das mãos, assim como o distanciamento social e o uso de máscara, diminui o risco de contaminação pelo coronavírus.

“Quando a gente fala da Covid, ele é [um vírus] todo novo, ninguém tem imunidade. Seja limpo, seja sujo, a hora que essa pessoa for exposta, obviamente, ela vai adoecer e vai ter toda a repercussão da doença”, diz Rosana Richtmann, infectologista do Instituto Emílio Ribas.

“Quem mora na rua acaba tendo uma chance muito maior de se expor a todo tipo de microorganismo –vírus, bactéria, fungo etc. Eles podem até adquirir algum tipo de imunidade frente a outros microorganismos, mas que não tem nada a ver com o coronavírus.”

Rosana explica que populações em situação de vulnerabilidade podem responder pior ao contágio pela doença, já que o sistema imunológico trabalha mais para combater outros microrganismos a que são expostos diariamente.

“A única vantagem que vejo em um morador de rua é o fato de ele viver em ambiente aberto. Quando vemos todos os modelos de prevenção do novo coronavírus, estar em um ambiente aberto, arejado, diminui o risco [de contágio] em comparação ao ambiente fechado, mas isso não tem nada a ver com higiene, com banho.”

Tânia Chaves, infectologista e integrante da Sociedade Brasileira de Infectologia, afirma que não há informações científicas que indiquem essa relação sugerida pelo candidato. “Sabemos que essas populações vulneráveis estão expostas também a outras doenças, inclusive respiratórias.”

Na reunião, Russomanno afirmou que era de se esperar que houvesse mais casos de Covid-19 na periferia e entre moradores de rua, que segundo ele não seguiram o isolamento social.

A pandemia já matou mais de 150 mil brasileiros. Segundo dados da Prefeitura de São Paulo, 300 pessoas em situação de rua receberam diagnóstico de Covid-19 e 30 delas morreram pela doença na capital paulista.

“A única relação entre higiene e o vírus vem da capacidade de higienizar as mãos para matá-lo. Fora isso, ter maior ou menor cuidado, intensidade de qualquer outro hábito de higiene não tem nenhum impacto”, afirma Marcio Sommer Bittencourt, médico do Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica do Hospital Universitário da USP.

Ele também explica que morar na rua “não te dá nenhuma característica física ou imunológica que te torne mais ou menos protegido do vírus”.

Segundo o especialista, pessoas em situação de rua podem ter um risco maior de complicações pelo perfil socioeconômico. “Eles têm um risco maior por não ter acesso a vários serviços de saúde que a população em geral deveria ter.”

Bittencourt cita, por exemplo, uma taxa de vacinação menor entre essa população e a dificuldade de fazer tratamentos de longa duração que exijam acompanhamento e estocagem de medicamentos.

As informações são da FolhaPress

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