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Brasil

80% das pessoas trans mortas por violência no Brasil são pretas e pardas, diz organização

As notícias sobre essa população agrupada sob o T da sigla LGBTI traduzem um destino cruel: o assassinato

Redação Jornal de Brasília

20/11/2020 12h44

Foto: Banco de Imagens

Dhiego Maia
São Paulo

Digite a palavra travesti no Google. Mas, antes de clicar no enter, esteja preparado para o que virá a seguir.

“Corpo de travesti é encontrado sob ponte”; “Travesti é morta a pedradas”; “Corpo de travesti é incendiado”; “Travesti é esquartejada”.

As notícias sobre essa população agrupada sob o T da sigla LGBTI traduzem um destino cruel: o assassinato pelo simples fato de ser uma pessoa trans.

De volta ao Google e numa busca mais refinada, nota-se que as vítimas possuem outro componente comum: a cor da pele.

Neste 20 de novembro, o Brasil reflete as desigualdades ainda impostas à sua população negra —a maioria entre os 210 milhões de brasileiros.

O que falta vir à consciência com mais força é que a maior parte das pessoas trans mortas no país de forma violenta também são negras.

Segundo as entidades de direitos humanos, as mortes violentas contra pessoas T precisam de visibilidade para não terminarem nas pastas do arquivo-morto do Estado.

Quem diz isso é a Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais). Em 2019, a entidade contou 124 assassinatos de pessoas trans pelo Brasil.

Do total de vítimas, 121 eram travestis e mulheres trans e outros 3 foram identificados como homens transgênero.

“No caso das pessoas trans, o gênero feminino é o maior alvo da violência letal, 97,7% dos 121 casos. Destes, 67% dos assassinatos foram cometidos contra prostitutas e 64% dos casos aconteceram na rua”.

A entidade estima que, dos casos identificados, 82% atingiram pessoas pretas e pardas. Em relatório que esmiuça os dados, a organização diz que a questão racial se dá sob diversas formas e em diferentes contextos regionais.

Mas conclui: a população trans negra é a que tem as maiores chances de ser assassinada no Brasil.

Em 2018, segundo a Antra, das 163 pessoas trans assassinadas no país, cerca de 82% também eram pretas e pardas.

A prevalência de negros mortos de forma violenta entre a população T também se acentua neste 2020 marcado pela pandemia de Covid-19.

De janeiro a outubro, diz a Antra, 151 travestis e trans foram assassinadas no Brasil —alta de 22% em relação ao mesmo período de 2019.

A entidade diz que a pandemia aprofundou ainda mais as desigualdades existentes, sobretudo, entre as trabalhadoras do sexo negras. “Pois esse grupo representa a maioria dos casos de assassinatos e está diretamente expostas a diversas formas de violência, negação de acesso a direitos e consequentemente da precarização de suas vidas”, diz trecho de relatório.

Os nós se multiplicam entre os casos pela ineficiência do Estado nas investigações para identificar e prender os envolvidos.

Segundo a Antra, estão atrás das grades apenas 7% dos suspeitos dos 121 assassinatos contra pessoas trans no país em 2019.

Não é o caso do criminoso que matou a travesti Rosinha do Beco, 62, cuja morte ganhou as páginas desta Folha em junho do ano passado.

Rosinha era negra e conhecida pelo humor com que encarava as agruras da vida cumprida sob a lona das feiras livres, função que desempenhou até o último dia.

As informações são da FolhaPress

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