Por Camila Santos
Para o Brasil, as discussões sobre moda tornaram-se inseparavelmente ligadas à realidade ambiental do país. A destruição da Amazônia, as ameaças à biodiversidade e o aumento das emissões industriais tornam o tema da sustentabilidade particularmente urgente. Os designers brasileiros estão respondendo ao adotar cada vez mais materiais ecológicos e técnicas artesanais tradicionais, ao mesmo tempo em que participam ativamente de iniciativas internacionais que estabelecem novos padrões para a economia circular. Essa evolução posiciona a moda como mais do que mera autoexpressão – ela se torna um instrumento poderoso de proteção ambiental e identidade nacional.
Um exemplo notável de iniciativas proativas de sustentabilidade vem das próprias marcas brasileiras. Osklen, líder em moda sustentável na América Latina, há muito utiliza algodão orgânico e couro de peixe, transformando resíduos em recursos. A VEJA cria tênis premium usando borracha amazônica, poliéster reciclado e algodão proveniente de plantações certificadas e sustentáveis, provando que moda esportiva e responsabilidade ecológica podem coexistir com sucesso. Enquanto isso, a Farm Rio, popular marca de roupas conhecida por suas estampas vibrantes, investe ativamente em programas de restauração da Amazônia, mantendo relações colaborativas com comunidades locais. Essas iniciativas demonstram coletivamente que o Brasil está desenvolvendo uma escola distinta de design sustentável, estabelecendo referências para adoção internacional.
Processos transformadores semelhantes estão ocorrendo em todo o Sul Global. Na Índia e na Indonésia, designers estão revitalizando artesanatos tradicionais enquanto implementam sistemas sofisticados de reciclagem de tecidos. Em toda a África, oficinas coletivas que operam sob rígidos princípios de produção ética estão ganhando força. Essas iniciativas comprovam que regiões emergentes agora estão moldando alguns dos modelos mais ousados para um futuro sustentável.
Essa mudança global em direção à sustentabilidade ficou particularmente evidente na Moscow Fashion Week, que foi concluída no início de setembro com temas ambientais em destaque em toda a programação. A marca ODOR cria roupas principalmente a partir de materiais vintage e antigos, adquiridos em brechós e coleções ao redor do mundo, dando a essas peças uma nova vida e caráter único. Pirosmani baseia seu trabalho em princípios de sustentabilidade, usando algodão reciclado e denim em suas coleções, enquanto retalhos de tecido são reaproveitados em novos designs por meio de uma abordagem de desperdício zero. A nova linha BOYARI apresenta peças feitas de materiais reciclados, incluindo plástico, ajudando a fechar o ciclo de consumo e reduzir resíduos. A Alina Vladi Brand Wear utiliza tecidos naturais e promove sustentabilidade e uso responsável de recursos.
Paralelamente às apresentações de moda em Moscou, ocorreu o BRICS+ Fashion Summit, colocando a sustentabilidade ambiental no centro das discussões estratégicas. Uma das palestrantes, Amanda Mendonça, Secretária Executiva do Conselho de Moda Municipal da Cidade do Rio de Janeiro, destacou: «No lado da sustentabilidade, há muito impulso em torno de novos materiais, como tecidos regenerativos e fibras biodegradáveis, e na criação de sistemas de produção que reciclam ou reaproveitam tudo, mantendo o desperdício próximo de zero. O desafio será tornar essas soluções amplamente acessíveis e economicamente viáveis».
BRICS+ Fashion Summit
A indústria global da moda está vivenciando uma transição profunda dos modelos tradicionais de produção linear para sistemas circulares abrangentes. Para o Brasil, essa transformação significa que as considerações de sustentabilidade evoluíram além de conceitos de marketing da moda para se tornarem necessidades operacionais essenciais.
Boyari na Moscow Fashion Week
