Menu
brasil

Participação de distritais nas eleições do Entorno consolida guinada à direita na Ride

De olho em 2026, deputados comemoraram resultados de aliados no pleito de domingo e esperam apoio futuro

Suzano Almeida

08/10/2024 5h00

Atualizada 07/10/2024 17h19

O projeto de resolução foi apresentado pelo deputado Jorge Vianna. Foto: Carlos Gandra/ Agência CLDF

Eleitores dos 33 municípios da Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (Ride) foram às urnas no ultimo domingo (6/10) para elegerem seus representantes nas câmaras municipais e prefeituras goianas e mineiras. A escolha de prefeitos e vereadores sempre é entendida como um termômetro para a política da capital Federal, mesmo sem pleito por aqui. Prova disso é que, interessados em reverter para si apoio futuro, parte dos distritais da Câmara Legislativa se empenharam em campanhas de aliados nas principais cidades do Entorno.

O maior “adversário” dos parlamentares e caciques brasilienses foi sem dúvida o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, que abocanhou um terço das prefeituras da região metropolitana, colocando o União Brasil no comando de quase o dobro de executivos municipais da Ride.

Empenhados em ajudar a vice-governadora Celina Leão — presidente regional do Progressistas (PP) — em seu projeto de disputar o Governo do Distrito Federal em 2026, os distritais Pepa e Daniel de Castro se dividiram entre os municípios da região norte e sul do DF para poderem angariar o máximo de votos para aliados dessas localidades.

Ao todo, cinco municípios serão capitaneados pelo PP. O esforço foi comemorado pelo distrital Pepa. “Eu e o Daniel [de Castro] nos dividimos para fazer campanha. Dos três candidatos que apoiei dois venceram. Nós conversamos no dia a dia com essas localidades e entramos para fortalecer os quadros do PP nelas. Acreditamos que ajudando os municípios do Entorno teremos apoio para 2026”, explica o parlamentar.

Para Pepa, o Entorno tem grande relevância, uma vez que muitos dos moradores da região ainda votam no Distrito Federal. “Temos o seguinte diagnóstico: Planaltina de Goiás, por exemplo, tem cerca de 20 mil eleitores que votam no DF, Formosa mais 10 mil e Água Fria uns 2 mil, por alto. Queira ou não pegar esses votos influencia nas eleições do DF. Isso pode consolidar a candidatura da governadora Celina”, observa.

Outro a se desdobrar para ajudar aliados — não exatamente de seu partido — foi o distrital Jorge Vianna, do PSD. Mesmo seu partido não tendo elegido nenhum prefeito, ele se dedicou a apoiar o candidato reeleito Doutor Lucas, do União Brasil. Segundo ele, o motivo para tal foi o cumprimento de uma promessa de campanha do chefe do Executivo de Águas Lindas, que inaugurou uma unidade de saúde na região.

“Poderíamos dizer que Brasília tem um governo para o DF e outro para o Entorno, não necessariamente de estado. Precisamos apoiar a política do Entorno, pois não dá para ficar isolado, isso já deu errado no passado. Outros governadores diziam que a culpa pelos problemas do DF era a sobrecarga nos serviços, por causa do Entorno. Se eu tenho um prefeito, como o Lucas, que tem o compromisso de ajudar a reduzir os impactos no DF tenho que apoiar”, afirma Jorge Vianna. “Prefiro apoiar quem tem compromisso.”

Polarização

Tanto Jorge Vianna quanto Pepa apontam a redução da polarização como um dos fatores mais observados pelos eleitores, no último domingo. Dos 33 municípios, sete ficaram com o PL, considerado por cientistas políticos, na atual conjuntura, como de extrema-direita. Apenas um ficou com um partido de esquerda, o PSB.

A maioria absoluta das prefeituras foram vencidas por partidos de centro, como o União Brasil, MDB, PP e o PSDB. “O partido que mais conquistou prefeituras pelo país foi o meu: PSD, que é um partido de centro. Os eleitores não querem mais a polarização. A esquerda está com uma noda que não consegue tirar. Eles não conseguiram nenhuma capital. Em Brasília, na próxima eleição, ganhará o candidato que tiver bom senso”, prevê Vianna.

“Serve de lição, fazer uma campanha séria, sem ódio. São Paulo, com o [Pablo] Marçal, foi assim. As campanhas que vencemos aqui foram assim: os dois primeiros candidatos ficaram se atacando e se denunciando e a população acabou elegendo a terceira colocada. As pessoas não são bobas. Precisamos de campanhas assim, sem denúncias e sem fake news”, completa Pepa, que acredita que ainda é cedo para que sejam feitas análises mais consistentes sobre os impactos eleitorais.

Ausência da esquerda

Para o vice-presidente da Câmara Legislativa Ricardo Vale (PT), a ausência do maior partido de esquerda do país nas eleições das capitais e do Entorno do DF é consequência de falhas de comunicação com o povo e a falta de preparo. “Na minha avaliação, nas eleições municipais aconteceu o óbvio por todo o Brasil. Os partidos que se prepararam com mais antecedência e organização aumentaram o número de prefeitos e vereadores. No caso do PT, tivemos um crescimento pequeno, mas continuamos buscando nossa reconstrução depois de tantos ataques ao partido e às nossas lideranças nos últimos anos.”

Nenhuma das 33 prefeituras da Ride será administrada pelo PT. Como dito antes, apenas município de Cavalcante será governado por um prefeito de esquerda, do PSB.

Diferente dos colegas, Vale vê resquícios da polarização no último pleito. “O que me deixou muito preocupado foi o avanço da extrema-direita nas capitais e nos pequenos municípios do país. Eles continuam crescendo à custa de muitas fake news e das igrejas pentecostais. Muitos eleitores continuam sendo enganados com a pauta demagógica de costumes. Veja o caso desse novo Bolsonaro, o Pablo Marçal, que quase foi para o segundo turno, com uma campanha cheia de ódio, violência e mentiras”, aponta. “O PT e a esquerda precisam melhorar as estratégias de comunicação para fazermos frente a esses novos fariseus da política e combater com mais ênfase o discurso fascista e mentiroso dessa gente.”

Guinada à direita continua

O analista político Melillo Dinis concorda que a esquerda ainda não descobriu uma forma de falar com o eleitorado por meio das redes sociais. Para ele, as eleições por todo o Brasil aconteceram sob três eixos: o avanço da direita tradicional e não tradicional; uma forte tendência à reeleição e o predomínio dos partidos PSD, MDB, PP e União Brasil, que ainda devem aumentar sua vantagem sobre os demais com as eleições nos 53 municípios que restam definir seus prefeitos.

“Nesse sentido, a área metropolitana de Brasília repete esta tendência dos eleitores e das definições das cidades. Há diversos fatores que explicam esta conjuntura: a migração do eleitorado brasileiro para o campo da direita, seja em qual modelo de partidos e grupos e direita que se desejar avaliar; as redes sociais se transformaram em um espaço onde os partidos do campo da esquerda ainda têm muita dificuldade; e muito recursos à disposição destes partidos políticos, nas eleições municipais.”

Eleitos no Entorno

Goiás

  • Abadiânia: Doutor Itamar (PP)
  • Água Fria de Goiás: Virginia Castro (PP)
  • Águas Lindas de Goiás: Dr. Lucas (União)
  • Alexânia: Warley Gouveia (Podemos)
  • Alto Paraíso de Goiás: Marcus Rincon (União)
  • Alvorada do Norte: David Moreira (PSDB)
  • Barro Alto: Professor Álvaro (MDB)
  • Cabeceiras: Jacó Rotta (PL)
  • Cavalcante: Vilmar Calunga (PSB)
  • Cidade Ocidental: Lulinha (PP)
  • Cocalzinho de Goiás: Alessandro Barcelos (União)
  • Corumbá de Goiás: Chico Vaca (PL)
  • Cristalina: Dr. Luís Otávio (PL)
  • Flores de Goiás: Altran Avelar (União)
  • Formosa: Simone Ribeiro (PL)
  • Goianésia: Renato de Castro (União)
  • Luziânia: Diego Sorgatto (União)
  • Mimoso de  Goiás: Rafael Bruno (PP)
  • Niquelândia: Eduardo Niqturbo (Novo)
  • Novo Gama: Carlinhos do Mangão (PL)
  • Padre Bernardo: Joseleide Lázaro (União)
  • Pirenópolis: Nivaldo Melo (PSDB)
  • Planaltina de Goiás: Delegado Cristiomário (PP)
  • Santo Antônio do Descoberto: Jessica do Premium (União)
  • São João d’Aliança: Genivan (PRD)
  • Simolândia: Dona Dete (União)
  • Valparaíso de Goiás: Marcus Vinicius (MDB)
  • Vila Boa de Goiás: Rubens (União)
  • Vila Propício: Waldilei Lemos (União)

Minas Gerais

  • Arinos: Marcílio de Tonhão (Podemos)
  • Buritis de Minas: Rufino Falador (PL)
  • Cabeceira Grande: Elber Oliveira (PSDB)
  • Unaí: Thiago Martins (PL)

Eleitos por partido

  • União — 11
  • PL — 7
  • PP — 5
  • PSDB — 3
  • Podemos — 2
  • MDB — 2
  • PSB — 1
  • Novo — 1
  • PRD — 1

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado