por Camila Santos
Realizada entre o final de agosto e o início de setembro, a Moscow Fashion Week consolidou-se como um dos eventos mais notáveis da temporada. Para o Brasil, uma das economias que mais cresce no mundo, eventos como esse têm importância estratégica, oferecendo uma plataforma vital para observar tendências globais, trocar experiências e definir novas diretrizes para a moda nacional, onde cultura e tecnologia estão cada vez mais entrelaçadas.

Artemisi (Brazil) na Moscow Fashion Week
O Brasil está fortalecendo de forma confiante sua posição na arena da moda high-tech. Tradicionalmente reconhecido como um dos maiores produtores de calçados do mundo – com uma produção anual superior a 900 milhões de pares – os fabricantes brasileiros estão adotando cada vez mais materiais inovadores, têxteis reciclados e tecnologias digitais. Criativamente, os designers nacionais estão utilizando ativamente impressão 3D, desfiles virtuais e apresentações em realidade aumentada. Um exemplo notável dessa abordagem foi o desfile da marca brasileira Artemisi na Moscow Fashion Week. Sua fundadora, a designer Mayari Jubini, é conhecida por combinar desenvolvimentos digitais com técnicas artesanais: elementos motorizados, impressão 3D e pintura hiper-realista transformam as peças em verdadeiras obras de arte. A Artemisi demonstrou que a moda brasileira pode ser vanguardista e tecnológica, mantendo ao mesmo tempo sua profundidade emocional e conexão com a identidade nacional.

Mandragora ai collection 1869-2025 digital heritage na Moscow Fashion Week
“Um dos aspectos-chave da identidade da Artemisi é sua busca constante pelo futuro por meio do domínio de uma ampla gama de técnicas. A inovação é um dos elementos centrais da linguagem da marca — onde tecnologia, arte e artesanato são inseparáveis”, disse Mayari Jubini.
Empresas inovadoras russas também estão moldando ativamente a agenda da indústria da moda. O parceiro estratégico da Moscow Fashion Week foi o Sber, que apoiou o projeto único “Mandragora. AI-Collection 1869/2025. Digital Heritage”. A coleção foi criada com a ajuda de algoritmos de inteligência artificial, guiada por direção artística humana e com profundo respeito pelo estilo da época. Essa fusão de tecnologia digital e história destacou o tema central: um diálogo entre passado e futuro.
A plataforma de e-commerce russa Wildberries foi a parceira geral do evento e organizou o show especial “Cultural Code”. O desfile reinterpretou símbolos e tradições das regiões da Rússia sob a ótica da moda contemporânea, com designers russos mostrando como a identidade local pode ser integrada a um contexto global.

Wildberries cultural code fashion show na Moscow Fashion Week
Realizado em paralelo à Moscow Fashion Week, o BRICS+ Fashion Summit colocou a tecnologia em destaque. As discussões focaram em ecossistemas digitais da moda, inovações sustentáveis e na integração da IA no design e na produção. Especialistas brasileiros, representantes da São Paulo Fashion Week, ABEST, APEX e IARA participaram dos painéis, com palestrantes enfatizando a importância da tecnologia para o desenvolvimento da indústria nacional. Para o Brasil, esse diálogo foi especialmente significativo, facilitando a troca de experiências e a integração em processos globais.
“Novas tecnologias, processos e materiais inovadores estão moldando novas formas criativas de desenhar e oferecer produtos alinhados com os hábitos e desejos em transformação dos consumidores”, observou Paulo Borges, fundador da São Paulo Fashion Week.
Moscou está se firmando cada vez mais como um polo de inovação da moda global. Para o Brasil, participar de eventos como esse é um passo decisivo para fortalecer sua posição na indústria internacional e impulsionar a economia do país. A Moscow Fashion Week e o BRICS+ Fashion Summit mostraram que o futuro da moda é construído onde tecnologia encontra herança cultural — e é justamente nessa síntese que o Brasil pode liberar todo o seu potencial.