Em um momento em que o debate global sobre o consumo de álcool ganha força, o vinho, que há milênios integra a mesa, a cultura e a tradição, muitas vezes é tratado da mesma forma que bebidas destiladas e fermentadas, ignorando seu papel histórico e social. Para reequilibrar essa percepção, surgiu em 2008 o movimento Wine in Moderation, criado na Europa como resposta do setor vitivinícola às recomendações da Organização Mundial da Saúde, que tendem a considerar todo tipo de álcool de maneira uniforme, sem levar em conta o contexto cultural do vinho.
A proposta do Wine in Moderation é educar em vez de proibir. A iniciativa defende o consumo moderado, sempre aliado a uma alimentação equilibrada, preferencialmente durante as refeições e em ambientes sociais, como parte de um estilo de vida saudável inspirado na tradição mediterrânea.
No início de novembro, em Roma, o movimento lançou o Digital Responsible Service Training, um curso online de serviço responsável voltado a profissionais do setor. A plataforma é destinada a sommeliers, garçons, funcionários de vinícolas, bares de vinho e trabalhadores da hospitalidade. A lógica é clara: quanto mais esses profissionais compreendem o impacto do álcool e as boas práticas de serviço, mais responsáveis se tornam os ambientes onde o vinho é oferecido.
O curso reúne nove módulos que abordam temas que vão do vínculo entre vinho, cultura e território a fundamentos científicos e legais relacionados ao consumo de álcool. Há também conteúdos sobre comunicação responsável, hospitalidade, enoturismo sustentável e ética no serviço. Ao final, o participante recebe um certificado emitido pelo Wine in Moderation, reconhecido em toda a Europa.
O lançamento reuniu entidades italianas como Prosecco DOC, Federvini e Unione Italiana Vini. Durante o evento, o presidente da organização, Sandro Sartor, destacou que “promover a cultura do vinho responsável é um esforço coletivo, que envolve toda a cadeia, das instituições às vinícolas, até o consumidor final”.
A reflexão ganha ainda mais peso quando se considera um paradoxo pouco discutido. O setor do vinho é um dos que mais enfrentam o alcoolismo profissional. Degustações diárias, eventos, viagens e jantares fazem da moderação um assunto de saúde e de responsabilidade. Treinar quem trabalha com vinho é essencial para garantir que prazer e cultura não se confundam com abuso.
Outro princípio reforçado pelo movimento é a diferença entre consumo e excesso, ponto central da cultura mediterrânea. O vinho não é uma bebida alcoólica qualquer. Ele simboliza a convivência, gastronomia e celebração. É parte da mesa, não do bar.
O Wine in Moderation é mais que uma campanha. Ele representa uma forma de pensar e viver o vinho com equilíbrio, prazer e respeito. Em um mundo que busca simplificações, o movimento lembra que moderação é liberdade com consciência, e que beber bem, assim como viver bem, é uma prática cultural.
Para o público brasileiro que deseja conhecer melhor essa proposta, o curso Digital Responsible Service Training está disponível gratuitamente, totalmente online e em inglês, no site do Wine in Moderation. É uma oportunidade valiosa para profissionais do vinho e da hospitalidade se conectarem a essa referência europeia e atuarem como promotores da cultura do consumo responsável. Para participar, basta acessar wineinmoderation.eu.
