A ceia de Natal no Brasil é tudo, menos previsível. Na mesma mesa convivem peru, tender agridoce, bacalhau, farofa carregada de manteiga, frutas, castanhas, maionese, arroz com passas e ainda sobra espaço para rabanada, pavê e panetone. É justamente essa mistura que torna o Natal delicioso, mas também um desafio quando o assunto é vinho.
Aqui vai a boa notícia: não existe vinho “certo” ou “errado” para a ceia brasileira. O que existe são escolhas mais inteligentes, que respeitam a diversidade de sabores e tornam a experiência mais leve, prazerosa e divertida.
A lógica muda: esqueça a harmonização perfeita
Tentar encontrar um único vinho que funcione com todos os pratos da ceia costuma ser frustrante. A estratégia mais interessante, e cada vez mais defendida por sommeliers, é pensar em vinhos versáteis, com boa acidez, teor alcoólico baixo a moderado e taninos bem domados. São vinhos que não disputam atenção com a comida, mas acompanham.
O Natal pede vinhos fáceis de beber, que funcionem bem em mesa cheia, conversa alta e pratos que se sobrepõem no prato.
Espumantes: o verdadeiro curinga da noite
Se existe um estilo que funciona do início ao fim da ceia brasileira, é o espumante brut ou extra brut. A acidez refresca, as borbulhas limpam o paladar e o vinho se adapta tanto às entradas quanto aos pratos principais.
Boas escolhas entre R$99 e R$350:
Cave Geisse Brut, cerca de R$280
Casa Valduga 130 Brut, cerca de R$180
Miolo Millésime Brut, cerca de R$220
Nova Brut, cerca de R$99
Funcionam muito bem com salpicão, aves, bacalhau, arroz festivo e até pratos com frutas secas.
Tintos para a ceia: menos potência, mais elegância
Vinhos muito encorpados, alcoólicos ou com excesso de madeira costumam cansar rapidamente na ceia. O ideal são tintos de corpo médio ou leve, com boa acidez e fruta evidente.
Tintos que funcionam melhor no Natal brasileiro:
Pinot Noir
Nebbiolo
Merlot de perfil mais fresco
Baga
Sangiovese
Sugestões entre R$150 e R$500:
Filipa Pato Dinâmica Baga (Portugal), cerca de R$230
Salton Virtude Pinot Noir (Brasil), cerca de R$150
Foffani Merlot (Itália), cerca de R$166
Vallisto Extremo Criolla (Argentina), cerca de R$166
Esses vinhos acompanham bem peru, tender, carnes assadas e pratos com ervas, sem pesar a experiência.
Rosés: subestimados, mas perfeitos para o Natal
Rosés gastronômicos são ótimos para mesas diversas. Eles lidam melhor com pratos que misturam sal, gordura e leve doçura, algo muito comum na ceia brasileira.
Boas opções:
La Petite Perrière Pinot Noir Rosé 2024 (França), cerca de R$187
Bouchon Reserva Rosé (Chile), cerca de R$89
Salton Gerações Rosé, cerca de R$140
Rosés funcionam especialmente bem quando a mesa tem muitos acompanhamentos e pratos frios.
Brancos que não ficam em segundo plano
Brancos com boa acidez e perfil aromático são ótimos aliados da ceia, especialmente com bacalhau, saladas, pratos com frutas e entradas.
Destaques:
Trebbiano
Riesling
Chenin Blanc
Alvarinho
Sugestões entre R$120 e R$350:
Fantini Trebbiano d’Abruzzo (Itália), cerca de R$139
Mosel Incline Riesling (Alemanha), cerca de R$276
Ayama Chenin Blanc (África do Sul), cerca de R$185
Vinho Verde Via Latina Alvarinho (Portugal), cerca de R$109
Sobremesas pedem vinhos doces de verdade
Aqui não tem meio-termo: se a sobremesa é doce, o vinho precisa ser mais doce ainda. Caso contrário, o vinho parecerá amargo e sem graça.
Boas apostas:
Espumante Moscatel
Late Harvest
Vinhos fortificados leves
Sugestões:
Casa Valduga Moscatel, cerca de R$120
Miolo Late Harvest, cerca de R$150
Toro Albalá Pedro Ximénez, cerca de R$350
Rabanada, pavê e sobremesas com frutas secas agradecem.
Uma dica que muda tudo: sirva mais de um vinho
Em vez de tentar acertar tudo com uma única garrafa, pense na ceia como uma sequência simples:
Espumante para começar
Um tinto leve ou rosé para os pratos principais
Um vinho doce para a sobremesa
Isso torna a experiência mais fluida, mais interessante e muito mais prazerosa.
No fim, o Natal não é sobre regras
Vinho no Natal não é prova técnica nem concurso de harmonização. É sobre dividir a mesa, repetir o prato favorito, brindar sem culpa e escolher vinhos que façam sentido naquele momento. Quanto menos rigidez, melhor a noite e maior a chance de a garrafa acabar antes da sobremesa.