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Vinhos e Vivências
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O Brasil em 16 taças: da Serra Gaúcha ao Planalto Central

Com a presença inédita de rótulos de Brasília entre os melhores do país, o vinho brasileiro mostra que sua geografia — e seu sabor — se expandem muito além da Serra Gaúcha

Cynthia Malacarne

31/10/2025 11h40

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Foto: Jeferson Soldi

A 33ª Avaliação Nacional de Vinhos, Safra 2025, confirmou o que muitos profissionais do setor já intuíram: o vinho brasileiro vive sua fase mais sólida e diversa. Pela primeira vez, duas vinícolas de Brasília — Ercoara e Vila Triacca — figuram entre as 16 amostras mais representativas da safra, ao lado de nomes consagrados da vitivinicultura nacional.

O feito é histórico. Desde a criação do evento, em 1993, o Rio Grande do Sul concentrava todas as amostras de destaque. Agora, a presença de rótulos do Distrito Federal e de São Paulo, somada aos vinhos gaúchos das regiões da Serra Gaúcha, Campanha e Campos de Cima da Serra, mostra que o mapa do vinho brasileiro está, enfim, em transformação.

Brasília no mapa do vinho

Entre os 16 vinhos eleitos às cegas por um painel de 90 enólogos, o Marselan da Villa Triacca Hotel Vinícola alcançou 94 pontos e foi comentado por Elói Zorzetto, do Brasil. Já o corte Cabernet Franc/Syrah/Marselan da Vinícola Ercoara, também com 94 pontos, recebeu comentários do enólogo chileno Felipe de Solminihac.

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Foto/Jeferson Soldi: Proprietários da Vila Triacca, Ana e Ronaldo Triacca.

Ambos representam a força de uma vitivinicultura que floresce em condições desafiadoras: altitude, clima seco e grande amplitude térmica. Ainda assim, os vinhos brasilienses vêm ganhando reconhecimento pela estrutura, equilíbrio e intensidade aromática — qualidades que revelam uma identidade própria no coração do Planalto Central.

Um Brasil em transformação

Os números da edição de 2025 reforçam a maturidade técnica do setor. Foram 533 amostras, provenientes de 76 vinícolas de nove estados brasileiros, avaliadas na seleção organizada pela Associação Brasileira de Enologia (ABE). As notas variaram entre 90 e 95 pontos, evidenciando um padrão de qualidade alto e uniforme.

Mais do que uma competição, a Avaliação é uma vitrine do avanço do vinho nacional. Como lembra o presidente da ABE, Mário Lucas Ieggli, trata-se de “uma degustação do futuro”, na qual o público tem o privilégio de provar vinhos ainda em fase de maturação, antecipando estilos e tendências que em breve chegarão ao mercado.

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Foto: Jeferson Soldi

Diversidade que inspira

A pluralidade também se expressa nas castas. Quinze variedades diferentes compõem as 16 amostras representativas — um verdadeiro mosaico de estilos que vai de uvas tradicionais, como Cabernet Franc, Merlot e Tannat, a variedades menos comuns no país, como Marselan, Rebo, Touriga Nacional, Petit Verdot e Moscato Giallo.

Essa diversidade reforça o potencial dos terroirs brasileiros em interpretar diferentes origens e criar vinhos de personalidade própria. Entre os destaques estão nomes consolidados como Miolo, Geisse, Casa Valduga, Don Guerino e Monte Reale, além de novas vozes que despontam, como a Philosophia, de São Roque (SP). A edição deste ano deixa claro que o vinho brasileiro se afirma pela capacidade de inovar, equilibrando tradição e modernidade em um mesmo gole.

A consagração de um novo ciclo

A Safra 2025 simboliza um marco para o setor: a consolidação de um Brasil vitivinícola mais diverso, que ultrapassa fronteiras e se apoia em uma ampla variedade de climas, solos e estilos.

O reconhecimento das vinícolas do Distrito Federal vai além de um mérito técnico — é o reflexo do trabalho conjunto de viticultores, enólogos e empreendedores que acreditaram no potencial do Cerrado para produzir grandes vinhos.

O vinho brasileiro, hoje, é múltiplo, surpreendente e, cada vez mais, uma história escrita em todas as latitudes do país.

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