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Vinhos e Vivências
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Montefalco: o segredo mais bem guardado da Umbria para os amantes de vinhos autênticos

Entre colinas medievais e vinhedos centenários, Montefalco revela tesouros vinícolas pouco explorados, com destaque para as uvas Sagrantino e Trebbiano Spoletino — símbolos da autenticidade e do renascimento da Umbria no cenário mundial dos vinhos

Cynthia Malacarne

27/06/2025 16h27

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Foto: Cynthia Malacarne

Poucos destinos vitivinícolas na Itália reúnem tanta autenticidade, tradição e inovação quanto Montefalco. Localizada no coração da Umbria, essa charmosa comuna medieval revela aos visitantes paisagens deslumbrantes e uma vocação enológica ainda pouco conhecida entre os consumidores brasileiros — mas isso está prestes a mudar.

Com o crescente interesse por novas uvas, regiões e produtores, os vinhos de Montefalco surgem como uma oportunidade rara para importadores que desejam diversificar seus portfólios com rótulos de identidade marcante e grande potencial de mercado.

Durante minha participação na anteprima dos vinhos de Montefalco, tive a oportunidade de conhecer os produtores de perto, caminhar pelos vinhedos e aprofundar meu conhecimento em duas das principais variedades autóctones da região: a tinta Sagrantino e a branca Trebbiano Spoletino.

Sagrantino: a força da tradição

Potente e de taninos intensos, a Sagrantino é uma uva que exige tempo para revelar todo o seu potencial. Por isso, a legislação exige um longo período de amadurecimento: pelo menos 33 meses, sendo 12 deles em barrica e o restante em garrafa, antes que um Montefalco Sagrantino DOCG possa ser lançado. Ainda assim, cada produtor desenvolveu seu próprio caminho para domar essa variedade complexa e transformá-la com elegância.

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Foto: Cynthia Malacarne

Na vinícola Romanelli, por exemplo, os vinhos são produzidos a partir de cultivo biológico. A colheita ocorre no fim de outubro, com as uvas no ponto ideal de maturação. Os rótulos da linha Terra Cupa passam por cerca de 60 dias de maceração com as cascas, seguidos de dois anos de estágio em barricas de carvalho de 225 a 2.500 litros e mais 12 meses em garrafa. O resultado é um vinho de equilíbrio impecável, com taninos firmes, porém macios, acidez vibrante e longa vida pela frente.

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Foto: Ilaria da vinícola Cocco/ Foto: Cynthia Malacarne

Já a pequena Cocco Montefalco, comandada por Ilaria Cocco, adota uma abordagem distinta. A colheita da Sagrantino acontece um pouco antes da maturação total, o que preserva o frescor e a acidez, equilibrando álcool e fruta. Seus vinhos apresentam perfil mais leve, mas com notável profundidade. A filosofia artesanal da vinícola e o manejo cuidadoso em todas as etapas reforçam seu compromisso com a autenticidade.

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Foto: Cynthia Malacarne

Trebbiano Spoletino: a jóia branca da Umbria

Se a Sagrantino é a espinha dorsal dos tintos de Montefalco, o Trebbiano Spoletino é a alma dos brancos da região. Essa uva de maturação tardia esteve quase esquecida até cerca de uma década atrás, quando passou a ser redescoberta com o crescente interesse por castas autóctones. Hoje, mesmo com áreas de cultivo ainda modestas, ela já marca presença em grande parte das vinícolas da região.

Com alta acidez natural e versatilidade, o Trebbiano Spoletino permite diferentes estilos de vinificação: brancos frescos e minerais, espumantes, vinhos doces (passitos) e até versões com maceração prolongada e estágio em madeira. Em comum, a vocação gastronômica e o excelente potencial de guarda.

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Foto: Cynthia Malacarne

Entre os produtores que mais me impressionaram está a Bocale Valentini Viticoltori di Montefalco, que elabora brancos vibrantes, frescos, salgados e muito equilibrados. O Trebbiano Spoletino da casa é um convite à mesa, enquanto seus tintos de Sagrantino mantêm o mesmo padrão de excelência. Trata-se de uma vinícola familiar, onde tradição e qualidade caminham juntas.

Outro nome de destaque é a Cantina di Ninni, em Spoleto. O produtor Gianluca Piernera é conhecido por experimentar técnicas pouco convencionais na vinificação do Trebbiano Spoletino, criando rótulos expressivos e reconhecidos internacionalmente. Seus vinhos impressionam pela originalidade e complexidade, com uma assinatura própria que conquista paladares exigentes.

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Foto: Cynthia Malacarne

Um convite ao novo

Montefalco é, sem dúvida, um tesouro ainda pouco explorado pelos brasileiros. Para os consumidores que desejam sair do lugar-comum e para os importadores que buscam rótulos únicos com forte identidade territorial, os vinhos dessa região representam uma oportunidade imperdível.

Na terra onde o tempo amadurece os taninos e a história ressurge em cada gole, Montefalco convida a um brinde à autenticidade, e talvez, ao futuro dos vinhos italianos no Brasil.

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