Nos últimos anos, o mercado tem valorizado cada vez mais profissionais que desenvolvem soft skills — habilidades comportamentais e emocionais. Embora ainda se contrate majoritariamente com base nas hard skills (habilidades técnicas e operacionais), são as soft skills que garantem permanência, crescimento e promoção dentro das empresas, segundo diversas pesquisas. Um exemplo claro é o setor de tecnologia, onde a adaptabilidade e a colaboração têm sido até mais valorizadas do que o domínio técnico.
Um levantamento do LinkedIn revela que profissionais que combinam hard e soft skills são promovidos 8% mais rapidamente do que aqueles com domínio apenas técnico. Como resume o escritor e historiador Leandro Karnal, é preciso desenvolver as chamadas power skills, que representam justamente essa combinação equilibrada entre as duas competências.
Em junho deste ano, a revista HR Magazine, do Reino Unido, revelou que 75% das empresas já precisaram demitir profissionais tecnicamente qualificados por falta de soft skills e de adaptação cultural. A mesma ideia foi defendida em 2020 por Lou Adler, recrutador renomado: “As pessoas são contratadas por suas hard skills, mas demitidas por falta de soft skills”.
Segundo a Reuters, 92% dos recrutadores consideram as habilidades comportamentais tão importantes quanto — ou mais importantes que — as competências técnicas. Além disso, 89% apontam que a ausência dessas habilidades é a principal causa de erros em contratações e na gestão de pessoas.
Um estudo clássico, citado por instituições como Harvard, Carnegie e Stanford, aponta que 85% do sucesso profissional está diretamente ligado às soft skills, e não às hard skills. A pesquisa tem origem em um relatório de 1918 da Carnegie Foundation, elaborado por Charles Riborg Mann, e segue sendo referência nos estudos contemporâneos sobre competências interpessoais.
Nesse cenário, habilidades como empatia, comunicação eficaz, criatividade e capacidade de resolução de problemas tornam-se mais valiosas que qualquer solução automatizada — e são hoje consideradas o novo diferencial humano na era da inteligência artificial.
A liderança exemplar, portanto, não se constrói apenas com base em competências técnicas. As lideranças de excelência também são sustentadas por habilidades interpessoais, entre as quais se destacam: comunicação clara, trabalho em equipe, escuta ativa, empatia, criatividade, proatividade, agilidade na tomada de decisões, resolução de conflitos, adaptabilidade, autoconfiança, resiliência, inteligência emocional, autoconhecimento, gestão do tempo, flexibilidade, comprometimento e responsabilidade.

Além dessas habilidades comportamentais e emocionais, há atributos ainda mais profundos: as chamadas habilidades humanas intrínsecas. São qualidades que só podem ser cultivadas por meio de uma decisão consciente de mudança — como o caráter, os valores e os princípios. Esses elementos formam a base sobre a qual todas as soft skills são construídas. Uma pessoa sem caráter, por exemplo, pode agir com egoísmo, falta de empatia ou irresponsabilidade, comprometendo sua capacidade de liderança.
Um artigo da Harvard Kennedy School, publicado em 17 de julho de 2017, reforça essa perspectiva ao apontar que lideranças com baixo caráter tendem a tomar decisões antiéticas, prejudicando o ambiente e os resultados organizacionais.
Como afirmou Dale Carnegie:
“Esteja mais interessado em seu caráter do que em sua reputação. Seu caráter é quem você realmente é; sua reputação é apenas o que os outros pensam que você é.”
Mas afinal, o que é caráter?
É o que você faz quando ninguém está olhando. É a coragem de assumir um erro, mesmo diante de riscos. É a decisão de dizer a verdade, mesmo que doa. É fazer o que é certo, ainda que isso traga prejuízos pessoais.
Esses atributos são frutos de escolhas que passam pelo filtro dos valores, princípios e crenças de cada indivíduo. É o caráter que sustenta, ou fragiliza, o desenvolvimento de qualquer habilidade interpessoal.
Em resumo: os fundamentos da liderança exemplar começam — e permanecem — no caráter.