Com uma carreira política de êxito, tendo sido vereador, deputado estadual, prefeito por três mandatos do Balneário Camboriú, deputado federal, senador da República, secretário de estado, vice-governador e governador de Santa Catarina, e agora o atual prefeito de Camboriú, Leonel Pavan (foto) é o nosso entrevistado da semana. O seu nome é ligado à evolução do turismo no estado de Santa Catarina e também no Brasil. Sua intensa e crescente participação política no país o colocam como uma das grandes personalidades e lideranças políticas da atualidade. Veja os principais trechos da entrevista abaixo.
Qual foi o maior legado de sua trajetória política, desde a Câmara de Vereadores até o governo do estado?
Creio que foi, de uma forma resumida e abrangente, fazer do discurso à prática. Uma forma de representatividade e governabilidade mais próxima dos interesses comunitários e da sociedade como um todo. Isso inclui tornar realidade projetos exequíveis, que podem ser realizados tanto pela responsabilidade única do poder público como por meio de parcerias público-privadas em diversos setores de atividade. E que toda realização administrativa diferenciada exige vontade política, convicção, coragem, determinação e parcerias com a sociedade para animar o processo de desenvolvimento – missão também do gestor público.
De que forma a experiência do senhor como governador pode contribuir para fortalecer o diálogo entre os estados e Brasília?
Podemos contribuir com relacionamento e experiência, recomendando que seja fortalecida a presença institucional dos estados na Capital Federal, aumentando também a disposição para o diálogo político qualificado e a prioridade para temas estratégicos, como financiamento da saúde, educação, infraestrutura, segurança pública e parcerias na gestão pública. É preciso que o protagonismo dos estados nestas áreas seja reconhecido e apoiado pela União.
O turismo sempre esteve entre as bandeiras do senhor. Como Brasília pode apoiar políticas públicas para impulsionar o setor em Santa Catarina?
De fato, fomos pioneiros no desenvolvimento do turismo e sua conciliação com o investimento no social, além de criarmos a primeira Comissão Permanente de Turismo no Senado Federal, e também o pioneirismo das parcerias público-privadas que alavancaram o desenvolvimento de Balneário Camboriú. Sempre tenho dito, desde vereador, prefeito, deputado, senador, governador e secretário de Estado de Turismo de SC, que também fui, que o setor de turismo tem que ser trabalhado como uma indústria – a chamada indústria sem chaminés. Desta forma, as políticas públicas neste sentido, desde o nível municipal ao federal, têm que prever investimentos constantes em atualização, modernização e treinamento profissional, além de reforçar a infraestrutura social dos municípios turísticos. Porque uma cidade só é boa para o turista se for boa também para quem nela mora. É isso que esperamos de Brasília.

O senhor acredita que Brasília tem dado atenção suficiente às demandas do Sul, especialmente em áreas como infraestrutura, segurança e desenvolvimento?
O grande problema de Santa Catarina, que tem persistido nesta última década, é a falta do justo e proporcional retorno, por parte da União, à nossa grande contribuição em tributos ao governo federal, fruto de nossa pujante economia, caso de Santa Catarina. De cada R$ 100 enviados, recebemos de volta apenas R$ 13. A cobrança tem sido grande, mas ainda falta muita luta para que nossas demandas sejam atendidas de forma justa, especialmente no setor de infraestrutura, que é vital para manter e melhorar ainda mais a nossa produtividade econômica, incluindo o turismo. Mesmo com esse injusto desequilíbrio, continuamos investindo e avançando em desenvolvimento, qualidade e segurança pública por conta própria.
Depois de atuar em todas as esferas, municipal, estadual e federal, qual é, na visão do senhor, a maior dificuldade de articulação entre os estados e o governo federal?
A forte representatividade política de um estado e seu governante ajuda nessa articulação. Mas a maior dificuldade, creio, ainda está na esfera administrativa. A autonomia municipal e estadual prevista na Constituição Federal permite que as cidades gerenciem seus próprios assuntos, adaptando políticas públicas às suas necessidades locais e promovendo maior eficiência na prestação de serviços. No entanto, esta autonomia precisa ser ampliada na prática, pois os estados e municípios são afetados pela burocracia e centralização de decisões e recursos financeiros no governo federal, assim como têm capacidade e autonomia limitadas em termos tributários, o que poderia melhorar nossa arrecadação.
Que iniciativas da gestão do senhor em Balneário Camboriú poderiam servir de exemplo para políticas públicas em nível nacional?
As políticas de parcerias público-privadas para modernização e profissionalização do turismo poderiam ser adaptadas para todas as regiões do país, assim como nosso pioneirismo nas escolas de educação integral. E também o fortalecimento dos setores ambientais municipais para o uso de plantas medicinais na saúde pública, barateando custos.
Como o senhor avalia a representatividade política de Santa Catarina em Brasília e o que pretende fazer para ampliá-la?
Do ponto de vista estrutural e administrativo, Santa Catarina, via governo, mantém presença institucional com forte representação em Brasília já há 50 anos, completados agora em maio último. É a nossa Secretaria de Articulação Nacional. Mas sabemos que é preciso conciliar também, e muito, com a área política. E aí é necessário que haja diálogo e aproximação constante do governo estadual com a nossa Frente Parlamentar Catarinense no Congresso Nacional, fazendo a defesa firme de nossas posições e interesses junto à União. Precisamos fortalecer isso, nos reunindo com mais frequência.
Se o senhor pudesse definir uma prioridade absoluta para defender em Brasília em favor de Camboriú e Balneário Camboriú, qual seria?
Creio que, apesar de nossos avanços, não dá para se falar em desenvolvimento social e econômico pleno, e com garantias para o futuro, sem que cuidemos da melhoria de nossa infraestrutura e da mobilidade urbana, para enfrentar o crescimento acentuado e veloz que vem ocorrendo entre as duas comunidades. Então, seriam recursos para enfrentar esse desafio cada vez maior e crescente.
A filha do senhor foi eleita prefeita de Balneário Camboriú nesta legislatura, com uma vitória expressiva, mesmo diante de candidatos apoiados pelo ex-presidente Bolsonaro. Como o senhor avalia esse resultado e o que ele representa para a política da região e também no cenário nacional?
O eleitor municipal votou numa proposta de governo bem definida para a cidade voltar a crescer, e na capacidade de quem tinha condições para tornar realidade essa proposta – no caso, a Juliana Pavan. O resultado mostra o surgimento de uma nova liderança, com foco na seriedade e no trabalho para a melhoria da vida das pessoas, e que tem muito ainda a contribuir com Santa Catarina. E, quem sabe, também como exemplo de renovação no cenário político-partidário nacional.