Formado em Pedagogia pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) com especialização em Administração, o ministro Silvio Costa Filho iniciou sua vida na política no movimento estudantil da universidade. Em 2004, aos 21 anos, foi eleito o vereador mais jovem da história do Recife, sendo o 4º mais votado naquela eleição. Dois anos depois, em 2006, aos 24 anos, Silvio Costa Filho conquistou uma vaga na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe). Como deputado estadual, Costa Filho exerceu a função por três mandatos cumpridos entre os anos de (2006-2018).
Nesse período, Silvio foi vice-líder do governo e secretário de Estado da gestão do ex-governador Eduardo Campos. Em 2018, o ministro disputou pela primeira vez e foi eleito deputado federal, sendo reeleito em 2022. Na Câmara dos Deputados, Costa Filho assumiu comissões importantes, como a de Constituição e Justiça (CCJ) e relatorias de projetos como a autonomia do Banco Central. Desde setembro de 2023, exerce a função de ministro de Portos e Aeroportos. À frente da pasta, o ministro coordena a organização e elaboração da política nacional de transportes aquaviário e aeroviário.

Como tem sido o desafio de comandar uma pasta que conecta o Brasil ao mundo e ao mesmo tempo exige decisões rápidas, técnicas e políticas?
Tem sido uma experiência muito interessante, porque me permitiu adotar medidas que ajudam no desenvolvimento socioeconômico regional, na melhoria dos serviços ofertados nestas áreas e ainda questão da sustentabilidade. Cerca de 95% do comércio internacional brasileiro passa pelos portos, o que dá uma ideia do potencial que o setor tem para o crescimento do país. E estamos tendo recordes de movimentação de cargas. Também em aeroportos estamos batendo recordes de passageiros. Em três anos colocamos mais de 30 milhões de passageiros no transporte aéreo. Acho que é fundamental ouvir a sociedade, ouvir o setor, o Congresso, o Judiciário, para ter mais chance de tomar decisões acertadas.
Seu pai, ex-deputado federal Silvio Costa, teve uma longa trajetória no Congresso Nacional. Que lições da convivência com ele o senhor leva para sua atuação como ministro?
O meu pai é um amigo que a vida me deu, além disso sempre procurou fazer política com lealdade, com correção, e defendendo aquilo que acredita. Sempre me ensinou a ter lado, a ter posição e tenho procurado atuar muito para ajudar o Brasil, ao lado do presidente Lula. Faço política com seriedade, com compromisso e com respeito às pessoas, por entender que a política é um exercício permanente de esperança e a nossa geração, ela tem muita responsabilidade com o Brasil. E tenho procurado exercer a nossa gestão dialogando com setor produtivo, com a classe trabalhadora, e efetivamente fazer as entregas que o Brasil precisa.
O senhor sempre conviveu com o ambiente político desde muito jovem. Em que momento percebeu que seguiria o mesmo caminho?
Tive o privilégio de ser eleito vereador do Recife, até hoje o mais jovem da história, com 21 anos, depois exerci por três vezes o mandato de deputado estadual, fui secretáriode estado, duas vezes deputado federal e agora ministro do presidente Lula. Sempre entendi que a política é um instrumento de construir cidadania e que só através da política é que vamos construir um país mais justo, mais solidário e mais soberano. Desde o movimento estudantil, na Universidade, eu sempre gostei de fazer política e atuar é de maneira coletiva, sempre construindo entendimentos a favor daqueles que mais é precisam, até porque eu digo sempre que eu sou defensor dos programas sociais no Brasil, mas o maior programa social do país é o emprego e a renda. É isso que traz dignidade e eu sempre pautei
Como é equilibrar a herança familiar na política com a construção de uma identidade própria?
A formação familiar é a base para todos. A gente é forjado nos ensinamentos que recebe em casa. Meu avô falava que a melhor virtude de uma pessoa é a gratidão. E sou muito grato pelo que aprendi. Mas entendo que cada um constrói seus próprios caminhos, a partir desta base.
O Ministério de Portos e Aeroportos tem papel estratégico na economia brasileira. Quais os principais desafios que o senhor enfrenta hoje na pasta?
Estamos deixando nossos portos adequados às demandas que virão, portos capacitados para as necessidades das próximas décadas. Quando se faz um leilão de unidade portuária, os resultados começam a aparecer em 4 ou 5 anos. Em Itajaí, por exemplo, o porto estava no programa de privatização do governo passado e foi abandonado, sem projetos. A cidade sofreu, o estado de Santa Catarina sofreu com redução da movimentação, redução da renda e do emprego na região. Retomamos as atividades e, em breve, Itajaí voltará a ter o peso que tinha entre os portos públicos do país. Estamos trabalhando também pela descentralização da movimentação portuária. Estamos expandindo o Porto de Santos, que continuará a ser o maior do país por muito tempo. Mas já não representa um terço da movimentação de cargas em portos públicos. Ano passado ficou abaixo de 30%. A política do presidente Lula é de promover o desenvolvimento socioeconômico em outras regiões. E é isso que temos feito.
Há planos específicos para ampliar a competitividade dos portos brasileiros e atrair mais investimentos privados?
Temos uma carteira relevante de investimentos em portos públicos. Vamos concluir 2026 com mais leilões de unidades portuárias do que as realizadas entre 2015 e 2022. Serão R$ 30 bilhões de investimentos contra R$ 6 bilhões. Fizemos a primeira concessão de um canal de acesso do país, no Porto de Paranaguá. Vamos fazer outras similares em Santos, Bahia, Itajaí. O que significa isso? Portos mais eficientes, mais modernos, adaptados às necessidades de crescimento do país.
O setor aéreo vem passando por transformações rápidas, especialmente após a pandemia. Como o governo tem trabalhado para equilibrar tarifas, oferta de voos e qualidade do serviço?
Durante a pandemia, o setor não recebeu qualquer apoio do Governo Federal. Outros países, como Estados Unidos, França, Portugal, perceberam a necessidade de ajudar as aéreas porque o movimento ficou próximo de zero. O resultado foi que quase fecharam, tiveram que passar por um processo de reestruturação financeira nos Estados Unidos. A fabricação de aeronaves também caiu no mundo por conta da pandemia. Sem dinheiro, as companhias nacionais passaram a oferecer menos assentos e o custo operacional das empresas aumentou. O que nós fizemos foi criar condições diferenciadas para empréstimos com recursos do Fundo Nacional da Aviação Civil (FNAC) a juros que variam de 6,5 a 7,5%, dependendo da linha de financiamento. Com isso, poderão adquirir novas aeronaves nacionais, fazer manutenção, comprar combustível sustentável de aviação, desde que se comprometam a reduzir a emissão de CO2 e aumentar o número de voos para as regiões Norte e Nordeste. O que esperamos é que, com mais oferta de assentos, o preço da tarifa caia ainda mais. Segundo dados da ANAC, a tarifa média de janeiro a setembro caiu 12,5% em relação ao mesmo período de 2022, mesmo considerando a inflação.
O senhor tem dialogado bastante com governadores e prefeitos. Como vê a importância dessa articulação federativa para o avanço da infraestrutura nacional?
O diálogo sempre será o melhor caminho. Enquanto estive no Congresso, por exemplo, sempre busquei entender os argumentos. Especialmente daqueles que tinham pensamento diferente do meu. Para crescer, é necessário ouvir e aceitar as diferenças, construir soluções. No ministério tem sido assim também. Temos conversado bastante com governadores e prefeitos, independente do partido. Se apresentam bons argumentos, soluções para a melhoria da infraestrutura, para o desenvolvimento econômico e social de sua região, eu preciso considerar isso no momento de tomar alguma decisão. Agora, inegavelmente, gosto muito da gestão pública e de atuar ao lado da inciativa privada e do setor produtivo, que são fundamentais para o desenvolvimento econômico e para a geração de emprego e renda do país.
Olhando para o futuro, o senhor se vê mais como gestor público ou como um político com ambições de novos desafios eleitorais?
Não vejo muita diferença entre ser um gestor e um político. O importante é saber tomar as decisões na hora certa, evitando problemas para a sociedade, melhorar a qualidade de vida do cidadão. Quando resolvemos uma questão na área de portos, por exemplo, isto tem um impacto direto na comunidade que mora ao redor do porto e também para a economia de outras localidades.
O senhor acredita que o Brasil está preparado para integrar uma logística mais sustentável, com portos e aeroportos conectados a práticas de baixo carbono?
Com certeza. Não só está preparado como tem toda a capacidade de ser um protagonista na logística de baixo carbono. Fomos pioneiros no uso do etanol para carros e hoje temos tecnologia para desenvolver diversos tipos de combustível sustentável para aviões e navios. E isto se faz também com decisão política, com políticas públicas que estamos desenvolvendo. Dentro do MPor, por exemplo, estamos impulsionando a navegação de cabotagem (entre portos brasileiros) e nos rios, com as primeiras concessões de hidrovias da história. Queremos também estimular que as empresas do setor estejam alinhadas com esta política de descarbonização. No BR do Mar, por exemplo, são priorizadas empresas que utilizam embarcações sustentáveis. Construímos um pacto pela sustentabilidade, concedendo selos de reconhecimento a quem adota medidas de sustentabilidade ambiental, social e de governança.
O senhor vem sendo apontado como uma das novas lideranças políticas de Pernambuco. Já pensa em disputar o governo do estado ou pretende seguir no executivo federal por mais tempo?
Ficou muito feliz em ser lembrado como uma das novas lideranças da política do meu estado. Isso só me dá animo para continuar nessa caminhada dificil que é a vida pública, mas sempre em busca de ações que visem um estado mais justo e solidário. Eu tô meio acabado (risos) com meus 41 anos de idade, mas a caminhada na política já são mais de 20 anos. Nesse período, fui vereador, deputado estadual, secretário de estado, deputado federal e agora ministro do melhor presidente do Brasil que é o presidente Lula. Agora, estamos trabalhando para chegar ao Senado Federal. Eu não serei mais candidato a reeleição como deputado federal e vamos trabalhar para chegar ao Senado. Quero aproveitar o espaço até para agradecer as diversas manifestações de apoio à nossa pré-candidatura ao Senado. Agradecer a confiança do presidente Lula e a de muitos prefeitos, prefeitas, vice-prefeitos, vereadores, vereadoras, lideranças de movimentos sociais e do setor produtivo. Se Deus quiser, e estamos trabalhando para isso, vamos construir a nossa candidatura ao Senado para, se eleito for, continuar trabalhando por Pernambuco e pelo Brasil.