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Três Poderes
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Eleitor quer equilíbrio na política

Entrevistada da semana, a senadora Soraya Thronicke fala de sua atuação, da política atual e dos projetos como parlamentar

Marcelo Chaves

28/10/2025 13h00

Fotos: Agência Senado

Fotos: Agência Senado

Advogada, empresária e política, a senadora Soraya Thronicke, representante do Mato Grosso do Sul pelo Podemos, é uma figura que desafia rótulos. Em um cenário político frequentemente marcado pela polarização, ela construiu uma trajetória de independência e posições firmes, que a levaram a alçar voos ousados, como a candidatura à Presidência da República em 2022.

Recentemente, seu nome ganhou destaque nacional como relatora da CPI das Bets, onde não hesitou em questionar figuras de grande alcance nas redes sociais, demonstrando uma postura combativa e destemida que se tornou sua marca registrada no Senado. Inquieta e determinada, Soraya Thronicke é uma parlamentar que não teme o debate.

Foto: Agência Senado
Foto: Agência Senado

A senhora já disputou a Presidência da República. O que aprendeu com aquela experiência e como ela influenciou sua atuação atual no Senado?

Cada eleição é única, e toda experiência é valiosa. Essa foi a minha segunda disputa eleitoral: a primeira foi para o Senado Federal, na qual fui eleita; e a segunda, para a Presidência da República, que envolveu um alcance muito mais amplo. Durante essa campanha, tive a oportunidade de conhecer de perto a realidade de todas as regiões do nosso imenso país. Por mais que acreditemos conhecer o Brasil, nada substitui o contato direto com os eleitores em uma campanha dessa magnitude. Essa experiência ampliou minha percepção sobre a diversidade cultural, social e ambiental do país. Hoje, como senadora, ela me proporciona uma visão mais abrangente das necessidades da população e reforça a importância de fortalecer nossa economia para que todos possam prosperar. Por isso, tenho proposto e apoiado projetos que refletem essas prioridades, especialmente nas áreas de saúde, educação, segurança, emprego e renda.

O cenário político brasileiro está cada vez mais polarizado. Como a senhora enxerga o espaço para uma terceira via ou para novas lideranças no país?

Nas eleições de 2022, eu fui uma das opções da chamada terceira via, mas o país acabou optando pela polarização, com os dois candidatos centrais dessa disputa indo para o segundo turno. Respeito plenamente essa escolha do povo brasileiro, afinal, vivemos em um país livre e democrático. Agora, em mais uma disputa eleitoral, uma dessas figuras centrais não está diretamente no “jogo político”, mas atua como uma espécie de técnico de um desses polos. Vejo que os dois campos estão perdendo força, e a população demonstra cada vez mais interesse por uma opção central e equilibrada, capaz de governar para todos, independentemente de ideologias. O que realmente importa para os brasileiros são questões concretas: uma economia forte, emprego, comida na mesa, poder de compra, saúde, segurança, educação e desenvolvimento. Por isso, acredito que existe espaço para candidaturas viáveis e competitivas que se dediquem a resolver os problemas reais do país.

Como empresária e advogada, a senhora sempre destacou a importância do empreendedorismo. Quais políticas públicas considera mais urgentes para destravar o ambiente de negócios no Brasil?

Durante minha campanha à Presidência da República, apresentei a proposta do Imposto Único, que volto a defender porque, na minha percepção, os maiores desafios do país estão ligados à economia. Embora tenhamos avançado recentemente com uma reforma tributária, considero que ela ainda é fraca e insuficiente para destravar o potencial do Brasil. O empreendedorismo é um dos setores que mais se beneficiam de uma economia forte. Por isso, precisamos desburocratizar processos, criar um ambiente de mercado competitivo e oferecer incentivos fiscais para quem gera emprego. O brasileiro já é naturalmente criativo e trabalhador; nosso papel é garantir que o Estado apoie o empreendedorismo, permitindo que as pessoas possam empreender, crescer e prosperar.

O Mato Grosso do Sul, seu estado, tem uma economia fortemente ligada ao agronegócio. Como equilibrar o avanço do setor com a preservação ambiental?

Acredito que o país enfrenta um problema de conceitos pré-estabelecidos que precisam ser revistos, e a ideia de meio ambiente versus agronegócio é um exemplo disso. Não nego a importância de um olhar atento para a preservação ambiental – o planeta dá sinais claros e a ciência alerta constantemente. No entanto, é preciso reconhecer que a tecnologia atual permite que o agronegócio se desenvolva com menor impacto ambiental, e muitas dessas práticas já são aplicadas pelos produtores brasileiros há anos. Ainda assim, parte do discurso público insiste em colocar o agronegócio, responsável por colocar alimento na mesa de milhões de brasileiros, como o grande vilão. É claro que sempre há espaço para melhorias, inclusive na legislação, mas só avançaremos de forma consistente quando pararmos de transformar essas questões em brigas ideológicas. O país precisa produzir e se desenvolver, e ao mesmo tempo cuidar do meio ambiente. Isso só será possível quando deixarmos de lado interesses políticos e trabalharmos unidos pelo equilíbrio entre desenvolvimento econômico e preservação ambiental. Enquanto o debate permanecer apenas no campo das ideologias, continuaremos sem soluções práticas.

As mulheres ainda são minoria no Congresso Nacional. Que estratégias poderiam incentivar uma maior participação feminina na política?

Existem várias estratégias, muitas delas propostas por mim, para incentivar uma maior participação feminina na política. Um exemplo é o PL nº 2405/2022, que permite incluir nas despesas eleitorais os custos com o cuidado de filhos menores de 12 anos das candidatas. A ideia é dar às mulheres melhores condições de disputar uma eleição, sem a preocupação adicional com os filhos pequenos. Sabemos que um dos maiores obstáculos para ampliar o número de candidaturas femininas é justamente a dificuldade de custear uma estrutura de cuidado durante a campanha, especialmente para mulheres de renda mais baixa. Outra iniciativa de minha autoria é o PL nº 2714/2021, que determina que os recursos destinados às candidaturas femininas sejam depositados em uma conta bancária exclusiva, administrada pela organização partidária responsável pela mobilização das mulheres. Isso garante mais autonomia e poder de decisão às candidatas, evitando que sejam usadas como laranjas para beneficiar candidaturas masculinas, prática que infelizmente ainda ocorre. Existem muitas outras propostas no Congresso, mas grande parte delas ainda não avançou, por falta de interesse em fortalecer candidaturas femininas competitivas. Um exemplo recente foi a tentativa de retirar a obrigatoriedade de 30% das candidaturas femininas na reforma eleitoral. Graças à união da bancada feminina do Senado, conseguimos impedir esse retrocesso, mas é preciso permanecer vigilante e unidas para proteger os direitos conquistados. Para mim, a estratégia principal é que as mulheres apoiem outras mulheres. Há muitas candidatas extremamente qualificadas, mas que enfrentam muito mais desafios e preconceitos do que os homens para assumir cargos de liderança e poder. Fortalecer essa rede de apoio é essencial para garantir a representação que as mulheres merecem.

A senhora tem uma postura independente no Senado. Como é manter coerência e autonomia num ambiente em que as pressões partidárias e políticas são constantes?

Manter coerência e autonomia se torna mais fácil quando se tem valores firmes e foco na missão de trabalhar pelo país. Foi assim que fui eleita e é assim que mantenho minha postura no Senado Federal. Meu partido também compreende e respeita minha independência. Se não fosse assim, não estaria no Podemos. Claro que, na política, existem pressões e a necessidade constante de negociar com diferentes bancadas. É preciso ouvir, dialogar e, às vezes, ceder. Mas acredito que a maior dificuldade vem do ambiente hostil e dos discursos de ódio, muitas vezes propagados por fake news e polarização, de quem incita a base contra outros parlamentares. Se houvesse mais respeito e disposição para debater ideias com argumentos, buscar acordos em benefício da população e pensar no bem comum, seria tudo mais simples. Mesmo diante dessas dificuldades, sigo firme nas minhas convicções, mantendo minha atuação independente e sempre focada no que é melhor para a população.

Nos últimos anos, o debate sobre transparência e ética pública voltou a ganhar força. Que medidas considera essenciais para fortalecer a confiança do cidadão nas instituições?

Primeiro, é preciso investir em educação da população, e não apenas acadêmica — embora esta também seja essencial. Falo de educação política, digital e social, para que as pessoas compreendam seus direitos e deveres, saibam identificar discursos manipulados e entendam melhor o funcionamento das instituições. Parte da desconfiança nas instituições vem da onda de fake news, discursos manipulados e ataques de grupos radicais. É verdade que o próprio sistema, formado por pessoas, também pode gerar falhas, seja por dolo ou por erro. Por isso, precisamos de bases sólidas, sempre respeitando a Constituição e a democracia, que têm sido alvo de ataques constantes. Com o rápido avanço das tecnologias de comunicação, das redes sociais e agora da inteligência artificial, aumentou muito a difusão de ideias e informações, mas avançamos pouco na educação da população para lidar com isso. É essencial que os cidadãos saibam distinguir o que é real e o que é falso, o que é manipulação e o que é apenas criado para gerar medo, likes ou votos. Sou totalmente a favor da liberdade de expressão, mas isso não significa abrir mão de regramentos básicos que garantam segurança jurídica, respeito à legislação e equilíbrio no debate público.

Quais são seus planos políticos para os próximos anos? Pensa em disputar novamente o Executivo ou pretende concentrar-se no trabalho legislativo?

No momento, meus planos são disputar a reeleição ao Senado Federal pelo Mato Grosso do Sul. No entanto, a política é muito dinâmica, e os caminhos podem mudar. Assim como nunca imaginei me envolver com política e me tornar senadora, também não planejei disputar a Presidência da República. Em ambos os casos, fui convocada para representar uma parcela da população insatisfeita com as opções disponíveis, e encarei isso como uma missão. Portanto, embora tenha meus planos para a próxima eleição, também estou aberta a considerar outros caminhos dentro da política, sempre com o objetivo de servir à população e contribuir para o desenvolvimento do país.

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