A entrevistada desta semana é a senadora Leila Barros. Mais conhecida como Leila do Vôlei, a parlamentar nasceu em Taguatinga, filha de um mecânico e de uma dona de casa que migraram do Ceará para Brasília. No esporte, aprendeu sobre força, disciplina e superação. Conquistou duas medalhas olímpicas, foi comentarista esportiva e liderou um projeto social que atendeu 150 mil brasilienses. Em 2014, assumiu a Secretaria de Esportes do Distrito Federal e, em 2018, foi eleita senadora da República. Foi a primeira mulher a presidir a Comissão de Meio Ambiente do Senado, além de ter sido Procuradora da Mulher, também no Senado e, atualmente, líder da Bancada Feminina e presidente da Comissão de Esporte na Casa. Em seis anos de mandato, Leila destinou mais de R$ 611 milhões em emendas para o Distrito Federal.
A senhora saiu das quadras para a política. Qual foi a maior adaptação, lidar com adversárias na rede ou com adversários no plenário?
Fui gestora de um projeto social que atendeu cerca de 150 mil brasilienses e, na sequência, tive uma importante passagem pelo Executivo. Fui a primeira mulher secretária de Esporte do DF. Nesses quatro anos, tive a oportunidade de conhecer de perto o funcionamento da máquina pública, dialogar com o Legislativo local e com a bancada federal para buscar recursos e apoio para a secretaria. Então, quando cheguei ao Senado, já trazia essa vivência da política e do serviço público. Mas, na política, os avanços são construídos com paciência, articulação e muito diálogo. Às vezes, é preciso esperar o momento certo para colocar uma pauta em votação, amadurecer um projeto, construir consensos. Isso nem sempre acontece no tempo da urgência das pessoas que esperam por mudanças – e essa diferença de ritmo foi o mais desafiador. Mas aprendi que persistência, trabalho em equipe e resiliência fazem a diferença.

A senhora já foi Procuradora da Mulher e, atualmente, é líder da Bancada Feminina no Senado. Qual foi o avanço mais importante que conseguiu articular nessas passagens?
Foram muitas conquistas. Sou autora da Lei do Stalking, que tipificou o crime de perseguição no Brasil e hoje protege cerca de 150 mulheres diariamente. Fui relatora da lei que garante 5% do Fundo Nacional de Segurança Pública para o enfrentamento à violência doméstica, da legislação que permite às autoridades policiais afastar o agressor do convívio familiar com as vítimas e da norma que determina a apreensão de arma de fogo registrada em nome da pessoa que agredir uma mulher, dentre outras. Como Procuradora da Mulher, um dos marcos foi a articulação para derrubarmos o veto à lei que garante a distribuição gratuita de absorventes para estudantes de baixa renda e mulheres em situação de vulnerabilidade. Pode parecer algo pequeno para os homens, mas a pobreza menstrual afasta mulheres da escola e do trabalho, compromete a saúde e afeta a dignidade de muitas brasileiras. Foi uma vitória importante e simbólica. Já na liderança da Bancada Feminina, destaco dois momentos fundamentais: primeiro, a conquista da estrutura própria para a liderança dentro do Senado, um espaço físico e institucional que fortalece a atuação coletiva das senadoras. E, mais recentemente, a aprovação do projeto que deu origem à Lei 15.125, que permite o uso de tornozeleiras eletrônicas para monitorar agressores em casos de violência doméstica. Como relatora dessa legislação, fiquei estarrecida ao ver o número de medidas protetivas descumpridas. Para se ter uma ideia, só em 2024 mais de 2.300 medidas protetivas foram desrespeitadas no DF. Essa nova lei é uma resposta concreta, que visa proteger a vida das mulheres e garantir que as medidas protetivas deixem de ser apenas um pedaço de papel.
A senhora é autora de leis importantes para a proteção das mulheres. Qual outra pauta feminina considera urgente no momento?
Quando temos uma epidemia, como é o caso da violência contra as mulheres, tudo é urgente. Essa luta só será vencida com o envolvimento de toda a sociedade. É algo cultural que precisa ser trabalhado com as futuras gerações. Somente leis que endurecem penas e estabelecem mecanismos de proteção, infelizmente, não vão resolver esses problemas sozinhas. São muitas as demandas das mulheres brasileiras. Embora tenhamos avançado com importantes conquistas nos últimos anos, é preciso acelerar esse ritmo. Somos 52% da população brasileira, mas a política é um espaço majoritariamente masculino. A conta não fecha. E isso só será possível com mais mulheres na política. Por isso, considero urgente a aprovação da proposta que reserva 20% das cadeiras legislativas para mulheres. É um percentual ainda baixo, mas que vai estimular e permitir que nossa representação aumente cada vez mais.
Brasília projetou a senhora no esporte e elegeu a senhora senadora. Que tipo de laço mantém com a cidade?
Brasília é minha casa. Eu nasci e cresci em Taguatinga. Mesmo no auge da minha carreira esportiva, representando o Brasil em campeonatos internacionais, Brasília sempre foi o lugar para o qual voltei. Era para a casa dos meus pais, na QSD 39, que eu voltava para comemorar vitórias ou curar as feridas das derrotas no colo da minha mãe. Minha relação com Brasília é umbilical. Se hoje estou na política, é porque as pessoas daqui confiaram em mim e porque quero devolver à cidade tudo o que ela me deu. Meu desejo é que cada criança e jovem do DF tenha a oportunidade de trilhar um caminho de sonhos, como eu tive. Seja pelo esporte, pela cultura ou pela educação.
Que políticas públicas a senhora tem defendido no Senado para garantir mais acesso ao esporte para crianças e jovens das periferias?
Minha principal meta é garantir que o esporte chegue para todos, especialmente para as crianças e jovens. O esporte é uma política pública transversal. Ele contribui para a saúde, ajuda na educação, promove a cidadania e é uma ferramenta de prevenção à violência. Desde o início do mandato, tenho defendido a ampliação dos investimentos em projetos sociais esportivos, especialmente em áreas de maior vulnerabilidade, e a reorganização do segmento esportivo, que conseguimos recentemente, com a aprovação da Lei Geral do Esporte, da qual fui relatora. Como presidente da Comissão do Esporte, sempre que posso, digo: o brasileiro tem o direito e precisa vivenciar o esporte. Mesmo que não se torne um atleta olímpico, é pelo esporte que formamos cidadãos com mais saúde, autoestima e preparados para os desafios da vida.
Há alguma nova proposta em defesa das mulheres que a senhora pretende apresentar ou colocar em votação ainda neste mandato?
Temos, pelo menos, dez projetos que estão tramitando e que queremos colocar em votação neste ano. Entre eles: o PL 2.664/24, de minha autoria, que torna imprescritível o crime de estupro; o PL 2.293/23, que estabelece que o estupro de vulnerável se consuma independentemente de ter ocorrido contato físico direto entre o agente e a vítima; o PL 2.874/23, que cria um novo tipo penal para o crime de assédio sexual; o PL 5.993/23, que trata da prescrição da pretensão de reparação civil em favor da vítima de assédio sexual praticado no âmbito das relações de trabalho; o PL 1.364/22, que trata do registro de boletim de ocorrência e da solicitação de medida protetiva de urgência por meio eletrônico ou telefone; e o PL 1.977/24, que impede a prestação de alimentos ou a partilha de bens adquiridos na constância do casamento em favor do cônjuge ou companheiro agressor.
Em um país com tantas urgências, o que a senhora considera hoje sua principal contribuição concreta à população do DF e do Brasil?
Minha maior contribuição é ter conseguido transformar a vida de milhares de brasilienses. Os relatos que tenho ouvido me dão a certeza de que os recursos que destinei para Brasília estão chegando a quem mais precisa. É emocionante ver mulheres segurando seus diplomas e conquistando autonomia financeira graças a um projeto social, assistir a uma criança descobrindo o esporte e receber o retorno de um morador que conseguiu fazer um exame aguardado há anos. É isso que me move. Meu mandato tem lado e tem propósito. Meu time coloca as pessoas em primeiro lugar.