O embaixador Hadil da Rocha Vianna exerce o cargo de Cônsul-Geral do Brasil em Milão desde 2022. Anteriormente, foi embaixador na Polônia. De 2015 a 2018, exerceu o mesmo cargo no Uruguai. Nascido no Rio de Janeiro, graduou-se em Ciências Jurídicas na Faculdade Cândido Mendes e, em 1981, no Curso de Preparação para a Carreira de Diplomata do Instituto Rio Branco, a academia diplomática brasileira.
No exterior, serviu, de 1985 a 1988, na Delegação Permanente do Brasil junto aos Organismos Internacionais sediados em Genebra, de 1988 a 1991, na Embaixada em Quito e, de 1993 a 1997, na Delegação Permanente junto à ALADI e ao MERCOSUL, no Uruguai. No Ministério das Relações Exteriores, de 2011 a 2015, foi subsecretário-geral para Cooperação, Cultura e Promoção Comercial.
Do ano de 2006 até 2011, o diplomata foi diretor do Departamento de Temas Científicos e Tecnológicos. A partir de 2011, como subsecretário-geral, coordenou, na chancelaria brasileira, estratégias e ações relacionadas com a cooperação internacional (técnica, educativa, cultural e esportiva), bem como com a promoção do comércio de bens e serviços e de investimentos, sendo reconhecido pela atuação.

O senhor viveu momentos marcantes representando o Brasil em diferentes países. Quais foram os principais pontos de convergência que observou entre as diplomacias europeia e latino-americana?
Para responder a esta pergunta de forma sucinta, vou ater-me a apenas um aspecto do relacionamento entre países europeus e aqueles latino-americanos nestes tempos marcados por conflitos não só bélicos, mas, principalmente, econômico-comerciais. De fato, desde o início da guerra envolvendo a Rússia e a Ucrânia, os países europeus renovaram seu interesse no fortalecimento das relações transatlânticas que visassem ao estreitamento do comércio da Europa com a América Latina. Naquela época, a preocupação europeia mais divulgada voltava-se para a questão da segurança alimentar. Essa preocupação evoluiu, intensificou-se e assumiu contornos multifacetados diante das medidas tarifárias norte-americanas e do atual confronto comercial entre os Estados Unidos e a China. Como resultado, por exemplo, as diplomacias dos países europeus e latino-americanos empenharam-se na busca de mercados alternativos e, nesse contexto, na assinatura do Acordo de Livre Comércio entre o Mercosul e a União Europeia, cuja negociação se arrastava por mais de 20 anos.
Durante sua missão no Uruguai, como o senhor percebeu a relação bilateral entre os dois países, especialmente no campo cultural e econômico?
Servi como embaixador junto ao governo uruguaio de 2015 a 2018. Lembro-me que iniciei minha apresentação durante a sabatina na Comissão de Relações Exteriores do Senado dizendo que as relações entre o Brasil e o Uruguai eram consideradas “paradigmáticas”. De fato, durante minha missão em Montevidéu, pude constatar como brasileiros e uruguaios desfrutam de uma relação historicamente fraternal, que muito se deve, no passado, à atuação do Barão do Rio Branco na resolução de questões fronteiriças. Hoje, tanto no campo cultural, como nos domínios da cooperação e das trocas comerciais, ambos os países se beneficiam desse relacionamento exemplar.
O Uruguai é conhecido por sua política progressista e pela estabilidade institucional. Há lições que o Brasil poderia aprender dessa experiência?
O Uruguai é conhecido por seu pioneirismo histórico no tratamento das liberdades sociais (divórcio, questões ligadas aos direitos da mulher e à jornada de trabalho, entre outros temas). Ajudaria a explicar esses êxitos na adoção de políticas publicas pioneiras o tamanho da população uruguaia. Para o Brasil, de dimensões continentais e diversidade marcante, essas tarefas são naturalmente muito mais complexas. Um aspecto do perfil da sociedade uruguaia chamou minha atenção durante o exercício de meu mandato. Pude notar que o sistema educacional público facilita e incentiva o contato duradouro do indivíduo com a aquisição de conhecimento, o que gera louváveis benefícios coletivos.
Na Polônia, um país com forte identidade nacional e história complexa, quais foram os maiores desafios e aprendizados de representar o Brasil naquele contexto?
Representar o Brasil na Polônia foi um privilégio. Também foi uma excelente oportunidade para conhecer melhor um belíssimo país, seu povo e sua história. Mas, sobretudo, foi muito gratificante divulgar a imagem do Brasil e notar o interesse que nosso país desperta. Afinal de contas, Curitiba é a cidade que mais concentra descendentes de poloneses na América Latina. Quanto aos desafios, lembro-me dos intensos esforços da embaixada em Varsóvia no sentido de repatriar brasileiros durante a pandemia e também durante o início da guerra entre a Rússia e a Ucrânia.
Como cônsul-geral em Milão, o senhor acompanha de perto a comunidade brasileira na Itália. Que aspectos dessa convivência mais o impressionam?
É muito gratificante notar a sensação de estar em casa que um brasileiro revela ao visitar as instalações do Consulado-Geral. Mais gratificante ainda é o reconhecimento da qualidade dos serviços prestados pelos funcionários, que permanentemente tanto se esforçam para garantir o bem estar da comunidade brasileira.
Quais iniciativas o Consulado-Geral em Milão tem desenvolvido para fortalecer os laços entre Brasil e Itália, especialmente nas áreas de cultura e negócios?
O Consulado Geral do Brasil em Milão conta, além de um atuante setor de assistência consular, de um setor de promoção do comércio e de investimento, de um setor de divulgação cultural e de um setor de ciência, tecnologia e inovação. A jurisdição do Consulado-Geral estende-se pelas oito regiões do Norte italiano, onde vivem cerca de 90 mil brasileiros. Mantemos contato permanente não só com as autoridades locais, mas também com empresas italianas, instituições de cooperação e de ensino, associações comerciais, com o Corpo Consular de Milão e, naturalmente, com representantes da comunidade brasileira no Norte da Itália.
A carreira diplomática exige constante adaptação a novos contextos e culturas. Que conselhos o senhor daria aos jovens que sonham seguir o caminho do Itamaraty?
Creio que, acima de qualquer qualidade, quem pensar em seguir a carreira diplomática deve ter certeza do amor que sente pelo Brasil.
Depois de tantas experiências internacionais, o que o senhor considera mais gratificante na missão de representar o Brasil no exterior?
Para mim, continua sendo extremamente prazeroso representar, da melhor maneira possível, nosso país, defendendo nossos interesses, apresentando ao estrangeiro nossa gente, nossa cultura, nossa história, nossas qualidades e, sobretudo, nossos potenciais.