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Sem Firula

Sem rumo

Arquivo Geral

28/06/2016 7h00

Atualizada 27/06/2016 15h17

As fortes declarações de Lionel Messi, afirmando que não jogará mais pela seleção argentina, têm vários significados e rumos a serem analisados. E todos, absolutamente todos os rumos e significados têm razões de ser, têm motivos para existir e não devem, de modo algum, serem ignorados. O que passou e passa pela cabeça de um jogador que não tem de provar mais nada ao mundo, mas continua sendo questionado e, até, humilhado por seus compatriotas é, sim, a questão fundamental.

Se o leitor teve a oportunidade de acompanhar a final da Copa América, incluindo a prorrogação e os pênaltis, deve ter observado que, desde o momento em que perdeu a penalidade até a cerimônia de premiação Messi ficou só, ou melhor, o único que dele se aproximou foi um membro da comissão técnica com ares de segurança. Nenhum dos companheiros chegou perto para um abraço, uma palavra de consolo. Podemos avaliar (e aqui já entramos nos vários significados e rumos) que eles, os jogadores, sabem como é Messi e avaliaram que naquele momento ele preferia ficar só. Pode ser.

Mas, quem sabe, não era uma primeira reação a mais uma falha do “maior do mundo” quando está jogando com a camisa de sua seleção? Somos todos humanos, às vezes, até sem querer, cometemos atos impensados que mais nos afastam dos amigos que nos aproximam. Não dizem que até as mães, sem desejar, colocam “olho grande” nos seus bebês? Pois bem… Será que Messi é uma unanimidade entre seus companheiros? Será que todos ficam felizes em serem considerados apenas coadjuvantes para um jogador que, com a seleção, nada ganhou?

Messi deve refletir e, acredito, voltar atrás. Haverá grande comoção popular para isso. E, talvez, essa declaração do “não jogo mais aqui” tenha vindo exatamente para isso: diminuir as críticas que voltarão, com força, para dizer que com a camisa da seleção ele não nem sombra do jogador do Barcelona. Exagero. Tanto que Messi é o maior artilheiro da história da seleção argentina. Ultrapassou Batistuta exatamente durante a Copa América Centenário, chegando a 55 gols (destes, 10 de pênalti e cinco de falta, e o Brasil é uma de suas maiores vítimas, tendo sofrido quatro gols). E foi o time de Batistuta que conquistou o último título do futebol argentino, em 1993. Coincidências…

É claro que não foi o pênalti perdido por Messi que definiu a derrota. Mas, como ouvi um rapaz falando no ônibus, ontem, a caminho do trabalho, ele era o único que não poderia errar. Se depois dele todos tivessem isolado a bola, ninguém falaria nada, ou melhor, diriam que realmente não era para ser. Mas como a Argentina começou a série perdendo, com um erro dele, Messi, o mundo caiu sobre sua cabeça.

Pela primeira vez a mídia argentina não o culpa pela derrota. Talvez por causa do anúncio de sua retirada. Retirada, aliás, que talvez seja seguida por outros jogadores, segundo informações que vêm da Argentina. E, vejam só, uma das razões para a debandada pode ser a mudança do comando da equipe: há forte pressão para que Diego Simeone, treinador do Atlético de Madrid, assuma o time. E muitos jogadores já disseram, ou pelo menos deram a entender, que não gostariam de trabalhar com o treinador, conhecido por seus métodos excessivamente duros e até grosseiros. Sem falar que o futebol argentino perderia um tanto de sua fantasia. Seria a implantação do futebol de resultados. O próprio Messi talvez tenha (tivesse, terá, sei lá) que alterar seu estilo de jogo. Viram como são muitos e variados os significados e rumos que a perda do título impõe à Argentina?

Messi não tem o que provar como craque que é. Falta-lhe, sem dúvida, alguma grande grande conquista com sua seleção nacional. Nenhum jogador “entranha” na alma do torcedor se não ganhar nada pelo seu país. Fica sendo para sempre um “jogador de clube”. E no caso de Messi, que não tem uma história com um clube argentino (como Tevez tem com o Boca Juniors, por exemplo), essa sensação de orfandade do torcedor é ainda maior. Quando, daqui a alguns anos, forem falar de grandes da seleção, Messi sempre será relegado a um segundo plano porque Maradona, por exemplo, ganhou duas Copas – uma praticamente sozinho. E ele, Messi? “Perdeu o pênalti na Copa América Centenário”, dirão uns; “teve problemas nervosos e vomitou na final do Mundial contra a Alemanha”, lembrarão outros.

Se a situação da seleção brasileira é grave, com um novo treinador buscando rumos, a da Argentina, desde a madrugada de ontem, é muito grave. Perder seu maior jogador (e quem sabe mais alguém) pode provocar um problema de difícil solução. Como faltam dois meses para a volta das eliminatórias pode ser que tudo se ajeite, mas, neste momento, eu diria que a Argentina jogará as partidas de setembro sem Messi. E o Barcelona, claro, ficará feliz da vida com essa decisão do seu maior craque – e ídolo.

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