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Sem Firula

Normalidade

Arquivo Geral

06/12/2016 13h49

O Grande Prêmio de Fórmula 1, na França, em 2017, voltará a ser realizado no circuito de Paul Ricard. A Corte Arbitral do Esporte negou o recurso de Joseph Blatter e ele continua banido do futebol por pelo menos mais seis anos. A Copa RS sub-20 de futebol prossegue hoje depois de, na primeira rodada, apenas o Fluminense dentre os times cariocas que participam não ter sido derrotado. O novo contrato com a televisão prevê queda de arrecadação, ou melhor, diminuição de pagamento já no primeiro ano de rebaixamento.

Parece que está tudo normal, de novo, no Reino Unido Brasileiro do Futebol, não é mesmo? Não. Tudo continua como há uma semana, quando todos fomos surpreendidos com a notícia do acidente com o avião que conduzia a equipe da Chapecoense para o sonho da final da Copa Sul-Americana.

Por mais que tentemos dizer que não, a tragédia percorrerá nossas vidas por muito tempo. Ainda mais quando vemos, de forma praticamente imediata, que um helicóptero caiu em São Paulo conduzindo uma noiva. Outro sonho desfeito. E aí, para nós, jornalistas esportivos, vêm de novo o pensamento “podia ter sido comigo, podia ter sido com qualquer um de nós”. Como disse, vai ser difícil, por muito tempo, não ter o pensamento no acidente quando se ficar sabendo que vamos viajar – e eu já me preparo para ir a Seul, em maio de 2017, para o congresso anual da Associação de Imprensa Esportiva Internacional.

No sábado, estive ao lado da sede do Botafogo, onde eram velados alguns amigos. Instintivamente virei o olhar para o nada quando passei pela porta. Não queria ver o que lá dentro acontecia, apesar de, depois, à noite, ter mergulhado em todos os noticiários. No domingo até me programei para prestar a última homenagem a mais amigos que partiram. Me vesti, falei com as crianças que talvez não almoçasse com eles e… Acabei parando num supermercado, fiz algumas compras e voltei para casa. Abracei forte os meninos e disse apenas que decidira voltar.

À tarde, depois do almoço, só em casa não liguei a televisão como faria habitualmente se não tivesse ido a algum jogo. Não quis saber se alguém transmitia o Campeonato Francês, o Italiano ou o Espanhol. Quis apenas ficar olhando para o teto do quarto sem pensar em nada. Ou pensando em tudo. Acho que adormeci. Mas eram tantos os pensamentos que sinto que fiquei mais cansado do que estava antes. A cabeça não parava de pensar, imaginar fatos, lembrar histórias, viajar… Viajar…

Amanhã teremos a final da Copa do Brasil. Novas homenagens, novos pensamentos, novas dores. Acredito que Grêmio e Atlético Mineiro ficarão juntos, no centro do campo, no minuto de silêncio. E, ao contrário do que normalmente acontece, tenho certeza deque, desta vez, o minuto de silêncio será realmente silencioso. Seguido de palmas, talvez. Quem sabe algum torcedor puxe um “vamo Chape” durante a homenagem. Terá eco? Não sei. Difícil falar qualquer coisa neste momento sobre o tema.

Se tudo tivesse corrido como normalmente acontece o Atlético Nacional já estaria em Curitiba para o jogo de volta da final da Copa Sul-Americana. Depois de classificar-se para a semifinal do Clausura do Campeonato Colombiano, o time de Medellin embarcaria para o Brasil e, depois da partida decisiva, viajaria de novo – desta vez para o Japão, onde disputará o Mundial de Clubes contra os campeões da Europa, da Oceania, da Concacaf, da África, da Ásia e o campeão japonês. Mas não.

Com o acidente, o Atlético Nacional deixou sua Medellin diretamente para o Japão. Para a fase decisiva do seu campeonato nacional ficou uma equipe mista, reserva (lembrando que os principais reservas, claro, embarcaram para a Ásia). Em território japonês, sem a escala no Brasil que poderia render seu segundo título internacional do ano, o Atlético Nacional irá jogar, como seus próprios jogadores fizeram questão de dizer, para honrar a Chapecoense. Querem os colombianos ser campeões para dedicar o título ao time brasileiro que viajou por um sonho e encontrou o céu. Definitivamente.

A normalidade pode até querer se chegar. De mansinho, pode cobrar atos e decisões, mas por muito tempo vamos lembrar apenas da dor que ficou. E isso não pode ser normal para ninguém.

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