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Sem Firula

Em homenagem

Arquivo Geral

12/12/2016 11h40

Lupicínio Rodrigues foi, para este colunista, o maior compositor brasileiro de músicas de fossa, ou de dor de cotovelo. Seu talento para descrever, sem meias palavras, sentimentos obscuros e tristeza só podia ser comparado ao amor que sentia pelo Grêmio. Este amor era tão grande que foi ele, Lupi (perdoem a intimidade), quem compôs o hino do tricolor gaúcho – aquele que fala “até a pé nos iremos, para o que der e vier, mas o certo é nós estaremos, com o Grêmio, onde o Grêmio estiver…”
Pois ontem, Lupicínio Rodrigues, se vivo estivesse, certamente teria inspiração para escrever mais uma de suas belas composições de tristeza. Mas seria uma falsa tristeza, ou melhor, seria uma tristeza carregada de alegria: Lupi poderia escrever sobre o rebaixamento do Internacional, o maior rival do seu amado Grêmio. Na tristeza da degola do Colorado, Lupi veria a alegria da porção azul do Rio Grande do Sul festejar. E a cada verso de tristeza em ode ao Internacional iria sorrir por dentro.

Em 1972 Lupicínio Rodrigues escreveu um de seus maiores sucessos. “Vingança” fala exatamente deste contraste de sentimentos: a alegria de um ex-amor em descobrir que sua antiga paixão está destruída pelas ruas. Exatamente como aconteceu ontem. O Internacional, que orgulhosamente se auto-intitula “campeão de tudo”, foi parar na Série B. E ironizar a passagem do Grêmio pela Segundona era o maior dos orgulhos dos colorados. Acabou, ou melhor, desde ontem, os dois têm esta triste passagem no currículo.

O Internacional fez uma campanha digna de rebaixamento. Há tempos estava no Z-4. Tanto tempo que seus torcedores foram, aos poucos, aceitando a ideia de deixar a elite do futebol nacional com alguma resignação. Pediam luta até o fim, mas sabiam que a situação era crítica. As últimas atitudes de seus cartolas, querendo buscar no tapetão punição ao Vitória e, pasmem, desejando igualar a tristeza de um possível rebaixamento ao drama vivido pela Chapecoense (inclusive com insinuações de virada de mesa) acabaram jogando lama na dignidade que a galera procurava manter sobre a situação.

Ontem, quando se consumou o rebaixamento, o Internacional não precisava apenas de seus esforços para livrar-se. Não bastava derrotar o Fluminense no Rio de Janeiro. Não. Havia a necessidade de Vitória e/ou Sport tropeçassem. Era demais, mesmo para o mais otimista dos torcedores do Colorado. Ou para as loucuras do treinador contratado a três jogos do fim da odisseia.

Se em Salvador o Palmeiras lutava por uma vitória que não representava nada mais para ele, em Recife o primeiro tempo terminava 0 a 0 – mesmo placar dos 45 minutos iniciais no Rio de Janeiro. Só que, assim que a bola voltou a rolar na capital pernambucana, o Sport fez o gol que seria suficiente para garantir sua permanência na Série A. E a situação só fez piorar quando, às 18h30, o Fluminense marcou seu gol. Aí, o Colorado passou a precisar de seis gols para salvar-se – isso, claro, se os demais resultados se mantivessem. Mas em momento algum o Internacional dava mostras de poder reagir.

As lágrimas que se viam do lado dos cerca de 500 torcedores do Internacional que estavam no estádio contrastavam com a festa dos gremistas que engrossavam a torcida do Fluminense. No lado tricolor carioca, muitos lembravam da Copa do Brasil de 1992, que o Internacional vencera, em cima do Fluminense, com um pênalti que não existiu. Era, 24 anos depois, também a vingança da equipe do Rio de Janeiro. O Fluminense ainda teve outras chances e o Internacional empatou ao 42 do segundo tempo, mas o empate em nada servia. E o gigantesco Colorado foi mesmo para a segunda divisão nacional.

Ah… Para quem não conhece a letra de “Vingança”, reproduzo alguns versos e aconselho que pesquisem no Google – verão como é linda a produção musical de Lupe: “Eu gostei tanto, tanto, quando me contaram, que lhe encontraram chorando e bebendo na mesa de um bar… O remorso talvez seja a causa do seu desespero… Você deve estar bem consciente do que praticou… Mas enquanto houver força em meu peito eu não quero mais nada… Só vingança, vingança, vingança aos santos clamar…”

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