Se você está no ambiente organizacional, educacional, empreendedor ou inovador a algum tempo, certamente percebeu que a palavra “Chefe” se transformou em sinônimo de negatividade, obsolescência e autoritarismo e, em contrapartida, o termo “Chief” ganhou contornos de modernidade e contemporaneidade.
Quantas vezes já ouvimos a popular frase “Quem tem chefe é índio!” Denota algum sentido depreciativo, tanto à figura quanto à etnia? Em algum momento já refletiu sobre a validade dessas palavras?
Vamos então refletir sobre dois pontos e relembrar aspectos importantes da frase tão popular que suscita desconfianças em seu caráter excessivamente afirmativo.
Primeiro, a palavra “Chefe” como referência ao universo indígena, significa posição de extrema responsabilidade, compromisso, comprometimento, incumbência e dever para com seu povo, tribo, grupo, comunidade ou etnia.
Portanto, é uma posição com grandes responsabilidades, tem-se o dever de cuidar de si próprio, de outrem e do conjunto. Trata-se de uma vida imersa em liderança, comando, orientação, condução, regência, gestão, administração e governação.
Ora, não é esse o papel de um gestor público ou privado nas organizações?
Segundo, as competências necessárias para exercer o papel de “Chefe” no universo indígena exige certas competências, tais como distribuição de responsabilidades entre os membros sob sua liderança, controle social, tomada de decisões, cuidar e ajudar o grupo, gerir os recursos, organizar as ações do grupo, estruturar grupos de trabalho, solucionar conflitos, realizar aconselhamentos, punições e reconhecimentos.[1][2]
Pois bem, não são esses os conhecimentos, habilidades e atitudes que esperamos de um gestor público ou privado nas organizações?
Os Chefes do Universo Corporativo
No mundo corporativo, nos acostumamos com a adoção de termos da língua inglesa, e entre eles estão os conhecidos “C” dos “Chief” americanos. Tornaram-se presentes no vocabulário organizacional com status de inquestionáveis.
O termo “Chief” em inglês tem como sinônimos head (cabeça), boss, (patrão), leader (líder), commander (comandante) e master (mestre), entre outros.
Na língua portuguesa o termo “Chefe” possui como sinônimos comandante, líder, capitão, mestre, diretor, dirigente, encarregado, gerente, patrão, superintendente, entre outros.
Ora, ora… Não é estranho demonizarmos a palavra na língua portuguesa e endeusarmos na língua inglesas? Vejamos [3]:
– CEO (Chief Executive Officer) – Diretor ou diretora geral ou presidente da empresa. É o cargo que está no topo da hierarquia empresarial.
– CFO (Chief Financial Officer) – Cargo de Direção Financeira. Esses profissionais comandam a administração e planejamento financeiro da empresa.
– CIO (Chief Information Officer) – Diretor ou Diretora de Tecnologia da Informação. Cargo cada vez mais importante nas empresas devido a digitalização dos negócios.
– CMO (Chief Marketing Officer) – Cargo de Direção de Marketing. Profissionais coordenam e administra todas as ações de Marketing da companhia, o que inclui cuidar da marca institucional, posicionar-se no mercado e trazer resultados com as tecnologias de marketing.
– COO (Chief Operating Officer) – Cargo de Diretor de Operações. As Operações da empresa são as atividades principais que geram receita para o negócio.
– CTO (Chief Technical Officer) – Diretor Técnico ou Diretor de Tecnologia. É mais presente em empresas que atuam de forma digital.
– CPO (Chief Product Officer) – Diretor de Produtos. Essa pessoa comanda as atividades relacionadas aos produtos da organização, como concepção, projeto, produção, mapeamento e correção de problemas, além de identificar oportunidades de melhorias e novos produtos.
– CHRO (Chief Human Resources Officer) – Diretor de Recursos Humanos; Gestão de Pessoas.
– CCO (Chief Communications Officer) – Diretor de Comunicação. É o líder de comunicação corporativa e responsável pelas relações da empresa com a imprensa, os clientes e a comunidade.
– CLO (Chief Legal Officer) – Diretor ou Diretora Jurídico. É responsável por proteger legalmente a empresa e deve garantir que as estratégias da companhia atendam as questões jurídicas.
– CKO (Chief Knowledge Officer) – Diretor de Conhecimento. Deve gerir o capital intelectual da organização e o conhecimento dos profissionais em relação ao negócio.
Certamente a lista de “Chiefs” não se esgota aqui, bem como, outras novas surgirão no tempo com a evolução dos negócios, dos serviços e produtos, do mercado, dos profissionais, das empresas e organizações mundo afora.
Sendo assim, deixo aqui minha contribuição e uma sugestão: CBF (Chief Business Partner) – Diretor de Parcerias de Negócios. Haja criatividade…
O Chefe Chief
Em qual momento da história organizacional o termo Chefe se tornou pejorativo e desfavorável a quem o recebe ou é apontado como tal?
Será que os modismos e as necessidades constante de se criar algo novo no ambiente organizacional precisa depreciar coisas, pensamentos e conceitos mais antigos?
Pois bem, muito desse pensamento depreciativo de “Chefe” e superlativo de “Chief” povoa meus pensamentos com frequência e fico tentado e reproduzi-lo no dia a dia. Faz-se necessário a necessidade de refletirmos, ponderarmos e raciocinarmos sobre situações semelhantes a essa.
De certo, o ponto comum, convergente, harmonizante, conciliante e finalístico de “Chefe” ou “Chief” é a busca constante em desenvolver conhecimentos, habilidade e atitudes que potencialize as competências pessoais necessárias para o desempenho profissional nas organizações.
Vale apena rever os artigos ‘Inovação em Pessoas e evolução do Mindset’ e ‘Altruísmo, uma competência para Inovadores e Empreendedores’, relacionados ao tema gestão de pessoas e profissionais organizacionais.
Portanto, independente da denominação, a “pessoa” é o centro da atenção, investimento, transformação e potencialização, o maior valor que uma organização pode desenvolver, ter ou adquirir em sua existência.
Assim sendo, em um ato conciliatório, sugiro adotarmos e tratarmos profissionalmente todos como “CC”, “Chefe Chief”!
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[1] TAPIRAPÉ, Edimilson Kaxanapio. A função do Cacique Apyãwa com sua comunidade. TCC – Curso de Graduação Licenciatura em Pedagogia Intercultural. Faculdade Intercultural Indígena. Universidade do Estado de Mato Grosso. Barra do Bugres, 2016. [2] FAUSTINO, Rosângela Célia. Política educacional nos anos de 1990: o multiculturalismo e a interculturalidade na educação escolar indígena. Tese de Doutorado. Pós-Graduação em Educação. Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2006. [3] CEO, CFO, CIO, CMO… Você sabe o significado? CATHO, 2019. Disponível em: <https://www.catho.com.br/carreira-sucesso/carreira/lideranca ceo-cfo-cio-cmo-voce-sabe-o-significado/>. Acesso em: 24 de jan de 2021.
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Prof. Manfrim, L. R.
Fanático em Gestão Estratégica (Mestrado). Obcecado em Gestão de Negócios (Especialização). Compulsivo em Administração (Bacharel). Consultor pertinente, Professor apaixonado, Inovador resiliente e Intraempreendedor maker.
Explorador de skills em Gestão de Pessoas, Gestão Educacional, Visão Sistêmica, Holística e Conectiva, Marketing, Inteligência Competitiva, Design de Negócios, Criatividade, Inovação, Empreendedorismo e Futurismo.
Coautor do Livro “Educação Empreendedora no Distrito Federal”. Colaborador no Livro “O futuro é das CHICS: como construir agora as Cidades Humanas, Inteligentes, Criativas e Sustentáveis”.
Navegador atual nos mares do Banco do Brasil, Jornal de Brasília e Instituto Brasileiro de Cidades Inteligentes, Humanas e Sustentáveis. Já cruzei os oceanos da Universidade Cruzeiro do Sul, Centro Universitário do Distrito Federal (UDF), Cia Paulista de Força e Luz (CPFL), IMESB-SP, Nossa Caixa Nosso Banco, Microlins SP, Sebrae DF e Governo do Distrito Federal.
Contato para palestras, conferências, eventos, mentorias, hackathons e pitchs: [email protected].
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