Se alguém dissesse em 2018 que o ex-presidente Lula, então condenado a mais de 10 anos de prisão sob um cenário de anos de ataques da Operação Lava Jato, teria chances reais de ganhar uma corrida eleitoral em um primeiro turno — algo que nunca conseguiu em seus melhores anos de aprovação — certamente seria acusado de maluco. O que aconteceu para que, em quatro anos, isso mudasse drasticamente?
Três pontos centrais parecem responder esse questionamento: rejeição, memória e frente ampla. Vamos a eles:
Rejeição
A rejeição do atual presidente da República é algo nunca visto após a redemocratização em 1988. Bolsonaro é o primeiro mandatário que disputa a reeleição com mais de 50% de desaprovação da população. Pior do que isso, na última pesquisa Datafolha, eram 56% as mulheres que rejeitavam o chefe do Executivo. Com números tão significativos, mesmo com um pacote de bondades do governo de última hora, uma vitória parece inviável, o que abre espaço para os concorrentes.
Memória
Em uma eleição em que o eleitorado não está satisfeito com o presidente e procura por mudança, o normal seria o surgimento de novos nomes com possibilidades de vitória. Porém, vivemos uma crise econômica e a fome voltou a assolar a população carente. Nesse contexto, a memória faz a população fazer uma escolha mais segura, de algo que ela viveu e aprovou. O governo Lula representa essa lembrança. Com 87% de aprovação no final de seu mandato em 2010, Luiz Inácio tem índices altíssimos de intenção de votos entre os mais pobres.
Frente ampla
Não foram poucos os candidatos que tentaram formar uma frente ampla. Muito se falou de uma terceira via que criaria essa frente. Mas Lula foi mais habilidoso, escolheu um adversário histórico para vice. Na última semana reuniu ex-adversários das mais diversas correntes, de liberais a socialistas, em uma foto que ficará para a história.

Faltando menos de uma semana para as eleições, os principais institutos de pesquisa constatam uma real possibilidade de vitória em primeiro turno. Os outros candidatos obviamente perceberam esse risco e lutam para evitar que isso aconteça. Ataques pessoais, acusações de corrupção, discursos emocionados, tudo está sendo feito pelos demais candidatos. Veremos se essas ações terão resultado até o próximo domingo.