Na última quinta-feira (18), tivemos a primeira pesquisa presidencial realizada após o início da campanha eleitoral pelo Datafolha, instituto de grande credibilidade e que realiza sua pesquisa presencialmente — seus números são uma fotografia do cenário atual e apontam quais os desafios das campanhas. Os candidatos que aparecem nas duas primeiras posições são os mesmos, Lula e Bolsonaro de fato estão polarizando a corrida à Presidência e não parece haver espaço para surpresa. Mas apesar de consolidados, ambos têm desafios importantes para suas pretensões. Existem públicos em que eles não conseguem interlocução e precisam mudar isso com urgência.
Lula já foi presidente da República, tem um histórico de governo que conversava com evangélicos, inclusive, com lideranças em cargos importantes, caso de Marcelo Crivella, um dos líderes da Igreja Universal e ministro de governos petistas. Mas o seu desempenho dentro desse público tem piorado pesquisa após pesquisa. Enquanto o ex-presidente tem 32% de intenção de votos entre os que se identificam como evangélicos, Bolsonaro aparece com 49%.
A equipe do petista sabe que os evangélicos representam uma parcela importante da sociedade, 25% da população total, e não podem fazer uma campanha vitoriosa com tanta rejeição em um grupo tão numeroso. Com a dificuldade de incluir nas falas do ex-presidente conteúdos que agradem e se aproximem com o pensamento evangélico, na última semana decidiram criar perfis específicos nas redes sociais para dialogar com esse público.
Com valores conservadores e majoritariamente das classes sociais mais baixas, evangélicos têm rejeitado a maneira com que Lula se comunica, bem como suas posições nas redes. A ideia de perfis exclusivos para conversar com esse grupo mostra que os coordenadores da campanha do ex-presidente sabem da importância em ter uma nova narrativa para conversar com esse público com características distintas.
Por outro lado, o presidente Bolsonaro conseguiu ser competitivo entre as mulheres nas eleições vitoriosas de 2018, porém as pesquisas mostram que no pleito de 2022 existe uma grande dificuldade de conversar e principalmente cativar esse público. Na última pesquisa Datafolha, ele aparece com apenas 29% de intenção de votos entre mulheres, enquanto Lula lidera nesse segmento com 47%. Com discurso agressivo, muitas vezes apresentando posturas machistas e patriarcais, a campanha do atual presidente tem alterado o interlocutor para com o público feminino, na tentativa de mudar o cenário de rejeição.
A esposa do presidente, Michelle Bolsonaro, tem sido a arma para tentar criar um novo canal de diálogo com as eleitoras. Até então presença tímida na mídia, a primeira-dama tem se transformado em figura central da campanha. Seja em palanques espalhados pelo país ou nas inserções de rádio e televisão, Michelle vem defendendo, através de uma fala suave e direcionada para as mães, uma nova narrativa que o presidente não consegue fazer em seus discursos.

Ambas campanhas acompanham as pesquisas e tem seus próprios métodos para mensurar a preferência do eleitorado. O desafio de alterar a comunicação, portanto, tem que ser rápido e ter efeitos imediatos. A maior presença de Michelle e perfis em redes sociais para falar com evangélicos são os próximos passos de Bolsonaro e Lula, respectivamente, para crescer a intenção de votos. O resultado poderá ser medido nas próximas pesquisas.