10 anos separam as manifestações de junho de 2013, que iniciaram como uma manifestação contra o aumento da passagem de ônibus e terminou com com a subida na rampa do Congresso Nacional, da invasão aos Três Poderes no último dia 08, onde tentou-se um golpe para a derrubar o presidente democraticamente eleito. Apesar de pautas diferentes, uma construção histórica conecta de forma umbilical esses acontecimentos. Ambos estavam nas ruas pela insatisfação com o atual sistema democrático.
Considero que existem três fatores principais que nos levam até o atentado visto no dia 08 de janeiro deste ano em Brasilia. São eles: globalização, redes sociais e pautas identitárias.
A globalização possibilitou que a população mundial se aproximasse mais. Produtos produzidos na China hoje são encontrados em larga escala em qualquer lugar do mundo; grandes empresas americanas têm sede em todos os continentes, faturando bilhões de dólares. Com a criação de gigantes conglomerados econômicos, os governos, principalmente dos países subdesenvolvidos, perdem poder de decidir o futuro de sua população. Uma nação como o Brasil, por exemplo, fica refém de decisões de multinacionais para gerar emprego e renda.
A ascensão de movimentos de extremistas é evidente. Uma parcela da população está insatisfeita com seus representantes, que não conseguem atender suas demandas. Esse grupo vai reclamar e se unir nas redes sociais, onde a comunicação direta, sem mediadores, associada à ausência de fiscalização, permite a difusão massiva de desinformação e de teorias conspiratórias que fortalecem o extremismo.
Por fim, temos as pautas identitárias, que, nos últimos 20 anos, têm conseguido algumas conquistas para grupos até então negligenciados pelo poder público, como indígenas, LGBTQIA+, entre outros. A parcela de extremistas de uma nação é avessa a qualquer transformação social e não aceita abrir mão de determinados privilégios e posições. Portanto, um nordestino, ex-metalúrgico, apoiado por indígenas e moradores de rua é algo inaceitável para eles.
São estes os fatores que foram se interligando e explicam o caminho que inicia em 2013 e chega a 2023. Prisões e condenações, por si só, não darão fim aos grupos extremistas. É preciso entender sua origem para lidar com o problema enraizado em nossa sociedade.