Provavelmente a última vez que vivemos uma mudança tão radical dentre mandatários do país, foi na redemocratização, com a saída do militar João Figueiredo e a vitória de Tancredo Neves (o vice, José Sarney, assumiu após sua morte). O mundo está ansioso para saber quais serão os novos caminhos que o Brasil irá trilhar.
Bolsonaro e Lula são uma antítese no que diz respeito a visão política. Um, de origem militar, cresceu politicamente com mandatos seguidos na Câmara dos Deputados, conhecido pelo conservadorismo. Quando eleito, governou com um número considerável de militares em todas as áreas. Por outro lado, Lula tem origem no sindicalismo, ganhou destaque na política nacional concorrendo à Presidência da República (foi derrotado três vezes), é apoiador das pautas identitárias e governou com acadêmicos e lideranças sindicais nos dois primeiros mandatos.
Pelo caminho trilhado por cada um, é possível entender as diferenças na forma de governar. Lula descentraliza o poder em vários ministérios, visando construir um diálogo com os representantes da sociedade civil. Para o petista, as organizações sociais são organismos ativos da sociedade. Muitos dos seus ministros são oriundos das organizações sociais, e neste mandato, não deve ser diferente. Já Bolsonaro optou por escolher para ocupar cargos-chave em seu governo, militares de alta patente com histórico de crescimento e reconhecimento pelos trabalhos prestados nas Forças Armadas.
A visão econômica também é outro ponto de contraste entre ambos. O agora ex-presidente apostou em Paulo Guedes e um liberalismo clássico. O discurso de menos Estado e mais Mercado foi o que regeu o governo nos últimos quatro anos. Isso teve uma alteração devido à pandemia da covid e a necessidade de criar um auxílio emergencial para as famílias, mas no geral, a criação da Secretaria Especial de Desestatização e Privatizações é o grande legado econômico. Lula deixa claro que vai por outro caminho: a escolha de Haddad para comandar a Economia reforça a visão petista de um Estado forte e que regule a atuação do mercado.
Obviamente, com divergências tão claras, a transição não poderia ser tranquila. Foram ofensas e ataques de ambos os lados. O novo governo pegará a máquina andando e sem muitas instruções de como estava sendo conduzida.
Milhares de nomes do segundo e terceiro escalão serão trocados nos próximos meses. O anúncio dos novos ministros criou uma expectativa em toda sociedade, os novos estão sendo tomados em alta velocidade. Uma certeza se pode ter: o verde-oliva não será mais a cor da moda na Esplanada dos Ministérios.