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Nem às paredes confesso

As verdadeiras armas contra a COVID 19.

Sheila Aragão

27/06/2020 19h19

Covid 19

Está difícil manter a sanidade na quarentena. O telefone toca e eu já fico apavorada com o papo que vai rolar. Desde as vendas absurdas – aquela história de Promoção do Ômega 3 não para e pelo fixo a venda de seguro funeral é a recordista. Não dá mais para deixar minha mãe aos 82 anos atender telefone! Sem contar, a galera estressada, considero que seja o estresse do enclausuramento, que, nos grupos de WhatsApp, tem perdido a linha desqualificando o coleguinha pelo outro não concordar com ele. Caramba!!!! Está praticamente impossível concordar com alguma coisa ou com alguém!

Estamos vivendo um momento no qual é preciso ligar os filtros, em todos os sentidos. Desde a conversa mais banal, porque ela pode te surpreender (ou seria assustar?), até os assuntos mais sérios em reuniões de trabalho. A frase “de perto ninguém é normal” imortalizada num programa humorístico da TV protagonizado pela atriz Julia Rabelo, nunca me pareceu tão… NORMAL!

Mas tem horas que, em meio a posse do novo ministro da Educação Carlos Decotelli com a missão de fazer melhor do que o seu antecessor Abraham Bragança de Vasconcellos Weintraub (???); os últimos números da COVID 19; as loucuras de Tereza Cristina de Mendonça e Albuquerque, personagem interpretado brilhantemente por Christiane Torloni na novela FINA ESTAMPA e a história real do sumiço de Fabricio Queiroz explicado pelo advogado Frederick Wassed; realmente é preciso gritar: “Para o Mundo que eu quero descer!”

Foi isso que fiz hoje. Parei tudo, até que o celular tocou com uma amiga sussurrando no telefone apavorada: “Tenho uma história louca para te contar! A minha vizinha que estava no Rio de Janeiro há anos resolveu voltar para Brasília por conta da Pandemia e da situação na capital carioca. Acredita que ela está tão enlouquecida com o vírus que mandou instalar 70 câmeras no terreno, cortou o wi-fi dos caseiros, e proibiu os dois de saírem de casa, para não a contaminar.”

E continuou… “Ela trabalhou com política anos, depois ficou desiludida, é muito honesta, e resolveu voltar para a cidade natal. Mas está apavorada com a COVID. Fuma, feito uma chaminé, tem 65 anos, apesar de não parecer, e parece que perdeu a noção. Você não acha?”

Antes que eu pudesse responder ou comentar qualquer coisa, minha amiga continuou: “Ah, e só estou sabendo disso, porque vi o movimento de operários na semana passada, num entra e sai da casa. A vizinha chegou, no domingo e eu nem percebi. O movimento parou totalmente no fim de semana. Os caseiros estavam até então animados com a volta da patroa, tão querida. Só que não sabiam ao certo o dia da chegada. Não vi mais ninguém depois de domingo.”

Tentei fazer um comentário enquanto minha amiga respirava, mas qual o quê, ela retomou: “Agora há pouco o caseiro me chamou por cima de muro e contou essa história toda rapidinho. Diz que não pode sair nem para fazer compras. Está sendo obrigado a comer as refeições sofisticadas que a esposa dele prepara para a patroa. Está desesperado porque não vai mais poder comer rabada, dobradinha, um bom músculo com batatas, sardinhas, nem poder tomar a cervejinha dele com o distanciamento social que tem feito há mais de 90 dias. Mas justificou que a dona da casa não é muquirana e não está economizando com ele e com a mulher, podem comer tudo “aquilo ” A jovem senhora apavorada colocou câmeras até dentro do canil e em cada buraco do quintal e das casa principal e a do caseiro. É um Big Brother. Só não tem câmeras no banheiro e no quarto dos caseiros, para não invadir a intimidade dos dois! O rapaz me chamou para saber se eu acho que tem mais coisa do que COVID 19 nessa história.”

Minha resposta foi rápida, buscando em minhas leituras apaixonadas de Shakespeare, frase clássica de Hamlet a Horário: “Há mais coisas entre o céu e a terra,” amiga, “do que pode sonhar sua vã filosofia.” E aqui usei no contexto que Shakespeare mostra no original teatral, sem classificar a filosofia ou a racionalidade como vãs e fúteis. E sim porque é temerário legar todas as soluções da existência ao nosso limitado cérebro. Ainda mais em tempos como os de Pandemônio (Pandemia do demônio) que estamos vivendo. E desliguei sem muitas explicações porque o celular chamava de novo. E corri para tentar um papo melhor.

Do outro lado da linha outra amiga querida, direto de Paris, já em situação de flexibilização da quarentena, me conta algo interessante, em tempos de contatos virtuais: “Falando agora com minha mãe no Brasil, que é Espírita, há 95 dias sem sair de casa, somente com a cuidadora, que é evangélica, um anjo da guarda em nossas vidas, propus uma oração. Iniciamos e pouco depois, a entidade protetora de minha mãe, que não tinha contato com ela desde 1998, começou a me dar um passe magnético através do celular, que estava na mão da cuidadora. Foi um momento lindo, emocionante. Minha mãe ficou incorporada até o final dos passes e nos dar uma benção. Com toda a serenidade do mundo, a entidade foi embora e minha mãe, que é médium inconsciente, voltou. Chorei, a cuidadora chorou e minha mãe enternecida pela possibilidade que nos foi oferecida. Te liguei amiga, só para falar que as coisas boas prevalecem!”

Nos despedimos com a certeza que enquanto alguns enlouquecem, não percebem a oportunidade que existe em todo este processo que estamos passando. Sem mi, mi, mi e sem tentativa de angariar simpatia para esta ou aquela facção de seja lá o que tenhamos falado (escrito) aqui, agora, a tolerância e a paciência são as grandes armas para vencemos essa guerra. E para essas armas, não são necessários liberação de portes.

Até semana que vem, ou em edição extraordinária! #tamonunto

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