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Moda

Marcas apostam em roupas adaptadas

Além das adaptações no guarda-roupa feitas pelos próprios pacientes, marcas do ramo têxtil estão criando coleções focadas nesse público

Redação Jornal de Brasília

26/12/2019 9h28

Atualizada 10/02/2020 13h06

Desde 2017, a aposentada Selma Oliveira Almeida Ferreira, de 56 anos, não usava uma legging. Renata Viana, de 39 anos, tinha o sonho de voltar a sair de jeans. Daniel Silva de Souza, de 30 anos, não queria mais esconder a prótese. Após participarem de uma oficina na Rede de Reabilitação Lucy Montoro, os três, que têm deficiência, reformaram peças que haviam deixado de usar e perceberam que a moda pode ser inclusiva.

Além das adaptações no guarda-roupa feitas pelos próprios pacientes, marcas do ramo têxtil estão criando coleções focadas nesse público, para trazer autoestima, conforto e autonomia para cadeirantes, amputados e pessoas com deficiência visual. “Quando tem um problema de saúde, a gente deixa de querer se arrumar. Eu só usava calças largas para poder usar com a prótese, mas não usava legging desde a amputação”, conta Selma, que precisou fazer o procedimento após complicações que teve em uma cirurgia

Há 12 anos, a estilista Daniela Auler desenvolveu um projeto de moda inclusiva na Rede Lucy Montoro. “A moda inclusiva é pensada na diversidade dos corpos e é sustentável, porque, em uma calça que seria jogada fora, podemos abrir a lateral e colocar um zíper. Isso facilita na hora de se vestir”, exemplifica.

Um zíper que custou R$ 3 permitiu que Renata voltasse a usar calça jeans após oito anos. “Sentia falta, mas dependia de outras pessoas para me ajudar a vestir”, diz a aposentada.

As pessoas com deficiência dizem que, além de conforto e autonomia, querem se mostrar como são. “Eu não gosto de esconder a prótese. A oficina não trabalhou só a moda, mas a autoestima. Temos uma impressão de que a deficiência é feia, a gente pensa que não pode se vestir com determinadas roupas, mas não é assim”, afirma Souza, que sofreu um acidente de moto em 2014 e teve o braço e a perna do lado direito amputados.

Marcas e coleções focadas nesse público têm surgido com a proposta de peças atemporais e funcionais. Neste mês, a Riachuelo lançou sua primeira linha inclusiva.

Desenhada pelo estilista Alexandre Herchcovitch, a coleção tem bolsos embutidos e velcro ou elástico para fechar as peças. Segundo a marca, a concepção das roupas teve consultoria da Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD).

“Não foi fácil fazer essa coleção, porque exige um desenvolvimento grande para ser confortável e fomos na AACD justamente para ver o que estava certo e o que não estava”, conta Marcella Kanner, gerente de marketing da Riachuelo. As peças estão disponíveis no site da marca e a meta é, no futuro, oferecer as peças nas lojas físicas e ter coleção para as crianças.

Peças inclusivas

Um vestido de noiva adaptado foi o primeiro projeto de Drika Valerio, fundadora da marca Aria Moda Inclusiva. “A gente vende autoestima, conforto, bem-estar, autonomia e praticidade. O que a pessoa levaria 40 minutos para fazer com ajuda, faz em cinco minutos sozinha. Tem pessoas que levam até duas horas e meia para trocar de roupa. Elas acabam ficando em casa, têm depressão, baixa autoestima.”

A loja é virtual e os preços variam entre R$ 69,99 e R$ 89,99 “Não adianta fazer uma marca inclusiva e não ter um preço acessível”, diz Drika.

A empatia por paratletas conduziu a estilista Silvana Louro ao trabalho nesse ramo. Ela é a idealizadora da Equal, que, além de roupas, tem acessórios para pessoas com deficiência.

“A roupa dá identidade e faz uma ponte para a pessoa se comunicar com o mundo. A procura está crescendo, mas é importante ter mais marcas.”

Presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel crê que o ramo deve crescer. “Ainda tem um longo caminho, mas vai crescer porque é preciso pensar em todos e pensando no design, na forma para as pessoas ficarem bem.”

Psicóloga da Rede Lucy Montoro, Daniele Araújo explica que a roupa promove o resgate da participação e do convívio social. “Sair de casa envolve ter de se vestir. Algumas pessoas evitam beber água para não ter vontade de ir ao banheiro por causa da dificuldade para subir o zíper ou abotoar a calça. O impacto (da moda inclusiva) é maior liberdade para ser aquilo que é, mais alegria e satisfação com a própria vida”, destaca.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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