Alguns dias após o filho ter sido vítima de uma abordagem truculenta por parte da Polícia Militar do Rio de Janeiro, com demais adolescentes, em Ipanema, a embaixatriz do Gabão, Julie-Pascale Moudouté fez um desabafo em conversa com a coluna. Uma das embaixatrizes mais atuantes de Brasília, realizadora de ações solidárias em favor de brasileiros carentes e instituições de caridade do DF, ela se diz chocada e revoltada com o ocorrido.

A ação policial envolvendo adolescentes de 13 e 14 anos, foi registrada por uma câmera de segurança de um dos prédios residenciais da região. O grupo de amigos negros só foi liberado após um adolescente branco revelar aos policiais que eram estrangeiros, moravam em Brasília e que estavam a turismo no Rio. “Meu filho sofreu um trauma muito grande, e após o ocorrido começou a desenvolver sintomas de síndrome de pânico”, disse a embaixatriz.
Naturalizado gabonês, o estudante Jean-Emmanuel tem 13 anos e estuda na Escola Francesa de Brasília. Após o ocorrido, a mãe disse que ele desenvolveu medo de sair sozinho e entrou em depressão. “Eu e o pai dele (o embaixador do Gabão no Brasil, Jacques Michel Moudouté-Bell) fomos ao Rio buscá-lo após o fato. Ele estava de férias na casa de um amigo e jamais imaginei que uma cena dessas poderia ocorrer a uma criança de 13 anos.”
Julie revelou para a coluna que o filho teve que iniciar tratamento com uma psicóloga, tamanho o trauma de ter uma arma apontada para a cabeça. “Ele não quer falar muito sobre o assunto. Mas de acordo com os amigos, também vítimas da ação, ele foi o mais maltratado no momento da abordagem”, comentou Julie. A Delegacia de Atendimento ao Turista (Deat) e a Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (Dcav), investigam o caso.
O jovem foi ouvido por videoconferência, na presença de advogados, de psicólogos e de representantes do Itamaraty. “Estamos com quatro advogados e já ingressamos na justiça contra os responsáveis. Ninguém pode ser tratado dessa maneira, nem estrangeiros e nem brasileiros. Casos assim acontecem todos os dias e ninguém toma providência. Este episódio tem que servir de exemplo. Os policiais precisam ser melhor treinados”, finalizou Julie.