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X-Tudo com bacon

Arquivo Geral

22/01/2019 7h00

Atualizada 21/01/2019 20h06

De férias por esses dias, pude participar de uma experiência chamada “all inclusive” num hotel. Significa que comidas e bebidas já estão dentro do que você pagou. Pode se esbaldar. Mas, quando você chega lá, percebe que tem outras coisas das quais você não pode participar. Ué! E como fica a palavra “all” nesse contexto? Então, lembrei-me do tal x-tudo com bacon com que me esbaldava no Rio de Janeiro. Vamos falar de pragmática nesse contexto.

Como funciona o “all inclusive”

Nessa chamada “experiência”, você se hospeda em um hotel onde seu consumo de alimento e de bebida está totalmente incluído. Não somente nas refeições de horário – café da manhã, almoço e jantar –, mas também nos petiscos de beira de piscina e praia, nos lanches eventuais ou até nas paradinhas nos bares e lojas de docinhos espalhados pelo complexo.

Ocorre que, caminhando pelo local, havia espaços, benefícios, eventos que eram exclusivos para uma categoria de pessoas com pulseirinhas de cor diferente. O seu “all” (palavra da língua inglesa que, traduzida para o português, significa “tudo”), na verdade, não era tão “all” assim. Havia algumas restrições. O que me fez lembrar do x-tudo com bacon.

E aquele sanduíche completão

No Rio de Janeiro, começaram a ficar bastante populares aqueles sanduíches de hambúrguer vendidos em barraquinhas que começavam com o, hoje famoso, “x-qualquer coisa”. Claro que o “x” era uma simplificação do “cheese” do inglês, que quer dizer queijo e está em quase todos os sanduíches.

O completão é chamado de “x-tudo. Ele varia de acordo com a barraquinha e depende do que o dono tem por lá. Alguns contam com presunto, outros não. Tem ervilha e milho? Também depende. O fato é que, em alguns, começou a aparecer o tal “x-tudo com bacon”. Opa! Tal qual o “all” do “inclusive”, como colocar mais alguma coisa no que já tem “tudo”? Denúncia: o tudo não é tudo!

Fechando com a pragmática

Já vi muitas confusões entre semântica e pragmática. A primeira fala sobre os diversos significados das palavras. Considero mais simples porque o dicionário ajuda. Já a segunda, além do significado, exige conhecimento do uso da palavra na prática. Ali ela muda e não se encontra no dicionário o que quer mesmo dizer.

A palavra “tudo”, no dicionário, tem significado totalmente compreensível. Nem se vai ao “pai dos burros” procurar “a totalidade das coisas”. Então, por que um sanduíche que tem tudo tem especificado que há algo mais especial nele? Pragmaticamente, você precisa entender por que há essa diferença. Essa particularidade só ocorre nesse ambiente de venda de sanduíches. Sem entender a prática desse comércio e a evolução de um simples x-tudo para o que tem algo mais, fica difícil compreender. Imagine um estrangeiro nesse contexto. Nem um dicionário ajuda. O que mostra que é uma questão de pragmática e não se semântica, sacou? Coma um x-tudo e entenda melhor.

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