Menu
Notícias

Você usa muitos oximoros?

Arquivo Geral

27/11/2018 7h00

Atualizada 26/11/2018 22h32

Palavras feias que querem dizer coisas lindas. Para mim, oximoro está nessa lista. Aliás, uma palavra que eu já ouvi muita gente falar como proparoxítona erradamente (“oxímoro”). Mas atente para seu caráter paroxítono mesmo: oximoro (com a pronúncia do “ó” aberta). Parece nome de animal (acho que me lembro dos oxiúros). Vamos desvendar esse mistério, e você vai ver que não há mistério algum.

O significado dessa figura de linguagem

Certamente você já deve ter usado ou, pelo menos, já ouviu falar a expressão “silêncio ensurdecedor”. Ora, claro que se estamos falando de algo que é marcado essencialmente pela ausência de som, como, portanto, pode causar surdez? Temos aí uma aparente contradição, não é mesmo?

Ocorre que essa é justamente a marca do oximoro: termos que se contrapõem trazendo um reforço para a expressão. Nesse caso, a palavra silêncio seria reforçada por qualquer adjetivo. Imagine um “silêncio siderúrgico” ou um “silêncio cibernético”. O interlocutor já sabe que se quer exagerar o substantivo. Entretanto, com um termo que o confronta, surge o oximoro, para demonstrar, nesse caso, que o silêncio não era nada esperado. Portanto, gritou alto.

E o que quer dizer a palavra em si?

A palavra oximoro é composta por dois termos gregos: o primeiro, “oxi”, tem significado múltiplo, como, “inteligente”, penetrante”, algo como “aquele que entende facilmente”. Já o segundo termo, o “moro”, significa “sem inteligência”, “tolo”, “privado de conhecimento”.

Dessa forma, a própria palavra oximoro forma um oximoro. É como se a expressão falasse uma estultícia com sabedoria. Ou pode ser que algo que aparentemente demonstra um desconhecimento está, na verdade, apresentando uma realidade mais profunda do que parece.

Seu uso em vários gêneros do discurso

O oximoro pode ser utilizado como um recurso de linguagem e também uma forma de retórica. Já foi encontrado como estratégia para apresentar belos textos poéticos, como lembrou o professor José Luiz Fiorin, ao estudar o tema, no soneto de Camões que tenta explicar o amor: “Amor (…) é ferida que dói e não se sente, é um contentamento descontente, (…) é um andar solitário entre a gente…”.

Hoje em dia mesmo, estamos vendo escrever e falar por aí, por conta dos ânimos acirrados na política, a expressão “ódio do bem”. Essa classificação de que algo abominável pode ser para o bem aplaca o julgamento contrário a algo pelo qual alguém acaba tendo simpatia. E como condenar-se por se solidarizar por alguém que age com tamanha bestialidade? Usando a locução adjetiva “do bem”. Aí, tudo bem, né?

Por fim, fica a certeza de que oximoro, na verdade, é uma palavra que mostra uma beleza monstra. É a bela e a fera resumidas em um só vocábulo.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado