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AS ELEIÇÕES E AS PALAVRAS

Arquivo Geral

02/10/2018 7h00

“Não há desventura ou desgraça que não venha unida a alguma ventura, nem mal que seja mal somente.” Palavras de Meister Eckhart, místico do século 13, que trabalhava de forma brilhante com as letras. Com essa afirmação, vemos que, mesmo das piores experiências, podemos tirar boas lições. Vivemos neste mundo tão cheio de antagonismos radicais. Algo tão bom pode ser classificado como ruim, porque seu lado deficiente é enfatizado. Sempre haverá críticas a qualquer coisa que se fale ou faça. Palavras…

Presidente e presídio – uma mesma raiz

O verbo presidir, que em português significa governar, vem do latim “praesidere”. Palavra composta pelo prefixo “prae-“ (antes) unido ao verbo “sedere”: algo como “ser antes”, ou seja, estar na primeira posição, aquele que é responsável. Desse verbo, surgiu “praesidente”, aquele que está na posição de governar. Eram, na época, os líderes das províncias.

Desse mesmo verbo, veio o substantivo “praesidium”. Significava a força empregada para defender uma praça militar ou uma fortaleza. A propósito, se você for ao dicionário agora, vai verificar que a primeira acepção de presídio é essa. Lá na frente você encontra “prisão militar”. A palavra chegou até aí por ser um lugar de segurança, para onde se mandavam os condenados para seu confinamento.

Voto – prometer aos deuses

O verbo “vovere” e o substantivo “votum” (ou “voto”) trazem na sua carga de significado alguma promessa que se faz a uma divindade. Ainda pequeno, criado com uma fé protestante, eu ouvia minha avó falar em “fazer um voto a Deus”. As promessas eram contestadas, mas se chamasse de “voto” poderia? Sempre me soou estranho. Depois a história da palavra me esclareceu isso.

O voto, basicamente, consiste em pedir algo e, pelo que se afirmou no voto (ou promessa, né?), eu vou retribuir como “gratidão” (ou pagamento?). Mais pra frente, parece que os ingleses foram os primeiros a utilizarem essa palavra para demonstração da atividade de um parlamentar ou de um eleitor. O que se espalhou pelo mundo.

A elite – os escolhidos

Essa palavrinha, que traz arrepios a muita gente, demonstra prestígio no meio de algum grupo. Mas também pode ter suas conotações pejorativas. Ocorre que ela é o particípio do verbo francês “élite”, que significa escolher, eleger. Traduzindo: elite nada mais é do que eleito, escolhido.

Hoje em dia, a ojeriza à classe política, que toma conta de muita gente, faz espalhar a ideia de deixarmos de escolher os que já estão vivendo a labuta parlamentar: evitar a “elite”. Contudo, segundo nos mostra o particípio do eleger, os “eleitos”, automaticamente, passam a ser parte da elite. Lá estarão e serão elite, trabalhando como elite. Continuarão sendo um de nós? Honrarão nossos votos? Ou sairão da presidência para o presídio? Mesma coisa? Dúvida cruel de muita gente!

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