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DO (RES)SILENCIAMENTO

Redação Jornal de Brasília

20/08/2019 16h33

Silenciar é fazer com que alguém se cale sobre algum assunto. O silenciamento atinge um grupo de pessoas com identidades específicas, e há temas que também são tocados por ele. Vamos falar sobre isso, porque a situação é grave em muitos casos. Dar voz ao que se cala é o princípio do fim de muitos sofrimentos. Esse também é um fato estudado em linguística.

O silenciamento e o abuso de poder

Para compreendermos a gravidade do silenciamento, temos que entender que é um fato que ocorre intrinsecamente ligado ao abuso de poder. É quando alguém que tem autoridade, reforçada pela organização da sociedade, extrapola os limites e parte para o autoritarismo. Muitas vezes, isso leva a um abuso da vida da outra pessoa.

O silenciamento atinge pessoas que são caracterizadas por uma identidade silenciada historicamente, como mulheres, negros, crianças, empobrecidos e outras, dependendo do ambiente social. Ele também fica marcado em temas específicos, como apontou Foucault, para sexo, violência, política e outros. Nesses ambientes e com essas pessoas, quem tem mais poder tende a fazer o outro esconder sua opinião, seus fatos, seu sofrimento…

Como entender o fenômeno

O silenciamento não se caracteriza somente por um “cale a boca”. Ele é sutil e, muitas vezes, referendado por uma instituição de autoridade da própria sociedade. Para compreendermos como funciona, e como os autoritários utilizam-se dele, imaginemos a relação criança/adulto. Logicamente, afirma-se que as crianças precisam respeitar os adultos. Já imaginaram o tanto de criança que tenta falar sobre um abuso e se depara com “é coisa da cabeça de criança” ou “senhor fulano é uma pessoa séria, jamais faria isso”? Diante de tais afirmações, a criança se cala… e não fala mais sobre o fato grave.

Outra forma de utilizar o poder para silenciar pode ocorrer em ambientes de trabalho. Uma mulher que sofre assédio por parte de um patrão resolve comentar com alguém. Se o assunto chega ao conhecimento do seu superior e ele a convoca para uma “reunião” em que a ameaça de perder o emprego, como fica? Tenta-se dar coragem para falar, mas, em muitos casos, quando a coragem de falar surge e nada ocorre com o abusador, ela volta a se calar. Aí, surge o que chamo de ressilenciamento. Fato muito mais grave.

O ressilenciamento

Muita gente tenta superar o trauma do silenciamento denunciando situações de abuso, de agressão, de ameaça de aproveitamento. Entretanto, imagine essas identidades que já são naturalmente sem credibilidade tentando mostrar seu sofrimento e recebendo impunidade em sua história. Quando voltam a ser ameaçadas, o medo as faz retornar ao silêncio.

Esses fenômenos são detectados nos discursos e estudados pela linguística. Precisam de mais divulgações insistentes e corajosas. Vamos romper o silêncio?

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