Eu nasci nesta ilha
Sempre soube das tesourinhas
São antigas de verdade
ao contrário das agulhinhas
que são pura novidade
Também andei de zebrinha
E no Moka’s tomava uma casquinha
e agora me pergunto porque tanto “inha”
Deve ser pela arquitetura de concreto
e suas poderosas (entre) linhas
A ilha também tem superlativos
como Eixão, Bulcão e Minhocão
Alguns superlativos no público
como o Beirute e, certa época, o Estação
(Cento e Nóia)
Porque a gente queria se enturmar
Véi, maneiro,
palha e camelo
(Certamente, são de outro lugar)
Fizemos deles nossa língua
que forasteiros podem estranhar
Mas também, pudera, numa terra
onde no céu podemos surfar
Dar um pulo na Ermida para fingir que está no mar
Comer uma Dom Bosco, a pizza
Mas saber que este nome pode profetizar
Uma terra sem esquinas
Sem comida típica para degustar
Mas sempre tivemos caldo de cana
pastel da Viçosa
e pipoca rosa para nos alimentar
Xingada indiretamente
por conta dos políticos que cá estão
Sendo que quem nasceu aqui só tá pensando
se conhece o fulano do Maristinha ou do Maristão
Todo mundo estudou junto
ou com a prima do vizinho do amigo do seu irmão
Ele passou num concurso sério
Mas lembro de quando andava no Gilberto Salomão
Ir com família no Fritz, no Korea House
e no ‘Chinão’
Tantos fecharam, como Papardelli e o Borghese
Mas, hoje, sei que muitos durarão
Porque quem ficou, gostou da ilha
Soube que mesmo sem mar e indústria
Escondia suas maravilhas
Gente nova e gente antiga
Gente má e gente amiga
Todo mundo misturado
nesta ilha
que é nossa amada
Brasília.