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(in) Formação

Sobre Mourão e amantes

Questionado se poderia trocar seu companheiro de chapa na tentativa de reeleição em 2022, Bolsonaro disse que, “por enquanto”, está “casado” com seu vice

Marcus Eduardo Pereira

05/12/2019 5h01

O Vice-Presidente, General Hamilton Mourão, recebe Marcelo Marangon e Shawn Suullivan, CEO do Citibank.

Rudolfo Lago
[email protected]

O ex-presidente Lula gostava de usar metáforas de futebol. O presidente Jair Bolsonaro gosta de usar metáforas com casamento. Questionado se poderia trocar seu companheiro de chapa na tentativa de reeleição em 2022, Bolsonaro disse que, “por enquanto”, está “casado” com seu vice, o general Hamilton Mourão, “sem amante”.

Bem, quem andou comunicando recentemente que seu “casamento” com Mourão anda em crise foi o próprio Bolsonaro. Na reunião em que oficializou seu rompimento com o PSL e a criação de seu novo partido, o Aliança pelo Brasil, o presidente aproximou-se do deputado Luiz Philippe de Órleans e Bragança (PSL-SP) e disse que se arrependia de não ter escolhido ele como seu candidato a vice, “e não esse Mourão aí”.

Já dizia o ex-governador de Minas Gerais Magalhães Pinto que “política é como nuvem; você olha, está de um jeito, olha de novo, já mudou”. Mas, a julgar pelo quadro de hoje, não parece que seja desejo de Bolsonaro seguir com Mourão nas próximas eleições.

No momento, as maiores especulações e conversas nos gabinetes engravatados da Esplanada dos Ministérios apontam para a possibilidade de que Mourão seja trocado na chapa pelo ministro da Justiça, Sergio Moro. Em tese, parece se formar aí uma composição fortíssima. Mas é justamente nessa soma que mora o perigo.

Há sempre um risco – no mínimo pela vaidade das pessoas – quando o vice tem potencial para se tornar mais popular que o titular. E há esse risco com Moro. Seu trabalho como juiz da Lava Jato o colocou como uma espécie de super-heroi para muitos que o identificam como o protagonista dos esforços havidos nos últimos tempos de combate à corrupção. No fundo, as rusgas que já aconteceram — e foram bem maiores — entre Bolsonaro e Moro já tiveram relação com isso.

O cálculo que se fará para estabelecer com quem Bolsonaro estará “casado” em 2022 deverá levar em conta quem ajuda a agregar e restabelecer aproximações e movimentos necessários a partir das ações do presidente desde o momento em que tomou posse.

As brigas, as disputas, as radicalizações de discurso em alguns momentos, têm feito Bolsonaro se afastar do centro e da direita mais moderada. E a verdade é que, entre esses grupos que têm se afastado está a alta cúpula militar, no governo representada por Mourão e outros.

Se como candidato a vice, Mourão se apresentava como um falastrão perigoso, depois que tomou posse ele convergiu para uma posição bem mais sensata e moderada. E passou a agir como algodão entre cristais, amenizando e mesmo corrigindo falas mais desastradas de Bolsonaro.
Mas aí projetou-se a mesma sombra que se arrisca numa troca por Moro: foi parecendo maior que o titular. O “casamento” entrou em crise.

Se o general for trocado em 2022, significará um afastamento de Bolsonaro da alta cúpula militar. Um afastamento que de certa forma já se ensaia. Nas suas atividades, percebe-se que o presidente mais e mais se aproxima das baixas patentes militares. Vai à formatura de sargentos e oficiais de baixo escalão. No fundo, sempre foi essa a base de Bolsonaro. E o generalato, na verdade, torcia o nariz para isso, considerando que ele agia como uma espécie de sindicalista militar.

Numa conversa com um general da alta oficialidade do Exército logo depois das eleições, ele me confidenciou que o então comandante do Exército, general Villas Bôas, não votou em Bolsonaro no primeiro turno. Fez essa opção somente no segundo turno, na polarização com Fernando Haddad, do PT. Ao general, restava de Bolsonaro a ideia inicial de que fora um militar indisciplinado e pouco confiável. Mas, se era ele a opção conservadora posta, seguia-se com ele.

O fato é que, na guinada conservadora dada pelo Brasil, a influência política do alto oficialato tornou-se peça importante do xadrez. Acompanhar para onde se movimentará a turma fardada da Esplanada é fundamental para saber para onde seguirá o país.

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