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Histórias da Bola
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O clássico das satélites

Gama e Taguatinga disputavam um dos principais duelos dos inícios do futebol candango

Gustavo Mariani

05/09/2021 12h13

Foto: Gabriel L. Mesquita

Durante as cinco primeiras temporadas do futebol profissional candango – iniciado em 1976 –, os dirigentes eram o que se poderia chamar de heróis. Na época, a galera só queria ver os grandes jogos cariocas que a extinta TV Tupi transmitia, com Zé Cunha narrando e o repórter Antônio ‘Faísca’ Augusto comentando os lances e correndo atrás da rapaziada dentro do gramado, para as entrevistas. Aos jogos do DF, só comparecia meia dúzia de amigos, parentes e namoradas dos jogadores.

Naquela base, as vezes, a gente da Editoria de Esportes do Jornal de Brasília combinava com os comandantes de times (não eram clubes, mesmo!) para eles inventarem alguma motivação para as copntendas. Pra uma delas, Gama x Taguatinga, que a gente tentava fazer de o “Clássico das Satélites”, o presidente gamense, Osvando Lima, exagerou. Anunciou até pedido de exame antidoping, que nenhum laboratório do DF fazia, a não ser os da Polícia Federal e da Universidade de Brasília, que não tinham nenhum convênio, neste sentido, com a então Federação Metropolitana de Futebol-FMF.

Como aquela promoção fora bola fora, Osvando Lima aproveitou o fato de uma revistinha especializada em informações sobre a Loteria Esportiva (ainda estava na moda) apontar o Gama como zebra no teste da semana e tentou um novo lance. Sugeriu aos fumantes fumarem menos por aqueles dias e guardarem o dinheiro do cigarro para aposta na Gama, dizendo que o Taguá seria ponto certo. E mais: convidou a galera a comparecer ao 13º andar do Palácio do Comércio, no Setor Comercial Sul, para conhecer a taça que o antigo Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal iria entregar à FMF, para ficar exposto em uma loja do Conjunto Nacional, até o meio-dia do domingo. “Depois, irá para a maior sala de troféus do futebol candango”, fanfarronava o Osvando.

E rolava a promoção. Osvando dizia que o Gama montaria a maior prateleira de “canecos históricos” do futebol da terra e esta seria incluída, obrigatoriamente, no roteiro turístico dos desportistas que viessem ao DF. Mais um exagero: o time gamense só tinha quatro taças, as do bi do Torneio Incentivo-1877/1978 e dos campeonatos candangos de profissionais e de juvenis-1979. Mas, estava valendo. Pra completar, ele divulgou a escalação do seu time, com cinco dias de antecedência, para Eurípedes Bueno – treinador e faz tudo no Taguá – “ter medo de quem iria enfrentar”. E revelou: Chico; Carlão, Quidão, Manoel Silva e Edvaldo; Wel, Manoel Ferreira e Júlio; Roldão, Santana e Alves. Mais uma bola fora de Osvando, pois Santana era meio-de-campo, jogava mais recuado, e aparecia na escalação como centroavante.

De sua parte, o Taguatinga anunciava a contratação de “um grande jogador”, que estava sendo regularizado junto à Confederação Brasileira de Desportos-CBD, para estrear naquele “clássico”. Balela! O Águia não tinha dinheiro para isso. E classificava o pedido de exame antidoping do rival como “querer se promover às custas do time de maior torcida no futebol candango”, respondiam os dirigentes do Taguá.

No meio da promoção, inventou-se que o Taguatinga havia enviado um espião aos treinos do Gama e que este vira Santana treinando como camisa 9, a fim de explorar o seu chute fortíssimo. Então, Eurípedes disse que “centroavante improvisado será um bom zagueiro pra gente”. E também antecipou a sua escalação, para mostrar que não tinha medo do adversário, que seria o visitante: Carlos; Aldair, Dão, Vaner e Nonato; Renê (Lelé), Warlan e Elmo; Belo, Zecão e Zé Vieira.

Resumo da ópera: com dois dias de promoção, o Brasília anunciou que pediria os pontos do empate, com o Taguatinga, porque Zecão jogara irregularmente. E não se falou mais no “Clássico das Satélites” – jornal gosta é de novidade.

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