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Histórias da Bola
Histórias da Bola

O bom de copo da Copa

Sócrates dizia jogar bem por molhar o pescoço por dentro

Gustavo Mariani

10/10/2020 8h00

Atualizada 11/11/2020 16h19

Em 1982, o então meia-atacante Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira, um dos principais craques brazucas da década-1980, integrava a maravilhosa seleção montada pelo treinador Telê Santana, que encantou, mas não ganhou a Copa do Mundo disputadas na Espanha.

Após Brasil 4 x 0 Nova Zelândia (26.06), escolhido para o exame antidoping, Sócrates não conseguia fazer xixi. Bebeu todas as cervejas que o médico responsável pela coleta tirou de uma geladeira, ficou tonto (estava seco há três meses, só treinando) e, por demorar tanto a resolver aquele lance, a turma do escrete canarinho esqueceu dele e foi embora.

Sócrates era craque na bola e no copo de cerveja. Aquela foi das poucas vezes em que ele e a loira gelada não tabelaram legal, namoro começado quando ele ainda era garoto e o seu pai, um cearense, servia um copinho da bebida para quem estivesse à mesa para o almoço.

Ídolo da torcida do Corinthians, entre 1978 a 1984, pelas grandes 265 partidas disputadas, marcando 172 gols e conquistando cinco títulos, Sócrates mantinha relação cultural com a cerveja. Primeiramente, por lembra que na quente Ribeirão Preto, onde fora criado, desde os seis de idade, ninguém do seu tempo convidava alguém pra beber um cafezinho, mas uma cervejinha.

Uma das maiores inteligências do futebol brasileiro oitentista, graduado em Medicina, o chamado “Doutor Sócrates” tinha a cerveja por elemento agregador, potencializador de liberdade, redutor de dificuldades de socialização, de restrições individuais e de timidez. Um contraponto de isolamentos vividos por pessoas.

No entanto, não convidassem o Sócrates para uma cervejada em local sofisticado. Preferia os botecos-povão, por vê-los permitindo rolar papos mais interessantes, mais livres de preconceitos.

Certa vez, um amigo evangélico disse pra ele: “Só (Jesus) Cristo salva”. Respondeu: “Para mim, só a cerveja liberta, por ter relação direta com a liberdade e a simplicidade. Ao seu ver, para ser alegre, amante da liberdade, o brasileiro contava com duas grande paixões: futebol e cerveja, colocando música no meio.

Depois que parou de jogar futebol – foi profissional, de 1972 a 1989 -, Sócrates foi pouco aos estádios. Porque cerveja neles teve venda proibida. Se recusava a comparecer onde algo fosse proibido. Mesmo amando-a tanto, ela não a proclamava mestra do mundo. Dizia que a cerveja passa liberdade, mas não ensina nada. No máximo, “permite aos seus consumidores dividirem os respectivos aprendizados, ou fazendo pessoas passarem de alunos a professor, falando com propriedade absoluta, a depender do grau alcoólico atingido”.

Cervejeiro fiel, Sócrates dispensava vinho, uísque, o que pintasse. Durante a época – 1984 a 1985 – em que disputou 29 jogos e marcou nove gols para a italiana Fiorentina, ele compareceu a um show de uma cantora brasileira, em Firenzi, mas não houve como lhe fazerem beber nada, pois não havia uma cervejinha no pedaço. Se viraram e colocaram um isopor cheio da “preferida” em sua mesa. Não podiam deixar o craque mais famoso da Viola (por usar camisa no tom violeta) ir embora.

Sócrates foi embora deste planeta, em 2011, aos 57 de idade. Media 1m92cm de altura e passou, também, por Flamengo – de 1985 a 1987, por 29 partidas e cinco tentos – e Santos – 1988 a 1989, com 46 prélios e 14 bolas nas redes. Pela Seleção Brasileiras, entre 1978 a 1986, foram 62 serviços e 25 alegrias da galera.

Quando estudava Medicina, Sócrates não tinha tempo para treinar. Jogava com colegas melhores preparados fisicamente, mas aparecia muito mais, devido a criatividade dos seus lances. Afirmava que aprendera a atuar com mais leveza graças aos copos de cerveja que molhavam o seu pescoço por dentro – se foi verdade, taí a receita do “Doutor” para forjar craques.

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