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Histórias da Bola
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 DAS CANCHAS ÀS URNAS

Atletas e cartolas costumam usar o futebol para tentar sucesso na carreira apolítica

Gustavo Mariani

21/07/2024 10h28

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Foto: Eva Marie Uzcategui/AFP

É muito comum, no Brasil, pessoas com pretensões político-partidário buscarem o futebol pra ficarem conhecidas do povão e chegarem a cargos públicos eletivos. Facilmente, formamos um time, de vereadores a senadores: Danrley (Grêmio-RS); Nelinho (Atlético-MG), Macalé (Goiás), Wilson Piazza (Cruzeiro) e Delei (Fluminense); Toninho Cerezo (Atlético-MG), Biro-Biro (Corinthians) e Bobô (Bahia); Túlio Maravilha (Botafogo), Bebeto (Flamengo) e Romário (Vasco da Gama).

Na Comissão Técnica, teríamos Athiê Curi (Santos), Márcio Braga (Flamengo), Eurico Miranda (Vasco da Gama), Zezé Perrela (Cruzeiro), Andrés Sanchez (Corinthians), Osório Villas Boas (Bahia), Luís Estevão (Brasiliense) … e chega! Se bem que nesse time entrariam, ainda, José Maria Marin, Maguito Vilela e Fernando Collor, este assunto para uma outa coluna. O primeiro deste grupo cartoleiro foi ponta-direita do São Paulo e vice de Paulo Maluf, assumindo o governo paulista-1982/1983 quando o outro saiu para disputar vaga à Câmaras federal; Maguito foi atleta e dirigente da Jataiense-GO e vice-presidente da Confederação Brasileira de Futebol-CBF. Chegou a senador-1999/2007 e a 72º governador de Goiás-1995/1998. O Garotinho governou o Rio de Janeiro-199/2002, eleito com a grande ajuda da fama como locutor esportivo.  

 Fora do Brasil  já tivemos, também, “gente das canchas” no jogo político-partidário. Para citar poucos, o polonês Grzegorz Lato (autor do gol de Polônia 1 x 0 Brasil na Copa do Mundo-1974) tornou-se senador-2001. O mesmo cargo foi conseguido pelo belga Marc Wilmots-2003, que enfrentou o Brasil na Copa do Mundo-2002, e o liberiano George Weah-2014. Este, no entanto, foi eleito presidente de seu pais e governou de 2018 ao último 22 de janeiro deste 2024, único ex-atleta a conseguir o feito.

 Há porém, dois ex-cartolas que chegaram ao cargo político máximo em seus países: Silvio Berlusconi, primeiro ministro das Itália, em três oportunidades – 1994/1995; 2001/2006 e 2008/2011 – e Maurício Macri, presidente da Argentina. Somando os seus nove anos de comando político, Berlusconi foi o italiano a mais tempo permanecer no cargo pós-II Guerra Mundial, e terceiro com mais tempo desde a unificação da Itália. Só perde para Benito Mussolini e Giovanni Giolitti, liderando políticos de centro-direita, desde 1993. Para isso, ele comandou o clube futebol Milan, por 31 temporadas, levando-o à conquista de 29 troféus e a ser o maior vencedor mundial durante sua gestão.

 Mais adiante em sua vida política, Berlusconi foi considerado um néo-liberal, por conta de leis polêmicas, como blindar primeiro-ministro, presidente da república e das duas câmaras parlamentares. Também, enfrentou acusações de ligações com a Máfia e escândalos sexuais. Em 2013, chegou a ser condenado a sete anos de prisão e, em 2015, a mais três. Escapou de todas e, 2023, de mais outra. Pouco depois, foi embora desta vida, estragando a popularidade que o Milan lhe deu, levando com ele história de populismo antidemocrático, ameaçador da democracia.

 Aqui pertinho, na Argentina, um cartola do futebol chegou à presidência da república, mas não brilhou como no comando do Boca Junior, que levou à conquista de seis campeonatos nacionais- 1998/1999/2000/2003/2005/2006; de duas recopas Sul-americanas-2005/2005; de duas Copas Sul-Americanas- 2004/2005;  de quatro Taças Libertadores das América-2000/2001/2003/2007 e de dois Mundiais Interclubes-2000/2003.

Eleito 50º presidente da Argentina, entre 2015/2019, Maurício Macri deveu muito o seu cargo repulicano à torcida do Boca Juniors, que presidiu, de 1995 e 2007. Com o prestígio por tantos título, em 2007, ele foi eleito prefeito de Buenos Aires, com 61% dos votos no segundo turno. Só não contou com o voto do pai, Franco Macri, um dos homens mais ricos do país e que o considerava péssimo administrador. Tanto que o afastou do cargo que lhe dera em suas empresas. Para ele, o sucesso do Boca Juniors passava pelos assessores do filho, o que não seria difícil de crer, pois, em sua vida parlamentar, o que o Maurício menos fez foi comparecer ao parlamento, para ser considerado sujeito preguiçoso. Mesmo assim, a torcida do Boca o reelegeu prefeito.  E, depois, uma coligação de direita o fez presidente dos argentinos, em 2015, quando ele se dizia candidato de centro. Recentemente, de 17 de dezembro de 2023, o atual presidente da Argentina, Javier Milei, foi votar nas eleições do Boca Juniors, que tinha Macri, novamente, querendo cargo na diretoria, desta vez de vice-presidente. Ao vê-lo junto com o Macri, pobre do Milei! Teve de sair correndo, vaiado e xingado pelos torcedores que não apoiavam mais o antigo-presidente Macri, vencido pelo antigo meia Riquelme, com 65% dos votos (1% nulos).

A eleição do Boca que derrotou as chapa Andrés Ibarra-Mauricio Macri  contou com o apoio de 43 mil sócios, fazendo dela a segunda maior na história do futebol mundial, perdendo apenas para o pleito à presidência do espanhol Barcelona, em 2010, quando 57 mil sócios-eleitores compareceram às urnas. No Boca, Macri só conseguiu 34% dos votos. Culpa de um governo presidencial considerado medíocre. Assim não há torcedor que aguente.

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