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Cinema com ela
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“Nós”: a maior odisséia do terror atual

Arquivo Geral

21/03/2019 12h00

Atualizada 29/03/2019 0h15

A premissa parece ter surgido dos filmes de terror slasher oitentista: férias de verão, família unida e uma casa. Todos esses elementos seguidos de uma invasão domiciliar e sangrenta em que os próximos minutos de película serão perpetuados apenas por perseguições. Porém, todas essas particularidades do terror clássico são subvertidas quando os invasores são pessoas idênticas a família atacada. No trailer de Nós, novo filme de Jordan Peele que estreia nos cinemas nesta quinta-feira (21), é perceptível que se trata de uma singularidade do terror moderno.

A premissa clássica às avessas: família, férias e invasão sangrenta. Foto – Divulgação

Nasce um mestre

Jordan Peele, diretor de Nós, se tornou uma das maiores promessas do terror hollywoodiano em 2017 com Corra! graças ao debate complexo sobre racismo, fundidos com terror absurdo e humor implacável. Naquele ano, Peele ascendeu como um grande realizador de horror americano. Porém, se a história já contou algo antes é que sempre existe aquela estrela de um brilho só, ou seja, que consegue apenas um sucesso na sua carreira inteira, como Donnie Darko, de Richard Kelly. Felizmente, sua nova obra, Nós, derrama bastante sangue e emoção o suficiente para provar que Peele não é mais uma promessa. É um grande mestre do terror.

Jordan Peele em Corra! Foto – Divulgação

Por que mestre?

ATENÇÃO: SPOILERS ABAIXO

A primeira cena de Nós é feita de plano aberto (com o objetivo de trazer detalhes ao espectador), onde a pequena Addy brinca para conseguir sua recompensa em um parque de diversões. Se existe um fator que Alfred Hitchcock ensinou e Peele soube usar com esmero neste filme é: prenda a atenção do espectador agora no príncipio, antes que seja tarde. Toda a construção da cena é composta na percepção da personagem mirim. Os sons são muito inéditos, as luzes são muito atraentes e o curioso é sempre mais sedutor que o rotineiro. E é assim que Peele vai carregar o filme, do detalhismo ao sensorial.

Foto – Divulgação

Com detalhes que são importantes para a trama e adereços sensoriais que são importantes para o ritmo, o espectador é emergido em um filme em que as duas coisas são intercaladas: o silêncio em que a sonoplastia molda o ritmo do filme ou a exaltação sonora, de modo intenso. E, em poucos momentos, o sarcasmo já visto em Corra! é explícito em tela.  Como, por exemplo,  quando  a personagem de Elizabeth Moss grita para a assistente virtual da sua casa “Call the Police” e o dispositivo entende a música “Fuck The Police”, de NWA.

Existe o debate sobre racismo?

Todos os elementos que fizeram de Corra! um clássico instatâneo estão todos aqui: o violento sútil, o humor depreciativo e a atmosfera infernal. Porém, apenas um está ausente ou de modo indireto. Talvez Peele não tenha colocado em pauta o racismo, mas faz questão do heroismo de seus protagonistas negros. Mesmo assim, o cineasta faz questão de enfatizar a América como um lugar estranho para viver. Se ele traz acusões sobre qualquer tipo de opressão, essa interpretação surge do espectador. Trazendo ainda uma alegoria ao perfil do americano, com consciência dupla, ora bondosa, ora perversa.

Estrela de ouro. Lupita em Nós. Foto – Divulgação

Desde 2012, o terror americano tem ganhado excelentes revisões técnicas e visuais. Mesclando elementos do cinema de arte com o despretensioso. Todo o esforço, carinho e talento depositado por Jordan Peele faz de Nós uma experiência única, impressionante e singular. Ironicamente, são termos classificados como sinônimos de odisséia. Um terror moderno perfeito.

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