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Inclusão E-sports: o maior projeto social de esports do DF segue mudando a vida de jovens e adolescentes

Entre controles, sonhos e oportunidades, iniciativa nascida na periferia do DF transforma videogame em ferramenta de educação, inclusão e futuro

Karol Scott Lucena

13/12/2025 10h54

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Foto: Divulgação

A discussão eterna sobre videogames já virou praticamente patrimônio cultural do Brasil. Sempre tem aquela pessoa que jura que jogar faz bem para o cérebro e outra que garante que vai derreter neurônio. Mas quando aparece um levantamento como o PGB, a Pesquisa Game Brasil, mostrando que três em cada quatro brasileiros se consideram jogadores, fica impossível tratar o assunto como algo de nicho. Games estão na nossa rotina tanto quanto maratonar série ou rolar o feed do celular.

E esse universo gigante traz um monte de efeitos bacanas que passam despercebidos. Jogar melhora reflexo, raciocínio rápido e coordenação, além de colocar a galera para trabalhar em equipe, mesmo que às vezes isso termine em uma discussão no chat. No ensino, então, o impacto é enorme. Muita gente aprendeu inglês decifrando diálogos de RPG sem nunca ter pisado em um curso. Além disso, estudos mostram que algumas horas de jogo podem aumentar o bem-estar e aliviar o estresse, desde que tudo seja usado de forma equilibrada.

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Foto: Divulgação

Enquanto isso, a indústria cresceu a ponto de virar uma das maiores do entretenimento. A evolução da tecnologia, consoles mais potentes, jogos cada vez mais elaborados e um mercado bilionário mostram o quanto o setor se tornou parte relevante da economia mundial. Mas o encontro mais interessante acontece quando toda essa inovação se junta a iniciativas sociais.

É aí que o Inclusão E-sports entra na história. O projeto nasceu em 2022, em Ceilândia, dentro da Expansão do Setor O, e se tornou um centro de treinamento de 1.500 metros quadrados dedicado a formar atletas de esports. Com professores, profissionais e uma equipe de 17 pessoas, o espaço já impactou a vida de cerca de 4 mil jovens da periferia do Distrito Federal. Para muitos deles, é o primeiro contato com computadores potentes, um ambiente seguro e orientação profissional.

O mais curioso é que o Inclusão não veio de uma ideia institucional. Veio de um sonho de três amigos que compartilhavam a mesma vivência. Wilker, idealizador do projeto, lembra que o ponto de partida era pura vontade. Ele conta que “o Inclusão E-Sports era um sonho. Eu e dois amigos, todos jovens de periferia, nos encontrávamos todos os dias para planejar e, literalmente, sonhar com o projeto”. Hoje, ver o centro cheio é quase uma recompensa pessoal. “Vê-lo tomando forma e atingindo tantos jovens me traz uma sensação de realização enorme. Além do peso e da responsabilidade que é cuidar de tantos alunos e colaboradores”.

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Foto: Divulgação

Desde o começo, o grupo queria um espaço realmente aberto para todos. Wilker faz questão de reforçar isso. “Quando construímos o projeto, era uma prioridade que ele fosse totalmente acessível, tanto em questões de gênero quanto em limitações do espaço para pessoas com deficiência”. Para ele, inclusão não é enfeite no nome. É prática.

E quando se fala em momentos marcantes, a lista é grande. Um deles envolve algo tão cotidiano quanto urgente. “Um dia uma mãe ligou me agradecendo porque o filho havia ganhado o campeonato e, naquele dia, haviam ganhado o dinheiro para comprar o gás”. Outra situação foi “quando recebemos um aluno surdo, que pôde participar das aulas junto com os demais, sem nenhum tipo de discriminação”. São episódios que deixam claro o quanto um projeto de esports pode alcançar além das telas.

A relação com os pais também mudou bastante. Muitos chegam com preconceitos antigos, acreditando que videogame atrapalha o futuro. Mas a convivência dentro do projeto costuma virar essa chave. “Alguns pais têm muito preconceito, mas quando observam as possibilidades de mudança de vida dos adolescentes e jovens, costumam mudar o pensamento”. Wilker lembra de um caso emblemático. “Na primeira edição, tínhamos um aluno cujo pai tinha muita resistência, mas depois do primeiro campeonato com premiação, ele passou a levá-lo todos os dias”.

Para manter um espaço desse tamanho funcionando, é preciso apoio contínuo. Hoje, o Inclusão E-sports conta com ajuda da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do DF e também de emendas parlamentares, entre elas a do deputado João Cardoso, que entende bem o impacto do esporte eletrônico por ter um filho jogador profissional de PUBG.

Quando tudo isso se junta, fica fácil perceber que videogame não é só passatempo. É porta aberta. É ferramenta educacional. É espaço de comunidade. E quando uma iniciativa como o Inclusão E-sports nasce no meio da periferia e vira motivo de orgulho, dá para ver o quanto um controle pode mexer com a vida das pessoas.

O jogo muda para o jovem, muda para a família e, no fim, vira transformação para a comunidade inteira. É tecnologia com propósito, construída na base do sonho e mantida com trabalho diário. Uma prova de que talento está espalhado por aí, só esperando uma chance de se mostrar.

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