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Gigantes afundaram pela ganância e indies cresceram pelo amor aos games

O TGA de 2025 pode ter um jogo indie vencedor e isso pode mudar tudo na indústria de jogos

Karol Scott Lucena

08/12/2025 15h39

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Foto: Reprodução

Todo ano a gente espera pelas indicações de Jogo do Ano no The Game Awards. E, por muito tempo, não havia surpresa nenhuma. A lista era dominada quase exclusivamente por jogos de grandes estúdios, aqueles com orçamento astronômico e campanhas de marketing capazes de soterrar qualquer concorrente menor. De vez em quando aparecia um indie corajoso no meio dos gigantes, quase como exceção.

Essa era a regra. Estúdios como Ubisoft, Bethesda, Rockstar e companhia comandavam o cenário, enquanto os estúdios independentes ficavam à margem, não por falta de talento, mas por falta de acesso à tecnologia, investimento e visibilidade. No Brasil, a distância era ainda maior. Aqui, videogame sempre foi caro demais. Console caro, jogo caro, periférico caro. Tudo conspirava para manter o público e os criadores brasileiros longe desse clube de elite.

Mas o jogo virou. Hoje vemos Hades 2, Silksong, Expedition 33, Kingdom Come Deliverance 2 e tantos outros títulos independentes dominando espaço, ganhando indicação e conquistando público. A hegemonia dos AAA despencou, e os gigantes, antes incontestáveis, agora são minoria. Mas o que causou essa virada? A resposta é simples e desconfortável: ganância.

Durante anos, grandes estúdios sacrificaram profundidade para apostar em projetos mais rasos, fáceis de entender e fáceis de monetizar. Encheram seus jogos de microtransações, serviços online e decisões pensadas mais em acionistas do que em jogadores. E quando a comunidade reclamou, a resposta veio carregada de arrogância. Ignoraram críticas, debocharam e culparam o público. A confiança, que já estava rachando, quebrou de vez. Foram tantas declarações absurdas que parecia piada pronta.

Enquanto isso, a tecnologia avançava. Ferramentas ficaram mais acessíveis, motores mais poderosos e plataformas como Steam abriram portas. Pequenos times passaram a criar jogos com qualidade de cinema, sem ter que se ajoelhar para investidores. Jogavam limpo, ouviam a comunidade, ajustavam o que precisava e criavam com paixão. Esse cuidado começou a aparecer nos resultados.

Enquanto um AAA chega por 350 reais em um jogo feito às pressas, cheio de concessões e decisões corporativas, um indie chega custando uma fração disso e entrega inovação, identidade e carinho. No Brasil, onde cada real pesa, isso muda completamente a realidade. Os indies deixaram de ser alternativa e viraram caminho, refúgio e porta de entrada para quem ama games, mas não consegue acompanhar a escalada absurda dos preços.

É exatamente por isso que eles estão ganhando o coração dos jogadores. Eles escutam, arriscam, inovam e não tratam o público como número em planilha.

É então que percebemos que essa tendência só vai crescer. Cada vez mais desenvolvedores que cresceram jogando clássicos profundos, e que hoje veem esses mesmos clássicos serem transformados em produtos genéricos, decidiram assumir o volante. Cansaram de esperar pelas sequências que nunca virão porque não dão lucro suficiente. Então fazem eles mesmos. Na casa deles, em equipes minúsculas, com ajuda dos fãs. E entregam obras que fazem muito AAA ficar para trás. Clair Obscur prova isso, e Kingdom Come Deliverance 2 deixou claro que RPG profundo continua funcionando e sempre vai funcionar.

Se os gigantes quiserem sobreviver, o caminho é óbvio. Ou voltam a ouvir seus jogadores, devolvem identidade às suas franquias e criam com paixão, ou vão desaparecer enquanto os indies ocupam o espaço que eles abandonaram.

O que estamos vendo agora não é acidente, não é coincidência e não vai parar. É a ascensão dos independentes e a queda de quem esqueceu por que começou a fazer videogame um dia.

Para nós aqui do Brasil, essa virada não é só histórica. É esperançosa. Mostra que a indústria está voltando a ser sobre criatividade, comunidade e amor pelos games, e não apenas sobre quem tem o maior orçamento.

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