A cena ocorrida no Santiago Bernabéu, durante o jogo entre Real Madrid e Sevilla, expôs mais do que um simples gesto de insatisfação à beira do campo. Aos 82 minutos, Vinícius Júnior foi substituído e deixou o gramado visivelmente contrariado. Pouco depois, as câmeras de televisão flagraram a reação do presidente Florentino Pérez, que, pela leitura labial, questionou de forma direta quem estava ao seu lado: por que ele foi substituído?
A decisão foi do técnico Xabi Alonso, que vem acumulando episódios de atrito com o atacante brasileiro. Vinícius tem sido retirado de campo em momentos importantes, reage mal às substituições e demonstra incômodo constante. O que começa como uma escolha técnica passa rapidamente a ganhar contornos políticos, algo recorrente na história do clube.
O episódio recente não é um fato isolado. Ele ecoa um conflito antigo e emblemático do próprio Real Madrid, também sob a presidência de Florentino Pérez. Exatamente 20 anos atrás, o clube viveu situação semelhante durante a passagem de Vanderlei Luxemburgo pelo comando técnico.
Luxemburgo, único treinador brasileiro a dirigir o Real Madrid, teve uma trajetória curta e turbulenta. Em menos de 50 partidas, percebeu que o problema não estava apenas no campo. Em entrevista recente, ele relatou que seu desgaste começou quando passou a tomar decisões consideradas inaceitáveis pela cúpula do clube, especialmente ao substituir estrelas em jogos decisivos.
Em uma vitória apertada contra o Getafe, com um jogador a menos após a expulsão de Beckham, Luxemburgo tirou Ronaldo nos minutos finais para segurar o resultado e seguir na perseguição ao Barcelona. A torcida reagiu com protestos, e o presidente desceu da tribuna para cobrar explicações ainda no túnel de acesso aos vestiários.
Segundo o treinador, Florentino deixou claro que, no Real Madrid, não basta ganhar. É preciso oferecer espetáculo ao torcedor, que paga para ver os craques em campo. Luxemburgo respondeu que sua prioridade era vencer partidas e disputar títulos. O desfecho foi rápido. No dia seguinte à discussão, Luxemburgo foi demitido.
Duas décadas depois, o roteiro se repete com novos personagens, mas com a mesma lógica. O presidente demonstra desconforto quando uma estrela é retirada de campo. O treinador insiste em decisões técnicas que contrariam o imaginário do espetáculo. E o jogador, agora Vinícius Júnior, expõe publicamente sua insatisfação.
No Real Madrid, o conflito entre resultado e entretenimento nunca foi totalmente resolvido. A pergunta feita por Florentino Pérez no Bernabéu não se limita a uma substituição aos 82 minutos. Ela revela, mais uma vez, um fantasma antigo que insiste em rondar o clube.