O episódio envolvendo o presidente do Clube de Regatas do Flamengo, Luiz Eduardo Baptista, conhecido como Bap, e a jornalista Renata Mendonça, da TV Globo, precisa ser relembrado com precisão antes de qualquer juízo mais amplo. Não houve ruído, edição fora de contexto ou interpretação forçada. Houve uma declaração direta, feita durante uma reunião oficial do clube com sócios e conselheiros, ao comentar críticas relacionadas ao baixo investimento no futebol feminino.
Na ocasião, Bap afirmou: “Tem aquela nariguda da Globo que fica falando mal da gente, dizendo que o futebol não estimula. Dá vontade de falar: ‘Filha, convence a sua empresa a investir 10 milhões, 20 milhões por ano em direitos de transmissão que a coisa fica melhor. Somos nós que pagamos as contas’”. A fala deslocou o debate do campo esportivo e administrativo para o ataque pessoal, com um tom claramente ofensivo e misógino, incompatível com o cargo que ocupa.
A repercussão foi imediata. Profissionais do jornalismo esportivo manifestaram solidariedade à jornalista atingida e condenaram o teor da declaração. Houve manifestações de colegas, comentaristas, apresentadores e ex-jogadores, todos apontando o mesmo limite: crítica é parte do jogo democrático, agressão pessoal não é. Ainda assim, a resposta mais forte não veio de indivíduos, mas da própria Globo.
Em posicionamento oficial, a emissora repudiou o ataque gratuito e misógino do dirigente do Flamengo contra uma de suas profissionais e reafirmou seu respeito às mulheres e às opiniões críticas, desde que não ofendam ou insultem ninguém. Ao se manifestar institucionalmente, a Globo deixou claro que o ponto central não era a divergência sobre financiamento ou audiência do futebol feminino, mas a forma escolhida pelo presidente do clube para reagir a uma crítica legítima.
É nesse contexto que emerge o problema central: a soberba. Soberba não é apenas arrogância ocasional ou excesso verbal. É a crença de que o poder do cargo autoriza o desrespeito, de que a posição hierárquica coloca alguém acima do contraditório e de que críticas podem ser neutralizadas por meio da intimidação. É quando o debate deixa de ser racional e passa a ser pessoal.
No futebol, especialmente em clubes do tamanho do Flamengo, a soberba costuma cobrar um preço alto. Ela afasta o diálogo, isola a gestão e transforma questionamentos normais em crises desnecessárias. Presidentes passam, mandatos acabam, mas episódios assim permanecem como retratos de uma condução que confunde autoridade institucional com licença para ofender.
Neste caso, o maior problema do presidente do Flamengo não foi discordar da imprensa ou defender os interesses do clube. Foi a soberba. E a história mostra que, no esporte e fora dele, esse traço raramente termina bem para quem o cultiva